sábado, 10 de outubro de 2009

uma nova era...

Realizam-se amanhã as eleições que definirão a mancha do poder local para os próximos quatro anos.
Ainda na ressaca das legislativas, os partidos e coligações ressalvam já a óbvia diferença entre as eleições para S.Bento e aquelas que amanhã se desenrolarão.
O PSD foi o principal derrotado a 27 de Setembro. Depois de uma expressiva vitória para a Europa, o ego dos seus representantes subiu de tal maneira que a confiança demonstrada por Ferreira Leite e seus súbditos apontaria para uma reviravolta no poder legislativo e executivo. Sócrates, minado por sucessivos golpes na opinião pública, mudou o seu comportamento de arrogante errante para uma humanização piedosa da sua imagem. Sabia que repetir os resultados de 2005 seria impossível. Após tanta lavagem de roupa suja em águas turvas de incógnitas, Sócrates ainda chegou a sonhar com essa renovação da maioria absoluta. Ainda para mais após a facadinha de Cavaco Silva no seu PSD.
O empate técnico nas sondagens de princípios de Setembro virava, a uma semana do acto eleitoral,o barómetro a favor do PS.
Mesmo com maioria relativa, Sócrates consegue mais deputados do que uma possível coligação PSD/CDS. Paulo Portas torna-se assim o joker no xadrez de S.Bento. Chega aos dois dígitos e consegue o bronze, para infortúnio e raiva do Bloco de Esquerda.
O CDS-PP fez, se calhar, a melhor campanha eleitoral. Quando confrontado por jornalistas em fugazes arruadas por mercados, feiras e romarias, Portas abria o livro e demonstrava a argúcia própria de um maquiavelista: em poucos segundos, a clareza da sua comunicação descrevia o seu programa de governo e propostas. Algumas delas polémicas mas, para mim, racionais.
Aliás, já algumas vezes elogiei aqui Portas. O dedo apontado aos abusos no que respeita ao usufruto de Subsídios e à questão da segurança interna e execução de penas fez com que muitos o apelidassem de fascista social. Em época de crise social e económica, para a esquerda, seria absurdo defender a abolição de subsídios sociais. Mesmo assim, e perante as tentativas de denegrir os seus reais intuitos, Portas jurou seguir avante com o seu programa.
Quando as sondagens tendiam para um enterro definitivo do CDS, surge Portas, no seguimento das europeias, como grande vitorioso destas eleições.
E não é de estranhar que, após tanto tempo, se volte a falar do caso dos submarinos comprados durante o magistério de Portas na Defesa... voltou Portas a ser perigoso...
Quanto ao Bloco, respira de alívio pelos resultados obtidos. Afinal de contas a batata quente de ter de governar não passa para as suas mãos. O objectivo foi conseguido: derrotar a maioria absoluta de Sócrates e preencher mais uns lugares no hemiciclo. Louçã é inteligente e nota-se alguma paixão verdadeira na sua retórica inflamada. Mas já não estamos no Verão Quente de 1975...
Quanto ao sempre vitorioso PCP, a sua derrota mais significativa explica-se pela ultrapassagem do Bloco levando a que Jerónimo passe a olhar Louçã de baixo para cima. Mesmo assim, Jerónimo de Sousa cumpriu aquilo a que se propôs: fomentar a luta social e alertar os trabalhadores para as injustiças. Talvez com o eleitorado mais fiel, o PCP mantém-se em S.Bento, autodenominando-se de real voz do povo trabalhador contra os abusos do patronato.

Estamos na fases das possíveis coligações e entendimentos. Ferreira Leite, com pior resultado que Santana Lopes em 2005, afasta a eventualidade de entendimentos com o governo socialista. Portas assume que será e se manterá fiel aos compromissos com o seu eleitorado. Louçã e Jerónimo falam não de coligações mas sim de entendimentos quanto a propostas políticas.
Todos vaticinam a fragilidade desta legislatura se nenhuma coligação for feita.
A meu ver, permanecem os interesses partidários à frente dos reais interesses nacionais. Manuela Ferreira Leite persiste numa birra anti-socialista. Os ilustres membros sociais democratas falam já numa sucessão. O PSD necessita de sangue novo. A possível recondução de Marcelo Rebelo de Sousa já foi, por ele mesmo, refutada. Avança Passos Coelho, mesmo não estando nas listas, como alternativa para colocar alguma juventude no sumo hipovitaminado da laranja.
Parece-me arriscado face à falta de experiência parlamentar do antigo líder da jota social democrata.

