quarta-feira, 28 de abril de 2010

do "eduquês"

Adoro dar aulas!
Mesmo.
Gosto tanto que é sobre isso que falo agora. Aí vai....

Adoro os miúdos e gosto mesmo de trabalhar com eles. Considero que, estando perto da juventude, o nosso envelhecimento é retardado!
Sempre respeitei as decisões oficiais (do ME) no que respeita a reformas, modelos e legislação normativo-burocrática. É visível no nosso DNA o facto de o nosso ser o país dos papelinhos, papeladas e papelões.
Mesmo no que toca a avaliação de docentes, concordo e vejo neste processo uma forma de progressão qualitativa dos professores, se bem que as minhas dúvidas incidam no modus operandis da questão...
É impossível transformar ideias perfeitas em realidades concretas. Essas utopias, que figuram de forma radiosa nos livros, não são plenamente exequíveis. A educação não é mais a instrução de outros tempos, em que valores se inculcavam de forma escolástica de modo a talhar a mocidade em prol do todo nacional.
Não é mais assim a Educação? Não devia mas continua de certo modo a ser.

Quem elabora os programas esquece-se que nem todos os alunos vêem na escola a coisa mais maravilhosa e estimulante. Os programas e currículos obrigam à formatação de um aluno num número, através de um processo standard de aquisição de competências gerais e específicas.
Para além de ambiciosos, os programas são extensíssimos e difíceis de gerir em termos de carga lectiva. Eu pelo menos admito que todos os anos vejo-me aflito para o cumprir, seja em que nível de escolaridade, seja qual for a disciplina. E vivo neste tormento de ser obrigado a cumprir os programas (e por vezes de uma forma menos interessante e motivante) devido ao facto de os exames nacionais estarem logo ali ao virar do fim do ano lectivo...
Houve quem dissesse que a escola retira a criatividade aos jovens. E se formos a ver bem, até concordamos. Um jovem deixa de ser uma pessoa para se transformar numa média aritmética que o acompanhará até bem perto da sua idade adulta.
Em turmas de 30 alunos, os blocos de 90 ou segmentos de 45 minutos obrigam-nos a uma corrida em contra-relógio e contra aquilo que os senhores teóricos da Educação defendem: um ensino vocacionado e individualizado.
Expressão etimologica e sociológicamente bonita, mas difícil: qual o génio que por aí anda capaz de explicar o Teorema de Pitágoras de 30 maneiras diferentes...referindo que o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos em 30 formas diferentes?
Sei que exagero mas a Educação em Portugal corre a passos largos para um abismo criado pela anterior ministra Maria de Lourdes Rodrigues e que a actual Isabel Alçada se prepara para o grande passo em frente!

O Estatuto do Aluno continua a gerar falta de consenso.
No meu tempo, sabia perfeitamente que, caso ultrapassasse o limite de faltas a certa disciplina, reprovaria. Simples, claro e efectivo.
De uma forma natural, sabíamos a importância da responsabilidade.
Chumbando ou não, víamos que a vida não era propriamente um campo de moranguinhos com açúcar.
Hoje um aluno que ultrapasse o limite de faltas irá progredir (como se nada se tivesse passado) se obtiver nível positivo na disciplina à qual tantas vezes faltou. Se não atingir esse nível, entrará numa espiral apocalíptica que se denomina de Plano de Recuperação: o professor será obrigado a fazer um plano para que o menino recupere o seu aproveitamento. Depois, ser-lhe-á feito um teste. Se o menino obtiver positiva, limpa-se o cadastro. Senão obtiver, novo teste e novo plano de recuperação...
Quase que me apetece não marcar faltas!
E assim vai o Eduquês!
Andamos a formar gente habituada ao "muito" por "muito pouco"!
Discute-se agora o facto de um aluno poder transitar do 8º para o 10º ano automaticamente, se este tiver quinze anos. Por outro lado, no 2º ciclo um aluno com 3 negativas poderá transitar de ano se o encarregado de educação concordar.
Responsabiliza-se o Encarregado de Educação mas qual será no meio desta bagunça?


Se antigamente um Conselho de Turma durava no máximo 20 minutos, o mesmo Conselho dura agora cerca de hora e meia. E porquê?
Se anteriormente olhávamos apenas para os alunos com dificuldades, de forma a escrutinar as mesmas tentando encontrar uma acção consertada com via à sua recuperação, mas repartindo o ónus da responsabilidade pelos resultados obtidos entre o professor e o aluno, agora nos Conselhos temos a presença do Psicólogo: autêntico advogado de defesa de um aluno, acredita que conseguirá recuperá-lo. Mesmo sendo este aluno alguém que nada faça em prol de melhores resultados. O psicólogo está ali como que a justificar que o falhanço do aluno deve-se a um falhanço de todo o environement que o rodeia e que ele é mais uma vítima desta sociedade.
E lá criam tabelas de observação e escalas onde poderão atribuir ao aluno um grau na sua dificuldade.
Não tenciono fascizar a educação mas parece-me óbvio e sensato o facto de termos de distinguir um aluno cujas suas dificuldades se prendam com problemas de desenvolvimento neuro-fisiológico de um aluno que se está pura e simplesmente nas tintas para a escola! Há que distinguir um aluno que se esforça, mas sem resultados, de um aluno malcriado, baldas e nada trabalhador. Mas o falhanço é sempre da responsabilidade do outro lado! E aí os psicólogos agem a favor de um sistema educativo que se pretende nivelar por baixo com os olhos postos nas estatísticas da OCDE!

Caros amigos psicólogos. não vejam neste comentário um acto de insolência ao vosso mester mas considero que se exagera na desresponsibilização do aluno, atacando o sistema que o deveria integrar.

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