segunda-feira, 21 de setembro de 2015

memória: quem a tem?

Em 1956, a Hungria vivia um dos seus períodos históricos mais conturbados.
Na sequência do processo de desestalinização, promovido pelo então novo líder soviético Nikita Kruschtchev, que subira ao poder após a morte de José Estaline, o ano de 1956 ficaria marcado por tumultos em Budapeste levados a cabo no sentido de democratizar o regime político e de liberalizar as práticas religiosas e culturais num país ocupado, desde finais da 2ª Guerra Mundial, pela União Soviética (URSS) e satelitizado no contexto da divisão ideológica do mundo da Guerra Fria. A Hungria era um dos países "reféns" da famosa "cortina de ferro" pela toda-a-poderosa Rússia comunista.
Milhares de húngaros (e não só...) tentaram abandonar o leste (alguns conseguiriam), usando Berlim como porta de entrada numa vida mais esperançosa e digna. Receando a má imagem que as vagas migratórias de populações do leste para o ocidente teria nas idiossincrasias do regime de Moscovo, a linha dura/ortodoxa do Partido Comunista da URSS pressiona o líder Kruschtchev para que o Exército Vermelho entrasse em Budapeste, pondo fim aos "perigosos" desvios ideológicos para com a nomenclatura soviética.
Em 1961, e na senda de diversas crises diplomáticas entre Washington e Moscovo relativas ao estatuto de Berlim, Kruschtchev ordena o encerramento da última ponte de diálogo entre os dois blocos antagónicos: o Muro de Berlim estancou as vagas migratórias de gente desesperada e impaciente por fugir da opressão soviética. Durante 28 anos,  a fronteira de arame, betão, minas e torres de vigia simbolizou a opressão e a divisão de uma Europa dividida pela esquizofrenia de uma Guerra Improvável, Paz Impossível.
Muitos conseguiram atravessa-lo. Outros tantos tentaram. Mas muitos também acabariam por ali ficar. Muitos eram húngaros e sabem bem o que representa o flagelo da falta de liberdades fundamentais. Ou deveriam saber.


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Cidades-fantasma na China

Incrível o documentário que acabei de assistir no programa 60 minutos da SIC Notícias!
Não nos apercebemos mas, não tarda, voltaremos a assistir a uma nova bolha de especulação imobiliária, desta feita, na República Popular da China.
Nos últimos anos o mercado imobiliário foi visto pelos analistas financeiros como o principal motor propulsor da economia do gigante asiático.
Construiu-se e voltou-se a construir, com base numa especulativa ideia de que o mercado da aquisição de propriedades era o melhor investimento. Resultado? Bom, imaginem cidades à escala chinesa (com capacidade para um milhão de habitantes) inabitadas, em zonas remotas e vazias a lembrar as cidades-fantasma do Velho Oeste dos tempos da garimpagem.
O que é mais curioso é o facto dessas habitações (cerca de um milhão de habitações e serviços) estarem todas vendidas! A bolha especulativa, alimentada pela crença no dinamismo do mercado imobiliário chinês, está neste momento a pairar como uma negra nuvem que, mais tarde ou mais cedo, fará as primeiras vítimas. 
É incrível o que se construiu! Mercado de luxo em que, de forma a atrair compradores, se afixaram falsos placards anunciando lojas de marcas como a Starbucks, Apple, Dolce & Gabana, entre outras, como forma de atrair compradores.
Estas cidades, como é o caso de Kangbashi na Mongólia, foram a resposta que o Estado chinês deu, em 2008, ao alastramento da crise financeira mundial. Assim, e dentro da lógica do capitalismo de  Estado (doutrina política económica levada a cabo pelas autoridades chinesas desde os tempos do pós-maoismo), tentou-se combater a crise económica através do incentivo ao mercado de habitação - convém recordar que a bolha especulativa se iniciou com as previsões da Moody's (sim, esses...) ao afirmarem que, até 2020, metade da população chinesa habitaria em cidades modernas, construídas do zero...sob direção central por parte do Estado chinês.
Estas cidades fantasmas não foram feitas para todos, tão pouco para uma classe média pois essa é praticamente inexistente. 
Numa China politicamente defensora de um socialismo de mercado (ou de um capitalismo de estado), as classes mais altas são as únicas que podem adquirir estas fantasmagóricas e vazias casas que compõem estes desertos de betão. Para os restantes (e que são a maioria), resta-lhes continuar a profanar o que resta das suas antigas casas, demolidas para que se pudesse construir estes elefantes brancos com olhos em bico, para habitar numa rude e desumana barraca.


