sexta-feira, 29 de maio de 2009

make treks, not wars!


Finalmente lá fui ver o novo Star Trek ao cinema. Sem qualquer tipo de preconceitos, e atendendo a tudo o que li e vi acerca deste filme, procurei acima de tudo um belo serão de sexta-feira, pautado pela descontracção e simples acto de catarse que uma sala de cinema pode sempre proporcionar. 
Depois de tudo o que conheci a priori acerca do Star Trek de J.J Abrahams, apaziguei a alma quanto ao pendor cerebral que um fã da série de Gene Roddenberry procura sempre, seja numa série, seja num filme. E já são 11 filmes e cerca de 6 séries (se contarmos com a excelente série animada dos anos 70).
Incondicional da série original e apreciador da Next Generation, ouvi dizer que se tratava (este novo filme) de uma revitalização de um património cultural há muito em estado de letargia (mesmo agonizante). Salvem-se os comic books! Aí, todo o património genético que nos faz gostar de Star Trek parece ter ficado preservado: bons livros, muitos deles escritos por argumentistas da série original e conhecedores fidedignos da mitologia trekie.
Comecei mesmo pelos quadradinhos: a IDW lançou em Abril a ante-câmara do filme. Star Trek Countdown desvendava as origens de Nero, renegado romulano que decide vingar-se dos vulcanos (mais concretamente Spock, agente diplomático vulcano em Romulus) pela morte da sua mulher.  
Realmente, abriu-me o apetite. Mas poderia ter ficado pelos livros.
O novo Star Trek obedece a todos os critérios típicos do pleno blockbuster americano: acção desenfreada, actores bonitões e actrizes sexy, humor quando o momento não é para se rir e efeitos especiais típicos do cinema actual em que cada vez mais se filma sem recurso à câmera!
Como o Nuno Markl disse: "A Enterprise foi à revisão!"...
Em relação ao argumento, ficamos a saber como Kirk se encontrou com a restante tripulação. Muitos são os piscar de olhos às mais antigas séries e filmes...para conhecedores! Mas acima de tudo, J.J Abrahams mostra que os mais antigos fiéis à série não são o seu target mas sim angariar novos recrutas que mantenham os motores da Enterprise no activo. Se gostarem, porreiro mas acima de tudo há que recrutar novos fãs.
E isto preocupa-me!
Claro que concordo que as coisas devem evoluir e mais estranho seria, 40 anos após a estreia da série nos EUA, que as coisas se mantivessem.
Não digo mal por dizer mas considero que o espírito cerebral e reflexivo e a intriga filosófica têm os dias contados (agora que é por si de mais evidente que sequelas serão feitas). E este era o lado que me fazia apreciar Star Trek. 
Por momentos, ao longo do filme, ainda pensei que houvesse uma luta ou outra de sabres luminosos... 

Penso que, para quem está por dentro de Star Trek, a personagem fulcral de Spock é insuficiente: demasiado humano e sentimental. Kirk demasiado rebelde e longe da abnegação que o caracterizava. Uhura, demasiado exposta à sensualidade. Tchecov, que arrancou enormes gargalhadas da plateia, passa ao lado quanto à intenção desta personagem. Talvez McCoy/Bones se aproxime da personalidade a que DeForrest Kelley nos habituou.
Ok! É o relato de quando ainda todos andavam com as hormonas aos saltos!!! Mas mesmo assim...INSUFICIENTE!
Penso que esta nova geração a quem o filme se dirige entenderá Star Trek como mais uma série de naves e lutas no espaço...a tripulação mítica da Enterprise (que nos anos 60, em plena Guerra Fria, Revolução Sexual e questões raciais) que agrupava mulheres, chineses, pretos e russos numa utópica instituição americana pode cair no esquecimento. Ou pelo menos a sua essência.
Demasiado fraco e dispensável. 
 


Sem comentários: