domingo, 18 de setembro de 2011

o caruncho da madeira

Não sendo a primeira vez que me pronuncio a respeito do Senhor Formiga, considero que se torna uma vez mais pertinente reflectir acerca dos problemas que recentemente inundaram (e chocaram) a opinião pública cá do burgo.
Chocado ou não, nada me surpreende. Este Sr. Formiga é uma autêntica "térmite" que usou e abusou do poder que tinha para gerir fundos. A sua gestão danosa (que vem agora à tona de água) fez com que a madeira fosse abrindo buracos atrás de buracos até que apodrecesse por completo.
Nada me surpreende pois o isolamento da Madeira adivinhava-se como forma de fugir à prestação de contas: o Atlântico estendia-se nesta Madeira Carunchosa como uma capa de flores que compunham tão engalanado ramalhete perfumado. Afinal de contas, e feitas as contas com respectivas provas dos nove, o Jardim que se pensava que perfumava os meandros da Atlântida não é mais que um resquício de madeira apodrecida por uma térmite (ou bicho da Madeira) que por lá criou as suas hordas e se alimentou, durante cerca de 34 anos, daquilo que tinha e daquilo que não tinha.

A Térmite da nossa querida Madeira Emburacada sempre manifestou o ódio ao socialismo e aos sucessivos governos PS. Talvez nos tempos de Guterres conseguiu levar, amiúde, a sua vontade avante. Mas nesses tempos gastávamos pois pensávamos que do céu até caía algo mais que a chuva...
Os constantes ataques aos socialistas, maçons e republicanistas de meia-tijela dominaram o léxico desta personalidade desde os alvores do seu governo quase do tipo feudalizante que lhe aprazou desde a implantação definitiva da democracia em 1976. Mas este Senhor Formiga, de tão alérgico ao socialismo que se afirmava, é talvez "mais papista que o Papa": para uma região autónoma social democrata, não há actividade económica que não careça de fomento, clientelismo e palmadinha nas costas por parte da administração regional. As demais formiguinhas deste tronco emburacado vivem à sombra do ferrão protector da Formiga Raínha-Rei-Imperador do senhor Formiga...

Brevemente, haverá uma eleição regional. O Senhor Formiga, que promete há anos a sua última magistratura lá no tronco, será novamente eleito. Pois as demais formiguinhas do tronquinho esburacado pela térmite têm medo de ver a muralha do feudo desabar em pleno alto mar.

domingo, 11 de setembro de 2011

o início do século XXI

Há dez anos atrás comecei a dar aulas.
Estava numa escola nos arredores de Lisboa.
Durante a hora do almoço, pelas 14.00, sou surpreendido por aquelas imagens que hoje definem os novos tempos em que vivemos.
Confesso que, apanhado de surpresa pelas imagens que a televisão nos fazia chegar, ainda pensei tratar-se de algum novo filme-catástrofe vindo de Hollywood.
Mas não. As imagens eram reais. Espetacularmente macabras e violentas. 
Como qualquer pessoa, todas as demais conversas eram secundárias face ao que se passava em Nova Iorque.
Recordo que me passou pela cabeça o possível deflagrar de uma nova guerra mundial. O século XXI tinha finalmente chegado. Para a América, o "papão comunista devorador de criancinhas" daria lugar a um real monstro... "terrorista".
Sobrevivemos, desde aí, no medo...


sábado, 10 de setembro de 2011

Boas novas da 9ª arte nacional

E como tudo em Portugal não é obrigatoriamente mau, este post é sobre algo que me deixa muito feliz.
Comprei há dias o livro "As incríveis aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy", da autoria do português Filipe Melo.
O interessante neste álbum é que se vem a provar que a BD nacional está viva e, após ficar a saber que a obra terá edição no mercado internacional através de uma das mais poderosas e importantes chancelas do género, a Dark Horse Comics  ("Hell Boy", "300", "Flash Gordon", entre outras obras e nomes), todo um novo mundo se abre (felizmente) para que novos autores comecem a surgir por cá.
Comprei já a 3ª edição e é de louvar o facto de que esta obra conter um prefácio de John Landis (para quem não sabe, é um dos mais reconhecidos realizadores do género de terror/fantástico das últimas décadas. É da sua responsabilidade a realização do videoclip "Thriller").
E este prefácio não é apenas uma manobra de puro vaidosismo à portuguesa. Faz todo o sentido, como irei explicar.

