domingo, 9 de janeiro de 2011

estranhos casos de justiça televisiva

A morte de Carlos Castro tem, este fim-de-semana, figurado destacada nas machetes e cabeçalhos da imprensa escrita e audiovisual. Acredito que deverá ser mais pelos contornos macabros que afigura ter acontecido, do que pelo destaque à morte em si.
Com todo o respeito pelo ser humano, que do qual não reúno opinião formada pois, como jornalista que era, nunca me suscitou algum interesse quanto ao universo que abordava, considero que Carlos Castro é um dos responsáveis pelo evoluir da mentalidade cultural portuguesa desde a última década do século XX à actualidade
Época que coincide, ou não, com a alvorada da TV privada que trouxe para os escaparates a exploração da futilidade da sociedade portuguesa. Castro era uma autêntica alcoviteira dada ao mexerico cor-de-rosa.
A sua participação no Big Show SIC e demais programas derivados, levavam a que a dimensão de um mundo cor-de-rosa se transformasse numa autêntica distorção da realidade socio-cultural do nosso país. As suas crónicas constituiam-se como autênticas encíclicas que moderavam e agudizavam o tão propalado jet-set...
A procura pela calúnia, pelo simples bota-abaixismo e a, por vezes, falta de elegância dominavam um estilo jornaleiro que hoje criou escola.
Não serve este post para mostrar o meu desprezo pela pessoa em si. Tenho pena e espanta-me a forma como se deu, ao que parece, a morte.




Se Carlos Castro morreu na cidade onde desejaria morrer,Vitor Alves morreu num país que não desejava encontrar ao fim de quase 37 anos de suposta democracia.
A exploração televisiva da morte de alguém que nada significou para a edificação de um país melhor (bem pelo contrário) suplantou o desaparecimento de um homem que, durante os tempos nervóticos que se viviam em Portugal após Abril de 1974, contribuiu para a clarificação de posições ideológicas dentro do Movimento das Forças Armadas, que conduzia Portugal para um regime pró-soviético,à boa maneira do leste europeu.
Vitor Alves, homem da Revolução, foi um dos militares de Abril que assinaram o Documento dos Nove. Foi a partir deste documento que se denunciaram as opções que as forças da extrema-esquerda do MFA  queriam para Portugal e, ao mesmo tempo, se propunha a condução do país numa via socialista, mas moderada, longe do capitalismo selvagem dos países ocidentais.  Vitor Alves tinha esse projecto de condução de Portugal.
Este homem faleceu e a imprensa ignorou praticamente alguém cujo contributo serviu para que o país ganhasse um verdadeiro sentido. 

Morreu bem longe do país que desejaria...ao contrário de Carlos Castro.

1 comentário:

Joana disse...

Não posso estar mais de acordo contigo! Infelizmente este é o país que se está a construir para os nossos filhos...