terça-feira, 17 de março de 2009

no horizonte (quase) nada de novo

Tem sido assim ao longo dos tempos!
Um disco novo dos U2 gera sempre enorme ansiedade nos espíritos: se por um lado os fãs da banda irlandesa rejubilam com mais um trabalho que se pensa ser "o último de uma bonita carreira de trinta e tal anos", os mais atentos ao fenómeno da música pop encaram sempre com reticência uma efeméride deste calibre dada a constante camaleónicoantropia que sempre Bono e Cª habituou o mundo da música. Mesmo longe da produção em série própria de um início de carreira durante os anos 80, os U2 marcaram as rupturas e as novas tendências dos 90's lançando poucos mas marcantes discos. Achtung Baby (1991) inaugurou, juntamente com Nevermind dos Nirvana, os anos 90 e (felizmente) calou a goela a tantas personagens que cirabandeavam o universo  Rock FM, Hard Rock clássico e Pop Xunga que, em anos não muito distantes dessas alturas, conspurcavam de forma enjoativa os escaparates e tendências musicais. Se calaram a boca a uns, trouxeram para a vanguarda outros. Muitos se renovaram, muitos se esfumaram. Depois, Zooropa (1993) assumiu-se como um lógico irmão bastardo do belíssimo e controverso disco de 1991. Pop (1997) determinou o fim do acto de loucura: apesar do brilhantismo das canções que o integravam, o disco mais eclético e louco dos U2 inovou mas não convenceu de forma unânime: pela primeira vez a Internet, desvendou um disco seu obrigando a banda a trabalhar de forma mais rápida. E como diz o provérbio, a pressa é inimiga da perfeição. O disco revela autênticos problemas de produção embora com notáveis momentos (Discoteque, Gone, Please, Mofo, Wake up dead man) que ganhariam (e não foi pouco) com a transformação desses mesmo temas ao vivo. Pelo meio, um disco do alter ego da banda, "Original Soundtracks-The Passengers" que nos trouxe um trabalho típico de estúdio feito a meias com Brian Eno, Daniel Lanois e outros sob enorme signo da inspiração.   
O novo século abriu com uns U2 à defesa.
Acima de tudo estavam as canções nuas, cruas e puras de "All that you can't leave behind". Talvez menos interessantes. Mas sem dúvida de enorme eficácia. Era a crise da meia idade
Em 2004, apesar das promessas de um álbum de guitarras e amplificadores a espumar de raiva, "How to dismantle an atomic bomb" confirmou estes U2 afectados pelo (dito por muitos) fracasso de Pop. De simples trocas de bola, sem grandes brilhantismos ou mestria técnica, os U2 voltavam à fórmula antiga: Steve Lillywhite, que havia produzido os primeiros discos (Boy, October e War) encabeçou uma equipa de produção que acima de tudo mostrava uns U2 de barbinha feita e chinelinho confortável no pé.
E chegamos a 2009. Após reedições,dvds e colectâneas, os irlandeses anunciam Rick Rubin como timoneiro na fabricação de novo disco. Após algum tempo, arrependem-se. Prescindem de um dos mais conceituados produtores a nível mundial (que qualquer artista daria a p...a para ter um disco com a chancela deste senhor) e vão buscar os velhos amigos que compõem a dupla Eno & Lanois. Autênticos globetrotters, a banda procura ideias na aridez do Saara marroquino.
O resultado está aqui na minha mão: "No line on the horizon".
É-me difícil dizer o que penso acerca de um disco destes senhores que me acompanham desde sempre e que tanto me deram. Mas assumo desde já que tudo o que eu escrever poderá mudar com o tempo. Isto é muito intuitivo e quis guardar uma opinião para depois de conhecer este novo álbum de forma segura. Quem me conhece sabe que sempre fui muito céptico em relação aos U2. Talvez má habituação e mimos a mais. É uma autêntica amargura o momento em que escuto algo novo destes tipos. 
Não sei se valeria mais a pena referenciar cada canção, uma por uma mas eu odeio singles. Um álbum é um todo. É um quadro. É um livro que merece ser entendido como um só.
Mas uma coisa eu assumo: este disco tem as melhores canções que os U2 fizeram desde Pop (não inclusivé!). As canções "No line on the horizon" e "FEZ-Being born" são estimulantes, não pela inovação, porque não o são, mas sim pela destreza e valor que têm em si! Adoro quando os U2 aderem ao caos sónico típico do tema que dá título ao disco e à ambiência de "Fez-Being Born"!
Pelo meio encontramos aquilo que estes senhores nos habituaram nos últimos trabalhos: cantigas de lá-lá-lá dizer cheias de Coca-Cola, Big Macs e Stars & Stripes (Breath, numa abordagem lírica aos grandes trovadores americanos, e Stand Up Comedy, em que Bono estabelece uma retrospectiva da sua vida como activista que, tal e qual Napoleão, é um pequeno homem de grandes ideais). 
Depois temos algumas músicas que prometem mas não explodem: "Unknown Caller", em que o refrão sincopado é o melhor que a música terá, "Moment of Surrender",que chegou a fazer lembrar os tempos de Berlim mas que rapidamente se perde essa sensação face ao cariz gospel que a canção ostenta (não obstante o magnífico trabalho que The Edge mostra nesta faixa).
Num diferente nível, "Magnificente" relembra-nos uns U2 de tempos idos. Um autêntico "coming out from the past" mas que seria, em 1984 e 1987, um excelente B-Side. Um dos melhores temas do disco... (!!!)
Depois, as experiências mais calmas: "White as snow" e "Ceddars of Lebanon" que trazem alguma introspecção ao disco, com a minha preferência a incidir sobretudo na segunda. 
Por fim, temos o lado que eu mais odeio nos U2: o de querer ser uma banda pop para ter airplay na MTV. "I'll go crazy if i don't go crazy tonight". Com um título destes só poderia estar à espera do pior. E não me venham dizer que "Sweetest thing" é pop do pior pois não é! E tomara esta ter a mesma mística que a música que Bono dedicou à mulher como perdão por se ter esquecido do seu aniversário. Coloco esta música ao nível de "Staring at the sun",  tema de "Pop"que continua a passar na rádio, e este talvez nunca o venha a conseguir... (se esse será o intuito dos U2 ao comporem um tema destes).
Em relação a "Get on your boots", já disse tudo o que tinha para dizer. Acrescento que ao vivo até poderá ter força mas não me chateia nada se não o ouvir  em concerto.
Para concluir e em jeito de síntese.
"No line on the horizon" é um disco que não chateia, em que as melhores músicas do disco são realmente muito boas mas que revela uns U2 pouco criativos. Volto a dizer que nunca aconselharia alguém que quisesse conhecer os U2 a começar por este disco pois de certeza que lhe passaria ao lado. 
Apesar dos sebastianismos de um novo "The Joshua Tree" ou "Achtung baby", este álbum enquadra-se perfeitamente no ciclo da banda durante esta primeira década do século XXI.
Um disco que tem de ser ouvido com calma. Não é fácil. 
Pontos positivos: as letras de Bono! Desde Pop que não lia tão boas letras nas cantigas dos U2 (salvaguardo "The Ground beneath her feet", letra de Salman Rushdie). O carrossel de sons e produção de Eno & Lanois, que partilham com a banda também créditos ao nível de autoria. 
Esperemos então pelo que se segue!

