sexta-feira, 18 de novembro de 2011

as aventuras de tintim

Desde os meus doze anos que os livros do Tintim me definem em parte.
Graças a ele, eu ambicionava ser jornalista...ou então astronauta...e (porque não?) arqueólogo, mergulhador ou, simplesmente, viver uma vida repleta de aventuras lancinantes non stop...
Cresci a ler os livros do Tintim e faço figas para que o famoso chavão que se aplica ao público alvo do herói criado por Hergé, "dos 8 aos 88", se aplique (e resulte comigo).

Não esqueço a primeira vez que contactei com Tintim. O primeiro livro que li foi "Os Charutos do Faraó". Captado pela vivacidade do enredo, pela estonteante aventura e pelo périplo geográfico que conduzia o argumento, só alguns anos mais tarde é que consegui ler a conclusão da história: "O Lótus Azul" é considerado como das melhores e mais completas obras de Hergé. É o ponto culminante de "Os Charutos do Faraó", que leva o " repórter do Petit Vintiéne" à China em plena Revolução Cultural, desvendando certos mitos do Maoismo que chocariam o Ocidente.
Política à parte, fui comprando ao longo dos anos a coleção completa. Só no ano passado é que consegui completar o espólio ao adquirir "Tintim na América" e "Tintim e os Pícaros" (obra maior em que o ambiente de "O Templo do Sol" é revisitado".
Não esqueço também "A Ilha Negra", "O Ceptro de Otokar", "O Caranguejo das Tenazes de Ouro" e a odisseia espacial (anterior à Missão Apolo) de "Rumo à lua" e "Explorando a Lua". A aproximação à ficção científica de "Vôo 714 para Sidney" é outra das maiores aventuras de Tintim: talvez J.J. Abrahams se tenha inspirado nela para "Lost"...



Recentemente, em conversa com um colega de trabalho, fui espicaçado para revisitar "As jóias de Castafiore", considerado como o mais leve álbum de Tintim: leve pois, ao contrário da multiplicidade geográfica que caracteriza os outros álbuns, este circunscreve-se exclusivamente os espaços interiores e exteriores do Palácio de Moulinsart. 
Não sendo propriamente um livro em que a aventura se assuma como o principal foco de atração para o leitor, Hergé desenvolve em "As jóias de Castafiore" uma forte reação ao poder dos media e à manipulação da opinião pública e publicada. 
Por outro lado, no mesmo álbum, Hergé explora de forma mais profunda o caráter das personagens centrais da saga. Este é também o álbum em que o autor assume a necessidade de esclarecer boatos em relação às suas opções e simpatias ideológicas. Acusado de ser adepto do nazismo e anti-comunista, Hergé apresenta-nos neste álbum um Tintim que ajuda famílias ciganas, face ao preconceito existente na altura relativamente a este povo.

Tintim volta a estar na moda em pleno século XXI.
Durante os dois últimos anos, os álbuns do repórter "francófono" têm sido reeditados em Portugal, com uma nova e politicamente correta tradução, como que em jeito de preparação de terreno para o filme que recentemente estreou no cinema.
Tendo já lido algumas críticas, nunca me recusaria a ir ver o filme. Não sou um fundamentalista e purista da obra de Hergé.
Sabia perfeitamente que o álbum "O Segredo da Licorne" não garantia por si só a espetacularidade que um filme de Spielberg e Peter Jackson exigiria.
Mas Spielberg, partindo da trama original de "O Segredo da Licorne", decide afirmar que o seu filme não segue religiosamente o argumento clássico e original. 
O argumento aborda 3 álbuns de forma a reconstruir a história em si: ao mistério das três Licornes, junte-se o famoso cargueiro Karaboudjan onde Tintim conheceu o Capitão Hadock, originalmente em "O Caranguejo das Tenazes de Ouro". De seguida Spielberg opta por voltar a "O Segredo da Licorne" e ao seu epílogo em "O Tesouro de Rackham, o Terrível".
Afastando-se do purismo das histórias originais, o argumento aprofunda-se e é recriado livremente. Chegamos a uma altura do filme em que nos recordamos de Indiana Jones, dados os óbvios paralelismos que encontramos entre uma e outra personagem. A disputa entre Hadock e o hipotético descendente de Rackham é uma outra manobra argumentista que foge por completo ao enredo original.
Para os mais puristas, estes revisionismos e adulterações serão autenticamente sacrílegos. Para mim, fazem parte da necessidade de achar bons tópicos para um filme cujo objetivo maior é o puro entretenimento. 
Ação múltipla e ritmo elevado caracterizam o estilo de Spielberg nos seus filmes de aventuras. Aqui encontrarão tudo isto ( e ainda mais).
Ponto altamente negativo:a pronúncia escocesa do Capitão Hadock (vi o filme na versão inglesa) e o total apagamento do ambiente francófono que tanto distingue o universo de Tintim. Por manobras comerciais, ou não, esta opção foi, a meu ver, bastante infeliz. 
Com mil milhões de macacos!!!!!
Por último, "As Aventuras de Tintim - O Segredo da Licorne" é um filme para entreter, enquanto devoramos umas pipocas confortavelmente no conforto de um domingo à tarde em família. Não dispensa os livros que continuarão a ser, para mim, a referência.
Pelo que é dado a entender, sequelas estarão para breve. Spielberg sabe que, ao seu dispor, boa matéria prima não falta! Direi mesmo mais: Não falta matéria prima ao seu dispor!!!!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

guerra do peloponeso

Chamem-lhes o que quiserem chamar, mas os gregos, em termos de cultura cívica, dão "dez a zero" aos portugueses.
Ao anunciar a realização de um referendo para votar o sim ou não à nova remessa de dinheiro, no âmbito da "ajuda" financeira do FMI, BCE e UE, o primeiro-ministro Papandreou lançou o caos na zona euro.
Realmente, estes democratas que habitam Bruxelas, quando se fala de democracia, têm medo de jogar o jogo.
O que muitos consideram um auxílio, outros referem-se a esta assistência financeira como sendo um massacre à população que o tem de pagar, a bem ou a mal. Estas assistências financeiras têm maior probabilidade de correrem mal do que terem impactos positivos. Excluindo o Chile, em 1973, aquando da subida ao poder de Augusto Pinochet, após o golpe de estado apadrinhado pelos EUA, todos os outros "auxílios" têm demonstrado uma receita desastrosa e calamitosa. A última vítima foi a Argentina. Agora a Grécia. De seguida será Portugal e por aí adiante.
Papandreou faz ressuscitar na Grécia o espírito verdadeiro da democracia da polis clássica no tempo de Péricles: consulta à comunidade se querem, ou não, continuar nesta espiral maligna de afundamento de um futuro que, a cada dia que passa, se afigura como mais negro ainda.
O povo grego vai ter a legitimidade de dizer se quer, ou não, continuar a cavar um buraco ou se quer bater, de uma vez por todas, bater violentamente no fundo desse buraco. A queda afigura-se como brutal e violenta. Há quem diga que é preciso cair mesmo de vez para que nos voltemos, a maior ou menor custo, a erguer. Há quem defenda que a eutanásia é preferível a uma degradante morte lenta.

A Europa encontra-se na encrusilhada mais alarmante da sua ainda curta História. O Euro foi um erro. Pelo menos para muitos países que tanto fizeram (ou não) por merecer a sua participação no pelotão da frente em 2002.
Aguardam-se desenvolvimentos.
Para já, a reunião do G20 revelará, uma vez mais, que as grandes decisões económicas e finaceiras continuam nas mãos de instituições fora da esfera de soberania política.