terça-feira, 13 de outubro de 2009

de volta à grelha da partida

Em minha opinião, estas eleições autárquicas tiveram óptimos resultados. Mantém-se o macrocefalismo de Lisboa e Porto partilhado pelos dois partidos maioritários, cada um devidamente coligado. A norte, Rui Rio reconheceu a importância da sua aliança com Paulo Portas. A sul, António Costa deu o golpe de misericórdia em Santana Lopes, obtendo a maioria absoluta que tanta falta lhe fazia e tanto condicinou a sua acção durante os últimos dois anos à frente da capital do país. Convém recordar que Costa fez o que fez (mal ou bem) tendo à sua frente um muro opositor maioritário na Assembleia Municipal que condicionava o seu governo.
Até ver, saberemos que Santana Lopes poderá não ocupar o cargo de vereador para o qual Lisboa o elegeu. Veremos se cumprirá ou se decidirá, uma vez mais, a andar por aí vagueando e observando.
Costa reconhece a importância da sua coligação com Helena Roseta, do Movimento Cidadãos por Lisboa, e "O Zé Que Faz Falta". Mesmo em maioria absoluta, António Costa distingue-se do amigo Sócrates (que ainda não engoliu bem o resultado das legislativas) ao promover uma abertura a um diálogo com as demais forças políticas.
Terá o apoio do líder da CGTP, Carvalho da Silva, servido de palmadinha nas Costas a António Costa? Terá o PCP razão ao falar da preferência de muitos lisboetas pelo voto útil? Carlos do Carmo ao lado de Costa?
Seja como for, a esquerda derrotou a direita em Lisboa. A direita derrotou a esquerda no Porto.
Ferreira Leite canta vitória ao conseguir mais três municípios que os Socialistas. Se há duas semanas Ferreira Leite censurava Sócrates por este cantar vitória após a perda da maioria absoluta, a senhora vem agora com o mesmo festejo, após perder uma série de câmaras importantes para o PS, vendo a sua maioria no poder local afectada e ameaçada.
Paulo Portas congratulou-se com Ponte de Lima, mesmo após a saída de Daniel Campelo. Para o líder democrata-cristão, a autarquia minhota é referência de verdadeira convivência democrática, sem uso nem abuso de empresas municipais e joguinhos de corte.
Para o PCP, estas eleições ficaram aquém do esperado. Perdida Évora para o PS, os comunistas vêem Beja a fugir também para os socialistas. Algo se passa para a mancha vermelha a sul do Tejo estar a perder tonalidades para o rosa.
Mas o discurso de vitória faz sempre parte da retórica comunista.
Apenas o Bloco de Esquerda assumiu alguma ingenuidade. Com uma autarquia (Salvaterra de Magos), o Bloco bem pode estar satisfeito pelo trabalho desenvolvido. Em 10 anos de partido, Louçã tem sabido transmitir a sua mensagem ideológica ao mesmo tempo que enfraquece o PCP e o PS. Mas Louçã admite que muito ainda tem para aprender em matéria de poder local. Em má hora recusou coligar-se com o PS em Lisboa...
Em Gaia, Luiz Filipe Menezes rejubilou com os cerca de 70% dos votos e a vitória nas 24 freguesias. Nada de novo. Destaco, no seu discurso de vitória, a forma como se assumiu contra a liderança e ausência programática do PSD. Pelo meio defendeu que ignorar o estado social é um erro para qualquer partido que se queira impor. Grandiosa facada em Ferreira Leite! Menezes pede à líder do seu partido para que olhe para o Concelho de Gaia como exemplo do estado social não sufocante...
Pena foi o discurso de contornos levemente regionalistas, em que o ex-líder social democrata voltou a falar de assimetrias (sem dúvidas que existem) entre Lisboa e o Grande Porto. O apelo para que o Porto e Gaia se unam e trabalhem em conjunto trouxe, por momentos, um regresso ao regionalismo bacoco.
Mas o melhor estaria para vir!
Contra todas as expectativas, o município de Felgueiras cantou "A Marselhesa" na noite de Domingo!
A derrota de Fátima Felgueiras vem pôr fim ao estigma que os naturais de Felgueiras sentiam por saberem da sujidade do cadastro da sua presidente! Conforme o que se falou no seu dos munícipes, "O 25 de Abril só agora chegou a Felgueiras!".
Para trás, temos também Avelino Ferreira Torres que, à segunda tentativa, terá visto que já ninguém o aceita em Marco de Canavezes!
Mas Valentim Loureiro continua firme no seu posto, assim como Isaltino de Morais se revela, à parte dos negócios negros em que se envolveu, como o melhor autarca em Portugal. Com orgulho, Isaltino afirma que Oeiras é o concelho mais atraente de Portugal!
Findo este enorme ciclo eleitoral, está na hora de trabalhar. A esperança num país melhor volta à grelha de partida.

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