"As incríveis aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy" é o álbum de comics português mais americano alguma vez editado. E não digo isto com malvadez.
Filipe Melo assume as suas (boas) influências e tenta transportar para o argumento todo um imaginário fantástico com claras alusões ao cinema de aventura/fantástico/terror dos anos 80 e, geograficamente, circunscreve a acção à Lisboa que todos nós conhecemos, descendo a um submundo de gárgulas, vampiros, zombies e demais vultos do sobrenatural... em Lisboa.
Dog Mendonça é um "Hell Boy" à portuguesa: agente que figuraria sem desdém no B.P.R.D de Mike Mignola, combatendo ameaças do "Oculto", pleno de humor e referências ao pulsar lusitano. Eurico é um simples entregador de pizzas. Temos ainda uma gárgula faladora que acompanha os heróis e Pazuul, uma "querida" menina que, afinal de contas, é um pouco excêntrica.
Juntos tentam descobrir a autoria de uma série de estranhos (e sombrios) raptos de crianças em Lisboa.
Descobriremos ainda que, afinal, o III Reich não terminou em 1945...

Para além de tudo isto, muitas são as boas memórias de filmes como "Jack Burton nas garras do Mandarim" de John Carpenter, "Regresso ao Futuro" de Robert Zemeckis, "Howard, the Duck" e "Lobisomem americano em Londres", de John Landis ". E por isso fará todo o sentido o prefácio que este último escreveu para a obra.

Aguardo o segundo volume destas incríveis aventuras... pelo que li, o título é "Apocalipse"!!!
Parabéns a Filipe Melo e ao desenhador Juan Cavia por este importante trabalho. Vale a pena ler... para quem gosta do género!

Esta é uma das imagens centrais de ""As incríveis aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy". Reparem na forma como Lisboa é desenhada: a ponte, os bairros típicos e o elevador da Bica. Sem faltar todas as particularidades da cidade. Juntemos isto a um imparável enredo de comédia, aventura e terror... 

O Coelhinho e o Calimero

Numa das recentes edições da revista Visão, é feita uma retrospectiva cronológica dos últimos doze meses políticos em Portugal.
Em Agosto de 2010, Passos Coelho, então líder da oposição, mostrava-se intransigente face à aprovação de um orçamento de estado (OE) para 2011 que consagrasse subidas de impostos. É sobejamente conhecida a tragicomédia em redor das negociações para o mesmo OE que envolveram PS e PSD. A Visão, na altura, afirmava que o líder laranja começava a trilhar o caminho para o poder.
Lá se aprovou o orçamento, contra ventos e marés...
Em Março de 2011, aquando da apresentação do PEC IV, o PSD decide não aprovar o dito plano. Se o PS não encontra consenso à direita, à esquerda BE e PCP cometem grave erro estratégico (as eleições de Junho seriam desastrosas para a esquerda portuguesa, com especial destaque para Louçã).
 Sócrates demite-se. Fugia-lhe das mãos o instrumento fundamental para poder continuar a governar. Os juros da dívida soberana da República Portuguesa atingiam máximos históricos diariamente.
No limiar do abismo, o PSD assumia-se como a única alternativa credível para tirar o país da encrusilhada, mostrando-se fiel depositário de uma receita que, segundo o seu líder, deveria ser aplicada, não pelo aumento da carga tributária, mas sim por uma lipoaspiração ao sector público e administração central.
Passos, sem nunca revelar a alquimia, comprometia-se com o eleitorado de forma peremptória.

Um ano depois...
Passos Coelho é líder de um executivo composto maioritariamente por ilustres anónimos. Ao contrário do PS, que nunca consegue um compromisso com uma esquerda mais preocupada em incendiar as ruas com a sua clássica toada, o PSD encontra a sua muleta no CDS-PP para obter uma maioria confortável. Paulo Portas chega então ao poder, negociando com Passos a atribuição dos ministérios e diversas funções.
O Governo Constitucional mais pequeno de sempre toma posse em Junho, a tempo da participação de Passos na cimeira do Eurogrupo desse mês.
Como todos os governos, este executivo teve um curtíssimo estado de graça. Portugal, não ainda recuperado das ambiguidades do executivo de Sócrates, reconhecia nesta juventude uma possível nova forma de enfrentar os problemas.
Com o memorando assinado com a "troika" como pano de fundo, rapidamente Passos Coelho vê esse estado de graça transformar-se em desconfiança e frustração por parte do eleitorado: o corte no 13º mês é visto como um autêntico saque à classe média. Mas, segundo o PSD, muito necessário. De seguida aumentam os transportes públicos. De seguida, aumento do IVA no gás e electricidade. Fica a sensação de que cada comunicação ao país feita por Vitor Gaspar (CEO das Finanças) é como uma autêntica praga bíblica.
Vem agora ao de cima o reconhecimento, por parte do governo da Madeira, que por lá o jardim de rosas atlânticas sufoca por entre os espinhos que florescem. Alberto João Jardim defende-se ao ataque. As suas declarações patéticas fazem-me lembrar Adolf Hitler em Abril de 1945 quando, em avançado estado de insanidade, continuava a fazer-se crer de que a guerra ainda iria ser ganha pelo III Reich...