CLIQUEM AQUI

domingo, 18 de agosto de 2013

A montanha que pariu umas portas

E no fim de tudo isto...um partido que reuniu cerca de 11,7% dos votos passa a governar o país.

televisionices

O memorando de entendimento assinado pelos partidos do arco do poder com as três instituições internacionais tornou-se, em cerca de um ano, numa espécie de lei divina irrevogável.
Foram diversas as vezes em que me pronunciei sobre a inevitabilidade daquilo que estamos neste momento a passar: desemprego, recessão, rutura da coesão social e um profundo desânimo coletivo. Não há dia em que não nos interrogamos acerca da eficácia, a médio/longo prazo, de tudo isto que nos é imposto. Reforço ainda a ideia de que o pior ainda não veio e nós, os portugueses, ainda não tomámos plena noção do que se passa.

Gastámos durante anos a fio aquilo que não tínhamos (ou o que nos era emprestado); quisemos recuperar, em 25 anos, quase um século de atraso socioeconómico; fomos seduzidos pela ideia do novo-riquismo e, por fim, fizeram-nos acreditar que ser da Europa seria obrigatoriamente sinal de prosperidade.
Concordo com as palavras do primeiro-ministro quando este afirma que vivemos acima daquilo que podemos e andámos anos a desbaratar aquilo que nos parecia dado de bom grado. Uma racional, dolorosa e fria conclusão.

Ontem surgiram os primeiros rumores relativos ao processo de privatização da televisão estatal.
A figura de António Borges vem à baila como o grande estratega para o processo de privatização de uma série de empresas e organismos estatais, em que se inclui a RTP. A ideia é, ao que parece, entregar a televisão estatal a uma entidade privada e subsidiar o serviço público de televisão. O canal 2 será, ao que  parece, desligado.
E assim, após o apagão do sinal analógico em todo o território nacional, em que tantos cidadãos foram obrigados a adquirir o recetor de TDT, um dos quatro canais abertos é extinto. Um outro não se saberá bem ao certo o que será. Para o governo, o segundo canal não é viável. O primeiro custa demasiado.
Ainda hoje não percebo o que significa "serviço público de televisão".





segunda-feira, 6 de agosto de 2012

eu, coelho, me confesso

Passos Coelho está prestes a celebrar o seu primeiro ano como primeiro-ministro.
Há um ano, em plena campanha, Passos garantia que (a sua) linha de orientação para atacar os problemas financeiros que Portugal apresentava (e apresenta) não passariam pelo aumento da receita extraordinária, mas sim pela redução do despesismo. As "gorduras", como ele apelida frequentemente a exagerada despesa do Erário Público.
Há pouco mais de um ano, Passos Coelho levou à demisão de José Sócrates por não aprovar um Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC, o IV) que, segundo o então líder da oposição, não terá sido previamente apresentado em sede parlamentar para debate entre as diversas forças partidárias. Outra das razões para este não alinhamento com Sócrates terá sido o facto de a receita do mesmo diploma apresentar uma receita fiscal que, segundo Passos, se tornaria incomportável para um país já massacrado (reparem na tónica melodramática utilizada) por tanta carga fiscal.
Há pouco mais de um ano, Passos falava de transparência e rigor na forma como a política deveria ser feita em Portugal, criticando, aliás como têm feito tantas vezes os vários líderes laranjas enquanto estavam na oposição, as manobras de marketing, propaganda e manipulação da realidade do governo Sócrates.
Há cerca de um ano, Passos assumia uma rutura com a recente história política.