5 comentários:

Morning_Theft disse...

Apesar de discordar um pouco contigo pois considero este um dos melhor álbuns dos U2 (é claramente o melhor dos últimos 3), concordo na perfeição que as melhores músicas deste registo são o "No Line on the Horizon" e o Fez-Being Born").

Abraço.

PS: e a lista? :p

JPD disse...

Embora não o tenha dito de forma explícita, também considero este o melhor dos últimos três...pelo menos o mais completo!
Ás vezes penso que, ao ouvir um novo álbum dos U2, entro em paranóia e bloqueio ao não conseguir ver nada melhor do que aquilo que eles fizeram até há cerca de 12 anos. Mas deixei explícito que o tempo me ajudará a amadurecer este disco (que já o ouvi até à exaustão e como sei que tu agora tb és um saudosista do vinil, aconselho-te a edição em vinil pois tem outro som...) e talvez se torne um grande álbum! Mas volto a dizer: gostei do disco mas...falta sempre alguma coisa!

Anónimo disse...

www.bemhajas.blogspot.com

Luis Ferreira disse...

Concordo em geral com a tua apreciação.
Gostaria que o 1º single tivesse sido o Fez.
A música que menos gosto é também a Crazy , é The Corrs com participação do Bono :-))))
Há uma frase da Stand Up que eu me atreveria a mudar para :
"Hei Bono! Stop "helping" U2 across the road like a little old lady"
No fim do Cedars temos talvez os melhores versos de todo o album...

Choose your enemies carefully ‘cos they will define you
Make them interesting ‘cos in some ways they will mind you
They’re not there in the beginning but when your story ends
Gonna last with you longer than your friend

Luis Ferreira

JPD disse...

Não acho o Fez uma música que pudesse ser orelhuda para a rádio, ou seja, single. Nem é isso que eu procuro. aliás, não tenho ouvido o boots na rádio nem tv.penso que a aposta foi frustrada! e considero que o álbum não tem singles. é um todo. apenas o magnificent aproxima-se daquele conceito. o moment of surrender? para ser single teriam de lhe cortar 4 minutos para ter 3 minutos para a rádio!!!!