Com as autárquicas de amanhã, espera-se um triunfo do PSD. Sem dúvida que o PSD é um partido de enorme força em termos de poder local. Mesmo afastado do poder central há já muito tempo, os autarcas do PSD revelam uma enorme força nos concelhos e freguesias. Aguarda-se com expectativa o resutado em Lisboa. Penso que António Costa ainda não teve tempo para mostrar o que poderá fazer. Se em dois anos a casa ficou mais arrumada, Santana responde com obra feita: túnel do Marquês e promessas de mais túneis e grandes obras públicas de forma a melhorar a circulação na capital. António Costa é contrário no que toca a privilegiar a circulação automóvel: uma acção mais controlada da Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa, estimulando o uso do transporte público e das possíveis ciclovias (em termos geográficos, Lisboa não é Londres, Paris nem Amesterdão...). Santana quer taxar automóveis que entram na cidade (à boa maneira londrina).
No Porto as coisas estão mais que decididas. Rui Rio não teme e está seguro, mesmo com os problemas durante o seu mandato inicial. Em Gaia, Luis Filipe Menezes não preocupa. Interessante será a luta em Faro, em que Macário Correia perde pontos para o PS.
De resto, os corruptos continuarão a merecer a confiança do eleitorado: Isaltino Morais continuará em Oeiras, dono e senhor, mesmo na eventualidade de vir a passar sete anos na prisão. Valentim em Gondomar e Fátima em Felgueiras. O Alentejo continuará de foice e martelo nas mãos e o Bloco e o CDS procuram que a onda crescente faça também eleger aguns vereadores bloquistas e centristas nas Assembleias.
As autárquicas são eleições que se distanciam das legislativas pois não representam um real espelho do Portugal partidário: muitos serão os eleitores que, nas autárquicas, não votarão exactamente no mesmo partido que votaram nas legislativas. Penso que estas eleições são eleições que mostram faces e figuras. Não cores e símbolos. Havendo candidatos que ocupam os cargos há cerca de 33 anos, os concelhos têm medo de mudar. Vamos ver...

Falando agora de outro assunto... a atribuição do Nobel da Paz ao presidente Obama vem colocar um enorme peso nas suas costas. Mais do que reconhecer trabalho já feito, esta atribuição vem em boa altura. Apesar de recém eleito, Obama já revelou vontade. E sabe que a herança é árdua e pesada. No seu discurso de agradecimento/espanto, de forma inteligente o presidente dos EUA disse que, possivelmente, o trabalho a que se propõe realizar nunca o irá ver concluído mas é sua vontade contribuir para que as futuras gerações gozem e disfrutem desse seu empenho. Não sendo Jesus Cristo nem Ghandi, Barack Obama sabe do peso que tem na diplomacia mundial. Mas sabe que os lobbies americanos têm já raízes profundas. Não sendo tarefa fácil, a Paz no Mundo (e seja lá qual for o significado desta tão relativa expressão) não é possível a curto prazo. Mas passos largos serão dados. E foi a partir desta determinação e apoio que a Academia Sueca decidiu reatar boas relações da Europa com os EUA. Não sendo o primeiro presidente a recebê-lo (já Jimmy Carter o havia recebido como homenagem ao seu empenho na questão do desarmamento nuclear americano/soviético durante os anos 70), Obama poderá ver neste prémio os anseios de todo um mundo cansado de conflitos e voltefaces no que diz respeito a ameaças de guerra, terroristas e ambientais. Será este prémio bem recebido no mundo islâmico?

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostava de saber a tua opinião após os sufrágios e concordo totalmente com o Nobel a Obama...Fico à espera do comentário às eleições.
beijos à Alexandra e ao Diogo e é bom estares de volta.
Lia

Luis Ferreira disse...

ena , primeiro ameaças com o silêncio depois é uma "avalanche" de posts :-)))) e todos muito interessantes. Gostava de meter uma colherada no assunto das autaquicas , tenho uma prima que foi candidata à CM do Entrocamento pela CDU. Como sabes , é no Entrocamento que o BE teve a maior votação nacional nas legislativas, proporcionalmente é claro. Não conseguiu ser eleita , aproveitei para falar um pouco com ela sobre o fenómeno BE e confirmei as minhas "impressões". Não coisa que se explique num post ,é mais para uma conversa com umas bjecas e tremossos à frente ! :-)

JPD disse...

Ora aí está um caso digno TVI!!!!!!! :)))))))