Um ano depois, sensivelmente, Passos demonstrou que a receita por ele utilizada é pouco ou muito mais do mesmo: uma escalada na subida de impostos; cortes salariais e nas prestações sociais; desinvestimento. Passos, que se apresentou ao eleitorado como um lobo em pele de coelhinho, pôs em ação toda a sua veia ideológica neoliberal. Não sou contra o neoliberalismo mas entendo que, se não houver um equilíbrio (e aqui o papel do Estado é decisivo) entre o que o Estado pode e deve fazer e onde deve intervir juntamente com a libertação da iniciativa individual, corremos o risco de vermos agravar os profundos desequilíbrios tão evidentes na nossa estrutura socioeconómica. Concordo que o despesismo deve ser, de vez, estancado. Concordo com o primeiro-ministro ao dizer que vivemos décadas acima das nossas reais possibilidades. Mas lembre-se, senhor primeiro-ministro, Portugal, há 25 anos, foi bajulado pelo El-Dorado da comunidade europeia. Sucessivos governos e think-tanks cá do burgo andaram a apregoar ao consumismo...a recuperar épocas perdidas...a corrermos loucamente de forma a ombrearmos com o nível de vida e padrões socioeconómicos de uma Europa pós-moderna.
Apelaram para que nos endividássemos a comprar casas pois seria um investimento de futuro. Queimaram-se girassóis. Destruiram-se toneladas de fruta e leguminosas... o peixe nas nossas águas foi parar a outros quadrantes e a indústria "desindustrializou-se". Em prol de subsídios, fundos de apoio e fundos estruturais que o atual presidente, então primeiro-ministro, esbanjou em quimeras de betão e consórcios cervantescos.

Senhor primeiro-ministro: a receita da troika poderá funcionar nas sebentas e manuais de economistas proeminentes da escola de Chicago. Daqueles que têm fórmulas académicas polvilhadas de gráficos, tabelas e receituários próprios de qualquer tese de doutoramento que se preze. Falamos de economia real. Daquela com que o comum olha, com imensa frustração, para dentro da sua carteira ou para o saldo da sua conta bancária. E nisso, senhor primeiro-ministro, não há cá teorias mágicas que ajudem a melhorar. Eu sei que a sua base ideológica fala na competitividade, no crescimento. Eu ainda não entendi bem a semântica destes dois fonemas. Talvez deseje que cada pessoa se torne empresário... endividando-se, colocando uma corda ao pescoço e suicidando-se a seguir. Pois assim talvez consiga resolver o problema do desemprego...

O FMI continua a tentar fazer funcionar a sua receita. Cabe agora a Portugal fazer o papel de cobaia neste laboratório de experiências economicistas. Desde 1979 que a instituição supra-nacional procura provar ter razão: a Argentina foi o caso mais emblemático de um feitiço que se virou contra o feiticeiro. 
O desprezo pelas realidades distintas de cada situação levam a que o sentimento anti-FMI/BCE/UE cresça cada vez mais. Pois sabemos perfeitamente que há uem ganhe muito dinheiro com o mal dos outros.
Acreditar que Portugal conseguirá, em 2013, regressar à emissão de dívida pública é demagogia da mais insensata!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

as espirais labirínticas da arte de julgar

Penso que um dos males (senão o maior) do nosso país reside na falta de transparência.
Transparência essa que deveria constituir pedra basilar de um estado que se afirma como democrático. Transparência como condição sine qua non para que realmente um cidadão se sinta integrado e respeitado no seio da sua comunidade.
As leis devem ser claras e não obedecer a espirais maquiavélicas de subterfúgios jurídicos que permitem a que poucos (por uma condição de posse económica) consigam eternizar processos, apoiados em normas judiciais e num código de processo penal lento e ineficaz.
Há dias conversava com um amigo meu que trabalha na área jurídica de uma empresa. Formado em Direito, ele é também advogado pertencente à Ordem, embora não exercendo diretamente a profissão.
Ele falou-me que a justiça tem de ser justa. Isto é, em termos consuetudinários (segundo as tradições de uma sociedade), condenar injustamente é mais complicado do que ilibar, de forma injusta, um arguido.