Os dados acerca da economia nacional não são famosos: falências, falta de liquidez e acesso ao crédito, desemprego, regressão do consumo e uma sensação de desânimo total atravessa uma classe média cada vez mais nivelada por baixo. Apenas o crescimento da exportações atenuam um cenário de recessão há muito diagnosticado.
Muda o governo, a fórmula mantém-se.
Para isto, dá-me a sensação de que ser ministro das Finanças e da Administração é deveras fácil: basta ter cara de pau e aumentar impostos de forma a aumentar receita. Se a despesa deveria ser a principal forma de atacar o défice, Passos cria a sensação de que a dinâmica do seu executivo ruma em sentido contrário.
Acredito que tudo isto poderá ser necessário. Mas o país não vê uma luz ao fundo do túnel...
 Estão postas a nu todas as fragilidades que um país, enganado por discursos de ventura e bonança ao longo de 37 anos, revela agora.
O presidente da República mantém-se inactivo. Aquilo que prometera (uma magistratura atenta e activa) é agora justificada por já não ter os socialistas em S.Bento, mas sim os da mesma cor. Cavaco, que é o responsável pela total desindustrialização e abandono de terras em Portugal, fala da produção nacional e da sua urgência em se restabelecer. A diferença é que, entre 1985 e 1995, choviam fundos estruturais vindos de Bruxelas. Hoje em dia, de Bruxelas, só vem confusão e falta de liderança.

A crise da zona euro explica-se pelo simples facto da UE não existir mais. E se alguma vez existiu...
O euro está condenado e apenas vai sobrevivendo devido a cuidados paliativos por parte de uma Alemanha e de uma França que beneficiam (e muito) com uma moeda igual à dos países por si dominados onde entram livremente com aquilo que produzem.
 Como li algures, o euro tem duas versões: tal como o dólar canadiano e o dólar americano, o euro do norte da Europa distingue-se do euro do sul da Europa. Falta liderança. Falta  Europa.
O que temos é um directório franco-germânico que se coloca acima da Comissão Europeia, do Parlamento eleito por sufrágio europeu alargado e demais instituições que prestam a Paris e a Berlim uma vassalagem quase feudal.
Será a Grécia o elo mais fraco. Depois Portugal e a Irlanda. Quando se chegar à Itália...

Por falar em acto de vassalagem: recentemente, Passos Coelho esteve reunido com a chanceler alemã. O insólito acontece quando o PM português agradece o apoio da Alemanha no plano de resgate financeiro por parte das instituições internacionais! Agradecer quando os especuladores alemães esfregam as mãos com os fabulosos dividendos que retiram do seu agiotismo extremista? 
Será que a Alemanha pediu desculpa à Europa pelas  duas guerras mundiais e pelo Holocausto?
Será que a Alemanha agradeceu os planos de ajuda para a reconversão da sua economia no segundo pós-guerra?
Será que a Alemanha se lembrou de reconhecer o papel que a Europa teve na sua reunificação?
Não pense o meu caro amigo leitor de que lavro aqui um manifesto anti-germânico. De todo! Admiro a Alemanha em todos os seus aspectos. Mas senti vergonha de ter um PM que age diplomaticamente  debaixo da casquinha de ovo do Calimero...

Em relação ao PS, António José Seguro não me convence. Ganhas as eleições internas, o PS não reúne ainda união em torno do seu secretário-geral. Em fim-de-semana de Congresso, Francisco Assis continua a assombrar Seguro.
A atitude crítica do líder socialista às políticas do governo não convencem o eleitorado. O PS e a sua governação traumatizante ainda estão frescos na memória colectiva. O descalabro da sua governação não traz qualquer legitimidade ou moral para que possa criticar qualquer coisa que o PSD faça. Ainda...

Por isso, Portugal caminha para a desagregação. O desânimo domina a moral nacional. Não há esperança e os sinais quanto ao futuro são deveras negativos.