quarta-feira, 6 de abril de 2011

há vida para além da europa? (2ª parte)

Conversava ontem com o meu pai.
Assistíamos ao telejornal da SIC, que mais se assemelha a uma daquelas obras proféticas de contornos apocalípticos que, por alturas da viragem do milénio, abundavam nos escaparates, enquanto jantávamos.
Com um repórter em cada um dos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha), tentava-se sentir o pulsar social face ao turbilhão financeiro e económico que se assiste hoje em dia em cada um destes países. Se a Grécia e se a Irlanda já foram vítimas do Fundo Monetário Internacional, Espanha sente que, na iminência de Portugal ser alvo de intervenção da dita instituição, poderá ser "o senhor que se segue".

A Europa de Jean Monet, de Robert Schuman e de Mário Soares está falida.
A cooperação económica e a solidariedade entre os países de forma a atingir o progresso social não passa de uma bonita falácia que, aos olhos de cada vez mais cidadãos "europeus", se esgota.
Hoje em dia a Europa é vista com desdém pois ainda ninguém sabe bem o que significa. O centro da diplomacia comunitária abandona Estrasburgo e Bruxelas concentrando-se, então, na chancelaria de Berlim.

Em 1985, Portugal assina finalmente o acordo de adesão à Europa Comunitária. 
Recusada em 1972 (devido à falta de critérios democráticos de um país ainda assente num regime autoritarista), a entrada de Portugal na CEE fez o país pensar que o céu é o limite. A opção europeísta assumia-se assim como um modelo de desenvolvimento do país, findas que estão as querelas e tensões político-ideológicas que marcaram a transição para a Democracia.
Os fundos estruturais chegavam.
As auto-estradas apareciam e aproximavam-nos dos países centrais do bloco comunitário. A torneira do dinheiro parecia não secar.
Os fundos comunitários, que em teoria serviriam para a modernização do país (económica, social, cultural e tecnológica) de forma a preparar o país para actuar no mercado comum, só Deus sabe que destino tiveram,na realidade.
O estabelecimento de quotas de produção foi entendido como subsídio à indolência. O dinheiro para modernizar a agricultura e as pescas foi entendido como "belos automóveis e casas no Algarve".
O novo riquismo assolava em Portugal no início dos anos 90. 
A falta de uma racional lei sob o arrendamento fez Portugal enveredar por uma profunda mobilidade social sob o critério da propriedade: comprar casa, e ter crédito bancário, eram sinais de um Portugal, não mais rural e pobre, mas sim burguês e rico. 

As marcas internacionais invadiam o tradicionalismo da textura empresarial portuguesa. 
A Expo 98 serviria para mostrar ao mundo que Portugal não era mais o isolado e solitário patinho feio da Europa. Era sim um país que, tendo há 500 anos aberto o mar, abria-se agora ao mundo!

As vacas gordas pastavam em prados verdejantes e alegres...

(continua)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

oportunidade perdida

Como benfiquista, admito sentir uma enorme azia pelo facto do justo título de campeão ter sido entregue ao FC Porto em pleno relvado do Estádio da (falta de) Luz.
Não contesto a vitória portista e aceito-a com naturalidade: foram melhores, foram regulares, apresentaram um futebol agradável, racional e cilindraram o segundo classificado na primeira e na segunda voltas da prova. 
Para além dos factores derivados da própria estrutura portista, beneficiaram do facto de, à 4ª jornada, o título estar praticamente entregue devido à derrocada encarnada, em Agosto, e ao marasmo verde e branco, demonstrado ao longo de toda a época.
O Porto ganhou um campeonato de forma fácil mas com empenho e seriedade.
Ao contrário de muitos outros, que a esta hora já espancaram a mulher como manifestação espontânea de uma frustração vergonhosa, endereço, desde já, os meus parabéns aos portistas. E tenho muitos na família...

Futebóis à parte.
Portugal perdeu ontem uma excelente hipótese de transmitir às novas gerações que amam o futebol um exemplo de cordialidade, galantismo e elevação.
Ao invés, o espectáculo que fez ontem à noite parar o país reflectiu o porquê deste país manter-se num limbo (prestes a cair ao inferno) em termos de valores e cidadania. Se nos queixamos dos políticos e da sua falta de valores e ética, o que dizer daqueles que compõem o eleitorado? Ou seja... o "povo".
A crise começa em nós. Nós, portugueses, somos o grande factor da crise que se depara sobre nós!
Espero um dia que o meu filho perceba que a vida é feita de sucessos e momentos menos bons. 
Depois da pobreza a que assistimos, própria de um país de terceiro mundo que não aceita a democracia de saber ganhar e perder, resta-me apenas continuar na minha total alienação no que toca ao futebol.
Aqui não temos nem maus nem bons da fita. Temos dois clubes que falam a mesma linguagem decadente e anti-pedagógica.
Os clubes, como promotores de exemplos para a juventude, esquecem-se desta sua tão nobre função em troca da ganância pela vitória a qualquer preço... capazes de fazerem de um jogo uma autêntica guerra civil onde a constante crispação e ódio saltam para fora de uma bancada, atingindo o impensável...
Perdeu-se uma oportunidade...