Cerca de quatro meses após a sua eleição nas directas, Passos Coelho começa a entrar numa perigosa espiral.
Não voto PSD mas preocupa-me o facto da ausência de ideias com que este grande partido, que se perfilha como o outro lado do constante rotativismo político-partidário em Portugal, se afunda.
Passos Coelho foi eleito e, de início, alguns oráculos apontavam-lhe um enorme futuro. Outros, profetas da desgraça e caciqueiros de barba branca, torceram o nariz à eleição do jovem ex-dirigente da JSD. Ao contrário de muitos, Pedro Passos Coelho é um homem de dentro da cantera social-democrata. Conhece as bases e fazia crer que o sumo novo que pretendia bombear para dentro da laranja poderia ser bem fresquinho e vitaminado.
Do seu lado, os media apontam óptimas sondagens. Valendo aquilo que valem, as sondagens dão ao PSD clara vantagem sobre um moribundo PS que cada vez mais se desfigura e, enfraquecido, lá vai tentando remar de forma a tapar buracos atrás de buracos.
E em Portugal é assim! Não se ganham eleições. Tal como no futebol, a expectativa reside no erro adversário. Sócrates colecciona erros e precalços. Do elenco governativo, já nem o Super-Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, consegue trazer garantias. O PEC e toda a volúpia de austeridade a que o país foi condenado não cairam nas boas graças do eleitorado. Por mais que tentem afirmar o contrário, Portugal é um país condenado à constante crise financeira: as finanças estão mal pois o país não produz. Se não produz, não gera riqueza. Se não gera riqueza e não produz, não gera emprego. Se não gera emprego, não há dnheiro para consumir o pouco que se produz. Se não se escoa o que se produz, não é necessário produzir mais portanto despede-se...é uma autêntica pescadinha de rabo na boca.
Para Passos Coelho a despesa do Estado tem de ser estancada. De todos os líderes laranjas desde há muito tempo, Passos Coelho é aquele que, sem pudor, afirma e defende a sua ideologia: um Estado menor deverá ser um melhor Estado. Obviamente que, para o português comum, os meios com que Passos Coelho pertende atingir os fins não são bem vistos: perante a conjuntura económica e financeira actual a economia portuguesa deverá também ela flexibilizar-se. Esta palavra "flexibilização" é soada como non grata numa população de esquerda mas com laivos pequeno-burgueses.
A par desta visão neoliberal da economia, Passos Coelho apregoa à Revisão Constitucional. Para ele, o Socialismo ainda está muito presente na Lei Fundamental. Serviços como a Educação e Saúde deverão ser "flexibilizados", assim como o mercado laboral. Os patrões aplaudem.
E é isto o PSD!
Um partido/grémio composto de interesses empresariais que submetem para segundo plano os interesses do país. Quanto mais fácil fôr despedir, melhor! A sua base ideológica está no Liberalismo oitocentista de contornos selváticos em que a "Lei da Selva" prevalecia: se não consegues ser alguém é porque não trabalhaste para isso.
O PS teima na sua matriz socialista do Estado-Social. Mas só os coitadinhos é que são o povo? Uma classe média que é constantemente sufocada por impostos e, como afirmou o nosso PM, sob o dever de um esforço patriótico para pagar subsídios, escolas, assistência médica e rendas a famílias que continuam a procriar filhos sem terem condições para tal e que chegam a escola (que nós pagamos) e nem valorizam o dom de aprender?