Realmente, por outras palavras, ouvi ali alguém que percebe do assunto me afirmar que a lei, num Estado de Direito, serve para proteger o bandido (como reza o vernáculo popular) ao invés de defender a vítima.
Julgar não é fácil em democracia. Não nos devemos tornar monstros de forma a combater um monstro. Penso que a lei deve ser clara e evidente, acessível a todos e que seja aplicada com racionalidade. Assim se defende desde Montesquieu e desde a aplicação da Lei da Boa Razão, no postulado pombalino.
O principal problema de um país está sempre na forma como o cidadão olha para a justiça. A inacessibilidade e a burocracia que a envolve enfraquece o devir democrático. Cria perigosa ansiedade e suspeição em seu redor. As provedorias em Portugal são inacessíveis. Os agentes reguladores são meros verbos de encher. E falo por mim que, há cerca de um ano, aguardo um comentário/resposta a uma queixa apresentada ao INCI a respeito de um problema de construção que na minha casa. 

Perante este panorama de anomismo e vazio no acesso à justiça, aparecem os chavões do populismo (que até merecem alguma razão): "Justiça para ricos e justiça para pobres"; "fazer justiça pelas próprias mãos"; "O Ministério da Justiça cria mais injustiça do que justiça".

O poder legislativo, do qual somos todos soberanos, é sinuoso. O legislador, não obstante a ingratidão da sua função, não aparenta qualidade. A lei observa demasiadas exceções que perfilham labirintos legais que permitem a perenização dos processos. O nosso sistema processual é pouco (ou nada) eficaz. Amontoam-se processos. Volta-se atrás e nunca à frente. Prescrições atrás de prescrições. E a ideia da injustiça fortalece-se na opinião pública.

Se calhar o Direito europeu é demasiado conservador. Deveria olhar mais para o anglosaxónico. Talvez. Esta é a discussão que para a qual não me sinto academicamente preparado. Mas a minha visão mantém-se e agrava-se relativamente ao assunto da justiça: fraca, inexistente e incipiente. E se queremos melhor e mais democracia, este seria um setor por onde mais se deveria olhar...

O memorando de entendimento com a TROIKA pressupõe a reorganização do sistema judiciário e a desburocratização da Justiça. Recentemente, a Ministra Paula Teixeira da Cruz afirmou, em abertura do ano judicial, a necessidade de acabar com o dogma da justiça injusta em Portugal. Propõe reformas. Aguardemos. Porque os romanos sempre olharam para uma justiça que não olhasse a classes... (ver imagem)



domingo, 15 de janeiro de 2012

petrograd

Uma obra prima! É assim que adjetivo este livro que acabei de ler!
O título era sugestivo! A capa também! E interessando-me particularmente pelo tema, não hesitei.
"Petrograd" é uma graphic-novel que situa a sua história ficcional na Rússia de 1916-18, período esse em que a guerra devastava e assolava todo o grande império dos czares. Esta é também a época onde descobrimos a ante-câmara da Revolução Bolchevique de 1917. E o melhor ainda... a figura central do místico Rasputine, e a sua influência na malograda família Romanov, que viria a ser executada em 1918 quando na Rússia já se falava num novo modelo de governo: o comunismo.
As jogadas do ocidente de forma a garantir os seus interesses na manutenção da autocracia czarista e, igualmente, a manutenção necessária (para as potências ocidentais) da guerra da Rússia com a Alemanha. 
A força de organizações obscuras... desde a Máfia à Maçonaria. Ficção histórica com elevado grau policial, de intriga e mistério.
Politicamente incorreta dadas as facadinhas alegóricas à política atual que a obra aborda e aprofunda...
Aconselho aos entusiastas da boa banda desenhada.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

eurocéticos

Atentai neste video que reúne algumas das polémicas intervenções do eurodeputado Nigel Farage, do UK Independent Party, entre 2008 e 2011, em pleno Parlamento Europeu.
Para além do eurocepticimo assumido, Farage destaca as fragilidades do sonho europeu que Jean Monet aspirava.





