quinta-feira, 15 de outubro de 2009

hipocrisias

As nossas veias de fanatismo e nacional-parolismo voltaram às luzes da ribalta esta semana.
Isto devido ao video que circulava na net mostrando a actriz brasileira Maitê Proença (Meu Deus, o que eu suspirava por ela nos anos 80...) a fazer um périplo por Lisboa e arredores. Transmitido no programa do GNT "Saia Curta", o video mostrava a actriz a questionar uma série de coisas em relação a Portugal, à sua História e ao seu património. A forma como ela tratou e os comentários por si tecidos em relação ao que ia visitando deixaram meio Portugal indignado.
Desde acusações ao seu défice cultural, à preparação errónea com que abordou o programa e à forma insolente como gozou com uma gárgula manuelina em pleno claustro dos Jerónimos, cuspindo para o chão, levou a que os comentários e opiniões roçassem a consternação aguda!
Tratava-se da imagem de Portugal e dos portugueses que seria difundida no Brasil e, segundo o testemunho da actriz, em nada seria abonatória essa mesma imagem.

Os portugueses reservam para si a exclusividade no que toca ao escárnio em relação ao seu país. Concordo que o humor deve ser medido de forma a que não caia no simplismo do gozo em si mesmo. Aqui o escárnio esgotou-se em si mesmo.
Satirizar no momento e no sítio certos revela inteligência e argúcia.
Algo que não sucedeu neste caso.
Há uns anos atrás, Caetano Veloso, numa entrevista dada a um jornal americano, falou do azar que o Brasil teve ao ser (re)descoberto pelos portugueses. Se fossem os ingleses a lá chegar, talvez o país não tivesse os problemas que hoje tem. Ainda existe muito ADN português no brasileiro actual. Mesmo cerca de dois séculos após a sua independência, o Brasil em nada agradece o facto da presença portuguesa no seu território.
Na altura, pouca celeuma se levantou em relação às palavras do magnífico cantor brasileiro.
Também muitos dos portugueses, que tanto criticaram a actriz, condenaram o facto dos países muçulmanos terem ficado indignados com as caricaturas ao Profeta Maomé publicadas num jornal dinamarquês em 2006, acusando esses países de castradores de consciências e falta de sentido de humor!
Analisar os "ses" da História é interessante mas, ao mesmo tempo, perigoso se não tivermos uma boa capacidade de separação entre ficção e factos.

Estranha a hipocrisia lusa!
Quantas serão as anedotas em relação a africanos, judeus e espanhóis que compõem o léxico da sátira popular? E todos eles conhecem-nas. E também têm as suas em relação aos portugueses. Mas nós sentimo-nos ofendidos quando a nós diz respeito.
Não aprovo a forma como a actriz se dirigiu ao património, à História e aspectos culturais de Portugal. Não revela em nada qualquer inteligência e sentido crítico/satírico. Defende que o povo brasileiro é assim. E que tudo aquilo era humor inteligente.
Respeito a defesa da senhora, embora não concordando.
Agora, Maquiavel ensinou-nos que a melhor forma de dissuadir é ignorar, de forma superior, aquele que a nós quer atingir.
Penso que se está a fazer um enorme caso de polícia quando deviamos ser nós, portugueses, a preocupar-nos com a defesa daquilo que é nosso antes que alguém o viesse satirizar.
Ou será que só somos portugueses quando a Selecção joga?

5 comentários:

Marta disse...

Eu acho imensa piada ao humor bem feito, à sátira quando feita com inteligência. Mas isso é privilégio só de alguns. O video feito por esta senhora revelou mau gosto e ignorância. E mais, não estamos a falar de um simples brasileiro, mas de uma figura pública. Não tenho conhecimento da história do Caetano, mas é notória, sim, até hoje alguma fricção entre portugueses e brasileiros.

Luis Ferreira disse...

Para mim ,a Maitê Proença é mais Dona Beija... :-)

JPD disse...

LOLOL!dona beija!!!!!!!!! realmente...as telenovelas da globo dessa altura... ainda estou À espera de uma edição em dvd do sítio do pica pau amarelo...
Em relação ao comentário da marta: os brasileiros (reservando as devidas excepções) sentem ainda um rancor em relação ao colonialismo português. Não sei o que lhes ensinam na escola mas eles ainda hoje gostam de nos acusar de certas coisas... da mesma forma que os africanos e indianos e demais povos com os quais nos relacionámos. Sem dúvida alguma somos colonialistas e, actualmente, somos um país que gosta muito de se arrepender face à sua História e de estabelecer pazes com meio mundo quase em jeito de lhes pedir perdão. As coisas são como são. Por outro lado, em Portugal temos aqueles que vêm para cá e dizem "Eu amô Pórrrtugáuuu!!!!" e, ao regressarem é com cada facada!!!!!!! País irmão o tanas!!!!!! Quem me conhece sabe que eu nunca fui à bola com o Brasil...Aliás, quando tiveram hipóteses de nos dar uma facadinha, deram...Mas também se esquecem que foi um português que lhes deu a independência...A acção da Maitê foi triste mas também acho que fizemos uma tempestade num copo de água...e nós, tugas, não gostamos de gozar com outros países e povos????

Unknown disse...

Sítio do pica-pau amarelo... Ena pá, o que eu tive medo da Cuca!!...

Humm, não esperava que falasses aqui disto, não senhor...

Bem, aqui vai: pela minha parte sou galhofeiro, brincalhão, enfim, gosto do humor!
...
Mas não me passaria pela cabeça ir ao corcovado escarrar na estátua do Cristo Redentor!
;)

FINOS disse...

Com o devido respeito por todos os povos e raças no mundo,e como disse alguém um dia:
O povo brasileiro é aquele povo k nos recebe sempre de braços abertos,mas que nunca os fecha....

Tempestade num copo de água ou não,há coisas que a educação sempre nos impede de fazer e dizer,ainda mais quando se é uma figura publica e quando se está a gravar uma peça para apresentar num programa de tv que puderá ser visto por milhões de pessoas.

Como diz o ditado:
As desculpas não se pedem,evitam-se.

Abraços meu irmão
João Canilhas
aka: FINOS