terça-feira, 24 de novembro de 2009

moralismos e nacionalismos

Recentemente, a selecção portuguesa qualificou-se para o Mundial do próximo ano. E seria escandaloso se assim não fosse. Era o descalabro imaginar os Ronaldos a assistirem aos jogos pela televisão.

Após a odisseia dramática que foi o processo de qualificação, e após umas belas bolas no barrote em pleno Estádio da Luz ,que fizeram tremer não só os postes da baliza lusa, o país suspira de alívio pelo feito que muitos julgariam, ao início da fase de qualificação, ser dado garantido.
Não venho aqui debater opções tácticas, jogadores, arbitragens ou questões ligadas ao jogo em si. Ruis Santos existem já em grande número.
Este play-off disputado com a Bósnia trouxe ao de cima , uma vez mais, o vergonhoso trabalho de uma comunicação social que mais se assemelha aos antigos boreaus da propaganda dos regimes do Antigamente.
Sem qualquer tipo de critério ao nível de informação válida, a imprensa portuguesa cultivou, ao longo destes dois jogos disputados, um facciosismo extremo de forma a galvanizar a populaça contra um país que ainda nem sabe se o será mesmo.
A Bósnia, sendo um dos mais jovens países reconhecidos pelas Nações Unidas, via nesta dupla jornada de tudo ou nada uma oportunidade de se assumir perante os demais países (mesmo aqueles que nunca abonaram a seu favor no que toca à auto-determinação). Aguerridos ou não, os jogadores bósnios estavam no direito de defender a honra da sua bandeira.
Esta defesa da honra foi entendida pela Imprensa portuguesa quase como uma declaração de guerra. As reportagens feitas pelos diferentes canais televisivos à chegada da comitiva portuguesa a Sarajevo relembraram os repórteres de guerra americanos durante a Segunda Guerra Mundial que fotografavam actos de heroísmo, bravura e coragem de modo a manterem uma opinião pública favorável nos EUA. Exemplo disto foi toda aquela tragédia grega aquando a cobertura jornalística da chegada da comitiva à capital bósnia.

O facciosismo português condena eventuais actos de nacionalismo por parte de outros mas, sempre que a si toca, tudo se justifica. Até os assobios que se ouviram na Luz aquando da entoação do Hino da Bósnia.
Os comentadores que fizeram a cobertura do jogo traçaram um perfil negativo da Bósnia, chegando mesmo ao escárnio fácil como se o nosso país fosse exemplo para alguém! Até parece que os nossos estádios são perfeitos e que tudo funciona em Portugal às mil maravilhas: basta ver o recente caso do jogo da Taça de Portugal, entre a Oliveirense e o Porto, adiado devido às péssimas condições do relvado.
Muito já mostrou a Bósnia. Entre 1992 e 1995, foi um dos países envolvidos numa guerra fraticida. Milhares morreram ora por via militar, ora por via das consequências civis inerentes a um conflito armado ou mesmo devido a abusos e desrespeito pelos direitos humanos (como foi o caso dos genocídios a populações bósnias, muçulmanas e croatas sob responsabilidade de Radovan Karadzic, sob o pretexto de reunir todos os sérvios num grande país denominado de Grande Sérvia).
Os jornalistas portugueses ignoraram estes factos. Não souberam explicar à população portuguesa as desconfianças e o espírito combativo com que o seleccionador bósnio apelou aos jogadores e cidadãos.
Garantimos a presença na África do Sul. Mas continuamos sem atingir a nossa grandeza ética.

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