Pontos essenciais:

O euro foi, é e continuará a ser um erro para muitos dos países, incluindo Portugal.
Farage fala de uma Europrisão cujo guarda prisional é a divisa única. É impossível que países como a Grécia, Portugal e Irlanda, consigam estar à tona de água circundados por tubarões como é o caso da Alemanha, França e países do norte europeu. Crises estruturais e seculares justificam isto.
Portugal mantém o seu atraso crónico desde há séculos e, quando teve oportunidade, deixava fugir sempre o pássaro da mão.
A ideia da moeda única seria dinamizar a economia, possibilitando a livre circulação de produtos e capitais no espaço europeu. Cooperação, concorrência saudável e crescimento seriam as divisas emblemáticas que norteariam o mercado único: um país, como a Alemanha, veria assim o culminar de interesses económicos de outros tempos: impor-se como a potência número um no "Velho Continente".
Para um país europeu rico, ou pelo menos produtivo, o euro significaria a machadada final nas velhas e antigas restrições protecionistas e o último dos triunfantes sinais para a abertura de novos mercados. Não neguemos o facto de a entrada de Portugal na Europa comunitária ter sido honrada com generosos préstimos financeiros com o objetivo de fazer recuperar um país amorfo e acabado de sair de um conturbado período revolucionário.
Entrar na Europa foi assumido como desígnio de interesse nacional pelos nossos dirigentes da altura. E hoje ainda o discurso se assemelha ao patetismo de há cerca de 26 anos atrás.

Desígnio nacional. Europa será sinónimo de democracia? A visão megalómana de uma Europa unificada remete-nos sempre para anteriores épocas em que o imperialismo dominava as tendências das diversas chancelarias. Mesmo o antigo império romano (que terá sido o que mais se aproximou de uma ideia de Europa unificada e centralizada) enfrentou constantes oposições e dificuldades. Muitos povos, muitas línguas e, à luz de Roma, demasiado barbarismo ao qual se propunha a "pax romana" como farol da civilização. 
Durante a Idade Média, caído por terra o imperialismo latino, retornou-se à Europa da manta de retalhos: guerras, conflitos, anexações e casamentos que piscavam o olho às tendências de agregação geopolítica por parte dos estados nunca, por si só, conseguiram achar uma ideia de união de estados europeus. Nem a ideia do Sacro-Império conseguiu reabilitar a ideia da união dos estados europeus...
Com Bonaparte, a ideia da República Universal era contraditória face ao significado da "Primavera dos Povos", esperançosa com o fim do jugo absolutista dos impérios centrais de forma a uma emancipação de povos há muito agregados a unidades políticas de cadência imperial. O Congresso de Viena de 1815 veio fazer demonstrar que não se passaria da utopia da união napoleónica. Retornou-se à velha ordem absolutista. Esta, em parte, seria desmontada na Europa com a guerra de 1914 a 1918.


O federalismo europeu afigura-se como difícil, senão impossível. O foco de atenção dos media (que manipula o discurso da opinião pública) ignora em demasia estes eurocéticos. Os eurofóricos continuam a acreditar que é possível o culminar de uma união política europeia. Os alicerces, como diz Farage, são frágeis: a nebulosa democracia de Bruxelas e Estrasburgo. Sem papas na língua, o eurodeputado inglês aponta o dedo a Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu (ficou conhecido pela forma como negou a possível entrada da Turquia na UE por este ser um país muçulmano que mancharia a matriz cristã de uma Europa que se "diz" tolerante), que terá sido eleito sem plebiscito popular. E a saraivada de tiros continua: ao presidente da Comissão Europeu Durão Barroso e por aí adiante. Falta identificação e cultura democrática na Europa. Não conhecemos os seus líderes e desejos/motivações.
Há tempos li algures esta curiosa expressão: a riqueza da Europa não estará na sua unidade, mas sim na riqueza da sua multiplicidade.
Estados Unidos da Europa? Como?



