terça-feira, 20 de março de 2007

CRÉDITO À HABITUAÇÃO


Ouvi, há uns tempos, uma reportagem na TSF "Com a Corda na Garganta- Crédito Mal Parado"

O tema de hoje é algo que está bastante vincado na cultura contemporânea portuguesa: o recurso ao crédito.
Andando no metro de Lisboa, passeando pelas avenidas da capital, olhando as coloridas páginas dos jornais de distribuição gratuita, a “oferta de crédito” domina 75%, em média, da publicidade (dos moopies de rua, aos jornais, aos anúncios de televisão e rádio e até aos pop-up quando acedemos à Internet).
Vamos partir da legislação de base:


Artigo 60.º
(Direitos dos consumidores)

1. Os consumidores têm direito à qualidade dos bens e serviços consumidos, à formação e à informação, à protecção da saúde, da segurança e dos seus interesses económicos, bem como à reparação de danos.
2. A publicidade é disciplinada por lei, sendo proibidas todas as formas de publicidade oculta, indirecta ou dolosa.

Não tenho formação em Direito, não domino a legislação mas, antes de tudo, todas as pessoas deviam ter uma cópia deste documento em casa: a Constituição da República Portuguesa, o texto fundamental para o enquadramento dos direitos, deveres e organização do indivíduo no contexto da sociedade portuguesa. Por este artigo, podemos ver que os direitos dos consumidores vêm consagrados e previstos neste documento: o direito à informação e segurança nos seus interesses económicos e, no ponto 2, a publicidade fraudulenta é considerado um crime de âmbito constitucional, atentando à própria legitimidade do indivíduo. Não quero aqui fazer um manifesto anti-crédito pois o recurso ao crédito é necessário para a compra de casa, de um carro pois nós não vivemos num mundo cor-de-rosa das estrelas de cinema em que adquirir um imóvel (por mais humilde que seja) possa ser feito como ir ao supermercado comprar um quilo de batatas.

É chocante ver que os portugueses não têm poder de compra e que este, anualmente, vai perdendo força medindo-se isto pelas subidas salariais demasiado ténues para ombrear com o nivelamento dos preços dos artigos de primeira necessidade.
Muitas das pessoas, em actos de desespero, vêem no recurso a instituições de crédito o paraíso e a resposta para as suas dificuldades.


Este gráfico mostra-nos muito bem o indíce de cartões de crédito emitidos nos últimos anos. Podemos ver que, cada vez mais (contrariando uma certa descida entre 2004 e 2005) o crédito é um recurso usado. Muitas das pessoas por vezes recorrem ao crédito para pagarem outros créditos fazendo engordar, não só a banca (que apresenta os lucros que apresenta anualmente), como também uma pescadinha de rabo na boca que roda, roda mas não sai do mesmo sítio.


As pessoas não conhecem o que aquelas letrinhas pequeninas significam mas, mais escandaloso que isso, não tentam procurar essa informação. Eu farto-me de rir ao ouvir na rádio as campanhas vampirescas da banca a promover os seus produtos apresentando-se como uma solução simples e maravilhosa, com uma bela música harmoniosa e vozes bem colocadas. O fim dos anúncios em que, pela lei, devem constar as condições para a sua adesão, é que é o “vê se te avias”!!! Digam lá: quantos é que de vocês percebem as condições à velocidade a que são transmitidas (TAEGde5,4%aoanoestandocondicionadoàtaxanominalbrutade7%paraempréstimosa15anos)!

COMPRE AGORA E PAGUE DEPOIS QUANDO LHE APETECER!!!!! PAGUE O SEU LEITOR MP3 EM 25 SUAVES PRESTAÇÕES!!!! RECEBA JÁ 5000€ E NEM SE CHATEIE QUE NÓS TAMBÉM NÃO!!!! ADIRA AO CARTÃO FANTASIA DA MERCEARIA DO SEU BAIRRO E GANHE UMA VIAGEM AO BRASIL!!!! COMECE A PAGAR A CASA SÓ DAQUI A 3 ANOS E RECEBA UM CHEQUE OFERTA DE 6000€!!!!! (Todos estes exemplos são meramente ilustrativos e alegóricos)

É o chamado CRÉDITO À HABITUAÇÃO!!!!!! Viver com a corda na garganta, querer viver acima das suas possibilidades e a afirmação decisiva de um mundo cada vez mais materialista!!!!!

(fotos dos muppis cortesia Eu ainda sou o Director Criativo! )


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