sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

em branco

A campanha eleitoral para as Presidenciais confirmou o preocupante grau de inocuidade que a classe política portuguesa representa.
Ataques pessoais, lavagem de roupa suja com detergentes de qualidade duvidosa, falta de debate, ausência de esclarecimentos no que toca ao cargo a que se candidatam no contexto actual do país. 
Longe vão os tempos do "Soares é fixe e o Freitas que se lixe", altura essa em que se assumiam candidatos ideologicamente e politicamente preparados, com definição de ideias concretas para o país. Tratava-se do segundo presidente pós-25 de Abril e, nesses idos de 1986, Portugal, por pior que estivesse, era um país activo politicamente, que fazia da recém-nascida democracia uma importante forma de militância e cidadania.

Cavaco Silva foi em 1985 o criador da figura de estilo "Político Profissional". Se a Política, vista de uma perspectiva clássica, simbolizava a nobre e mais alta função a que um cidadão poderia ascender pois tratar-se-ia de servir a causa pública, com o Cavaquismo fez-se da nobre arte definida por Aristóteles um meio de sobrevivência, uma forma de caciquismo corporativista que visava deturpar, em absoluto, a função de um magistrado escolhido pela soberania nacional.
E com Cavaco veio toda uma Ínclita Geração de gestores,  economistas, advogados e demais profissionais liberais que lançaram a Política para dentro da sarjeta com o objectivo de obter reconhecimento individual e proveito económico. A Política foi manchada pelo jogo de interesses dos tais "políticos profissionais". 

Hoje a geração de políticos não percebe o que seria ser actor político em tempos idos, em que realmente era necessário estar preparado ideologicamente para transmitir algo às pessoas...
Cavaco, que fala tanto de um mar ,e que ao longo da sua legislatura praticamente destruiu a frota pesqueira, é o responsável pela ilusão em que vivemos. Assim como Guterres que, através do diálogo, da paz, da harmonia e subsídios para todos, nos fez chegar ao estado em que estamos.
A diferença é que um, apesar do belo tachinho nas Nações Unidas, já desapareceu da política activa em Portugal. Desapareceu. Fugiu em 2001!
O outro continua por cá. E candidata-se a ganhar o segundo mandato. Promete maior intervenção. E porque é que não o fez no primeiro mandato? Não teve 5 anos de oportunidades para o fazer? 
Ao seu estilo habitual, Cavaco limitou-se a ser responsável e calculista na forma como convergia estrategicamente com o Poder Executivo e Legislativo...
Cá o teremos mais cinco anos...
Pois somos um povo que continua de palas nos olhos. Temos uma dimensão muito curta. Só gostamos do um e de outro. E se o outro não presta, que venha o um!
Por isso, face ao vazio de ideias que Portugal aufere no que toca à elite política, proponho, para este período de reflexão, esta maravilhosa obra de Malevitch...
Que vos inspire para domingo...
Kasimir Malévitch
Composition : Blanc sur blanc
1918
Museum of Modern Art de New York

5 comentários:

Vitor disse...

Concordo mesmo muito contigo. Só tenho dois reparos se me permites: a morte do candidato ideolagicamente e politicamente preparado acontece porque as ideologias também morreram ou então estão moribundas e diluidas nesta terceira via, onde os governantes não governam... apenas reagem. A outra é sobre a promessa do Cavaco em intervir mais. Se as intervenções dele (dizem que poucas) no primeiro mandato foram o desastre que foram, imagina a intervir mais!!

JPD disse...

As ideologias foram "idealizadas" por homens. Não crescem nas árvores nem cairam do céu. São perspectivas e projectos que, em teoria, postos em funcionamento determinam um rumo. As ideologias não existem dentro de uma redoma de vidro intocável. Devem ser revistas e adaptadas aos tempos que se vivem. Por exemplo, considero que o Socialismo do Manuel alegre é desvirtuado e desligado da realidade. Não o considero bom candidato pois, para além de estar a fazer uma campanha pela negativa, o seu discurso é demasiado radical assemelhando-se aos tempos do PREC quase! Mas mesmo assim, acho que, pelo menos, acentua mais o carácter ideológico do que o Cavaco que, apesar de apoiado pelos partidos da direita, o seu discurso dilui-se e é vago. Bem sei que um presidente da República deve estar acima dos Partidos e das ideologias mas não chega dizer que vai optar por colaborações estratégicas. Devia haver uma proibição na constituição para evitar que a figura do chefe de estado estivesse conotada com forças políticas. Obviamente que sei que, apesar dessa possibilidade, um candidato estaria sempre alinhado. Por isso, considero que os políticos são maus pois não revêm as ideologias, não as adaptam aos tempos, continuam cristalizados. Para além da assustadora falta de tomates! Deverá intervir mais? Os poderes presidenciais não se esgotam na dissolução da assembleia ou vetos de leis. Considero que o Cavaco poderia muito bem, ainda em 2008, ter chumbado o orçamento ou pelo menos adoptado uma postura de revisão e acompanhamento para evitar o descalabro que se verificou este ano.É esta a intervenção que eu falo! Andou sempre a tapar buracos quando deveria ter sido o exemplo da previsão. Se reparares não houve ano, desde 2006, que ele não revelou uma possível crise financeira em Portugal. Deveria ter sido mais atento e activo há mais tempo! Ele simboliza a fraqueza da Política em Portugal!

Vitor disse...

Concordo. Concordo. Mas são poucos os políticos que na história mudaram e evoluíram. Aliás com a idade ficamos (nós os seres humanos na generalidade) mais conservadores e convencidos que estamos certos e os outros errados. Tem que ser uma nova geração a trazer algo de novo e a geração J (de Juventudes Partidárias) é constituída na sua esmagadora maioria por pessoas que se juntaram por interesse pessoal. Os que o fazem porque querem fazer algo positivo, acabam engolidos pela máquina ou desistem. Ou seja, o que quero dizer é que acho que as ideologias raramente são repensadas e actualizadas. Funciona mais na base de ruptura com o passado.

Quanto aos candidatos não sou fã do Alegre e detesto o Cavaco por todas as razões e mais alguma, mas como sou contra o voto do emigrante, o meu vai ser mesmo abstenção.

JPD disse...

Não te abstenhas! VOTA EM BRANCO! A abstenção só vais ajudar a continuar a manter as coisas como estão. O voto em branco é um voto de protesto!

Unknown disse...

Bom, como sabes eu votei na abstenção. Simplesmente não aceito a existência de um PR, quando na nossa estrutura política essa função não tem qualquer impacto no país e apenas serve para desviar mais uns milhões para ordenados e despesas que o cargo e seu staff acarretam para portugal.
Acho que as campanhas são demagógicas, os candidatos discutem políticas, ideologias, economias e fazem promessas como se fossem o PM.O que fez, até agora, um PR neste país que tivesse real impacto na vida portuguesa? É vergonhoso a nossa constituição não se actualizar e extinguir este cargo e limitar os lugares na AR.
E já agora, para mim se alguém se reforma e quer continuar a trabalhar, força!! mas não pode e nem deve ser remunerado por isso, já lhe é pago uma reforma por todos nós, não é verdade?!!