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

as aventuras de tintim

Desde os meus doze anos que os livros do Tintim me definem em parte.
Graças a ele, eu ambicionava ser jornalista...ou então astronauta...e (porque não?) arqueólogo, mergulhador ou, simplesmente, viver uma vida repleta de aventuras lancinantes non stop...
Cresci a ler os livros do Tintim e faço figas para que o famoso chavão que se aplica ao público alvo do herói criado por Hergé, "dos 8 aos 88", se aplique (e resulte comigo).

Não esqueço a primeira vez que contactei com Tintim. O primeiro livro que li foi "Os Charutos do Faraó". Captado pela vivacidade do enredo, pela estonteante aventura e pelo périplo geográfico que conduzia o argumento, só alguns anos mais tarde é que consegui ler a conclusão da história: "O Lótus Azul" é considerado como das melhores e mais completas obras de Hergé. É o ponto culminante de "Os Charutos do Faraó", que leva o " repórter do Petit Vintiéne" à China em plena Revolução Cultural, desvendando certos mitos do Maoismo que chocariam o Ocidente.
Política à parte, fui comprando ao longo dos anos a coleção completa. Só no ano passado é que consegui completar o espólio ao adquirir "Tintim na América" e "Tintim e os Pícaros" (obra maior em que o ambiente de "O Templo do Sol" é revisitado".
Não esqueço também "A Ilha Negra", "O Ceptro de Otokar", "O Caranguejo das Tenazes de Ouro" e a odisseia espacial (anterior à Missão Apolo) de "Rumo à lua" e "Explorando a Lua". A aproximação à ficção científica de "Vôo 714 para Sidney" é outra das maiores aventuras de Tintim: talvez J.J. Abrahams se tenha inspirado nela para "Lost"...



Recentemente, em conversa com um colega de trabalho, fui espicaçado para revisitar "As jóias de Castafiore", considerado como o mais leve álbum de Tintim: leve pois, ao contrário da multiplicidade geográfica que caracteriza os outros álbuns, este circunscreve-se exclusivamente os espaços interiores e exteriores do Palácio de Moulinsart. 
Não sendo propriamente um livro em que a aventura se assuma como o principal foco de atração para o leitor, Hergé desenvolve em "As jóias de Castafiore" uma forte reação ao poder dos media e à manipulação da opinião pública e publicada. 
Por outro lado, no mesmo álbum, Hergé explora de forma mais profunda o caráter das personagens centrais da saga. Este é também o álbum em que o autor assume a necessidade de esclarecer boatos em relação às suas opções e simpatias ideológicas. Acusado de ser adepto do nazismo e anti-comunista, Hergé apresenta-nos neste álbum um Tintim que ajuda famílias ciganas, face ao preconceito existente na altura relativamente a este povo.

