terça-feira, 8 de setembro de 2009

os fatídicos anos do plástico: houve boa POP nos 80's?

Actualmente está na moda a arqueologia dos anos 80. É engraçado pois, há cerca de 10 anos atrás, andava eu a descobrir o bom que os anos 70 nos legaram em termos musicais. Penso que, a partir de 2011, voltaremos a ver malta vestida de calças da tropa, botas Doc Marteen's e camisas de veludo aos quadrados como que suspirando pela época em que Seatlle era a Meca do mundo musical, assim como tocar desafinado (crítica não minha mas de gentes que torceram o nariz ao advento da musica grunge, alegremente eufóricos após a morte de Kurt Cobain), com uma enorme carga de sentimentos maníaco-depressivos, é que era de macho.
Ainda antes de toda esta febre pela música e pulsar popular de há cerca de vinte anos, muita gente referia que essa mesma música era do piorio. O POP dos 80's era ridículo, piroso e aberrante na sua essência, assim como os cabelos com laca, maquilhagem e o guarda-roupa onde cores como o rosa choque, laranjas, amarelos e padrões tigrados abundavam de forma dominante.
Hoje chegamos à conclusão que, afinal de contas, esses tempos já nos manifestam uma certa nostalgia. Era a época do POP electrónico. Cada trecho musical (na sua maioria respeitando as medidas certas em termos radiofónicos e não excedendo os famosos três minutos de duração) era um autêntico mergulho nas potencialidades sonoras dos sintetizadores digitais (que se afirmariam na década de 80).

A nanotecnologia permitia poupar em espaço: se os computadores deixaram de ocupar salas e salas, os teclistas deixaram, progressivamente, de estar obrigados a acartar um piano, mais um órgão, mais um sintetizador analógico e mais dois ou três instrumentos para fazer um espectáculo ou uma gravação. O mítico Yamaha DX-7 foi rei nos anos 80. Rara será a banda ou artista que não se tenha, nessa altura, cruzado com essa pequena maravilha do mundo da tecnologia digital.
E por isso ouvimos estas músicas POP 80's e, como que a admirar as várias tonalidades cromáticas e expressivas de um quadro, sentimos nesses 3 minutos, 3 minutos e meio a assumpção de toda a música POP.Um verdadeiro desfile de sons e sonzinhos e refrões emblemáticos que se agarram, que nem uma lapa numa rocha, aos nossos ouvidos alastrando, depois, a todos os sentidos.
É perigoso afirmar que os 80's foi a época menos dourada da música POP. Assim como seria tendencioso afirmar que seria nos 60's a Golden Age da POP. Tempos, espaços e protagonistas à parte, se hoje em dia qualquer boteco faz uma festa plena de saudosismo dos oitentas, não menos verdade será que, há uns anos atrás, gozava-se com a música dos anos 80. Mas esquecemo-nos que as grandes bandas esgotaram-se nos anos 80. Os U2? Os Simple Minds? Os Cure e os Smiths? Até os Stone Roses lançam a sua obra-prima em 1989! E os Echo & The Bunnymen que, numa altura de invasão electro pop cheesie nos tops de 1984, lançavam Ocean Rain.

Para muitos daqueles que enchiam estádios em meados de 80, a seguinte década observaria a sua plena decadência, filtrando-se apenas aqueles que se reinventariam (lembro aqui a metamorfose dos U2 em 1991 com o disco Achtung Baby).
Mas o que será isto do POP dos anos 80? Será que houve bom POP nesses fatídicos anos do plástico,como eu já ouvi, curiosamente, chamar?

Esquecidos por muitos, os Prefab Sprout foram daqueles poucos momentos em que a POP dos 80's transcendeu os seus cânones mais rígidos. Numa altura em que as Samanthas Foxes e as Sabrinas enchiam de testosterona os tops com músicas que mais se assemelhavam a ilustrações sonoras dos calendários das oficinas, na Inglaterra ,que tanto à música deu (e continua a dar), um jovem chamado Paddy McAloon apresentava uma série de canções de formato POP mas muito maneirista na forma como encarava a POP que se consumia na altura.
De harmonias nunca dantes navegadas, combinando sucessões de acordes aos quais muita gente torceria o nariz pois não soariam bem, McAloon criava magia perante tão desaguisado musical. Mas torneava a estranheza pintando de requinte as suas canções POP.
Em 1985, o álbum Steve McQueen (que nos EUA intitular-se-ia Two Wheels Good, devido a um processo jurídico imposto pela filha do famoso actor) apresentava-nos uma banda que desejava ser marginal face ao mainstream existente nesse ano.
McAloon compunha canções simples mas cheias de personalidade. Em termos líricos, o seu discurso cruzava a fluência do mais requintado lirismo e, ao mesmo tempo, tocava a simplicidade do discurso sem qualquer pudor ou preocupação formal.
Actualmente, e numa altura em que os Prefab Sprout lançam um novo álbum (que não é novo pois já está para ser lançado há cerca de 17 anos e que vê em 2009, finalmente, a luz do dia), de seu título "Let's change the world with music", voltei a ouvir a masterpiece Steve McQueen e o conceptual Jordan: The Comeback, de 1985 e 1990, respectivamente. Voltei a esta impressão de desfrutar do que afinal de contas a POP tem de bom. Paddy McAloon tem uma voz única e carismática. Suave e grandiosa. E parece que os anos por ele não passam...

Se alguém dúvida de que a POP também tem disto ... deixo aqui a recordação de When love breaks down, de Steve McQueen..
A ver se arranjo este novo álbum "Let's change the world with music"...


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