Tintim volta a estar na moda em pleno século XXI.
Durante os dois últimos anos, os álbuns do repórter "francófono" têm sido reeditados em Portugal, com uma nova e politicamente correta tradução, como que em jeito de preparação de terreno para o filme que recentemente estreou no cinema.
Tendo já lido algumas críticas, nunca me recusaria a ir ver o filme. Não sou um fundamentalista e purista da obra de Hergé.
Sabia perfeitamente que o álbum "O Segredo da Licorne" não garantia por si só a espetacularidade que um filme de Spielberg e Peter Jackson exigiria.
Mas Spielberg, partindo da trama original de "O Segredo da Licorne", decide afirmar que o seu filme não segue religiosamente o argumento clássico e original. 
O argumento aborda 3 álbuns de forma a reconstruir a história em si: ao mistério das três Licornes, junte-se o famoso cargueiro Karaboudjan onde Tintim conheceu o Capitão Hadock, originalmente em "O Caranguejo das Tenazes de Ouro". De seguida Spielberg opta por voltar a "O Segredo da Licorne" e ao seu epílogo em "O Tesouro de Rackham, o Terrível".
Afastando-se do purismo das histórias originais, o argumento aprofunda-se e é recriado livremente. Chegamos a uma altura do filme em que nos recordamos de Indiana Jones, dados os óbvios paralelismos que encontramos entre uma e outra personagem. A disputa entre Hadock e o hipotético descendente de Rackham é uma outra manobra argumentista que foge por completo ao enredo original.
Para os mais puristas, estes revisionismos e adulterações serão autenticamente sacrílegos. Para mim, fazem parte da necessidade de achar bons tópicos para um filme cujo objetivo maior é o puro entretenimento. 
Ação múltipla e ritmo elevado caracterizam o estilo de Spielberg nos seus filmes de aventuras. Aqui encontrarão tudo isto ( e ainda mais).
Ponto altamente negativo:a pronúncia escocesa do Capitão Hadock (vi o filme na versão inglesa) e o total apagamento do ambiente francófono que tanto distingue o universo de Tintim. Por manobras comerciais, ou não, esta opção foi, a meu ver, bastante infeliz. 
Com mil milhões de macacos!!!!!
Por último, "As Aventuras de Tintim - O Segredo da Licorne" é um filme para entreter, enquanto devoramos umas pipocas confortavelmente no conforto de um domingo à tarde em família. Não dispensa os livros que continuarão a ser, para mim, a referência.
Pelo que é dado a entender, sequelas estarão para breve. Spielberg sabe que, ao seu dispor, boa matéria prima não falta! Direi mesmo mais: Não falta matéria prima ao seu dispor!!!!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

guerra do peloponeso

Chamem-lhes o que quiserem chamar, mas os gregos, em termos de cultura cívica, dão "dez a zero" aos portugueses.
Ao anunciar a realização de um referendo para votar o sim ou não à nova remessa de dinheiro, no âmbito da "ajuda" financeira do FMI, BCE e UE, o primeiro-ministro Papandreou lançou o caos na zona euro.
Realmente, estes democratas que habitam Bruxelas, quando se fala de democracia, têm medo de jogar o jogo.
O que muitos consideram um auxílio, outros referem-se a esta assistência financeira como sendo um massacre à população que o tem de pagar, a bem ou a mal. Estas assistências financeiras têm maior probabilidade de correrem mal do que terem impactos positivos. Excluindo o Chile, em 1973, aquando da subida ao poder de Augusto Pinochet, após o golpe de estado apadrinhado pelos EUA, todos os outros "auxílios" têm demonstrado uma receita desastrosa e calamitosa. A última vítima foi a Argentina. Agora a Grécia. De seguida será Portugal e por aí adiante.
Papandreou faz ressuscitar na Grécia o espírito verdadeiro da democracia da polis clássica no tempo de Péricles: consulta à comunidade se querem, ou não, continuar nesta espiral maligna de afundamento de um futuro que, a cada dia que passa, se afigura como mais negro ainda.
O povo grego vai ter a legitimidade de dizer se quer, ou não, continuar a cavar um buraco ou se quer bater, de uma vez por todas, bater violentamente no fundo desse buraco. A queda afigura-se como brutal e violenta. Há quem diga que é preciso cair mesmo de vez para que nos voltemos, a maior ou menor custo, a erguer. Há quem defenda que a eutanásia é preferível a uma degradante morte lenta.

A Europa encontra-se na encrusilhada mais alarmante da sua ainda curta História. O Euro foi um erro. Pelo menos para muitos países que tanto fizeram (ou não) por merecer a sua participação no pelotão da frente em 2002.
Aguardam-se desenvolvimentos.
Para já, a reunião do G20 revelará, uma vez mais, que as grandes decisões económicas e finaceiras continuam nas mãos de instituições fora da esfera de soberania política.