segunda-feira, 23 de junho de 2008

mais um gomo da laranja


Sem surpresa de maior, Manuela Ferreira Leite chega à liderança do politburo laranja.
Considero que a campanha disputada a 4 foi morna e sem ideias e alternativas meritórias de algum burburinho saudável.
Acima de tudo, tentou-se fazer passar para as bases, e acima de tudo para a opinião pública, a ideia de um Partido em renovação, de brainstorming útil e de contornos democráticos.
Não é fácil para um partido, habituado ao poleiro, experimentar esta travessia de quatro anos pela minoria absoluta em relação ao PS. Nisto os socialistas são já moços experimentados desde o Cavaquismo (1985-1995), o que lhes deu espaço para experiência e musculado conhecimento nas manobras parlamentares.
Confesso que Pedro Passos Coelho chegou a empolgar, fruto da sua juventude e de uma nova visão não comprometida com o passado. Passos Coelho foi aquele que, a meu ver, mais se aproximou do espírito da verdadeira Social Democracia portuguesa, apelando ao reconhecimento de uma justiça social baseada no mérito individual e contestando, embora timidamente, a questão do pagamento do “justo pelo pecador”, levado muito a cabo pelo actual executivo pós-socialista!
Mas sem dúvida, Portugal não é um país sedento por renovações súbitas e abruptas. O PSD continua a ser um partido de elite, conservador e autoritário. A falta de currículo de Passos Coelho tramou-o e nisso o país, não só o PSD, não perdoa. É preciso ver a obra feita, avaliá-la e premiar a figura, se assim o merecer. Mas mesmo assim, Passos Coelho pontuou-se à frente de um desgastado Santana Lopes.

Santana, mestre na arte da Oratória, venceu debates e discussões. Sorri para as câmaras e verbaliza todo um discurso de forte eloquência. Mas nem isso foi suficiente para fazer esquecer todo um passado recente em que tramou e foi antes tramado. Vai continuar a andar por aí…
Ferreira Leite é a senhora que se segue.
Acusam-na de velha, ligada e comprometida com os males do passado mas acima de tudo continua a gozar de profundo respeito e admiração no seio do partido. Muitos vêem nela a reencarnação de Cavaco, um homem que representa o político português pós-Abril: classe média que sobe na vida pelo seu esforço; um político sem ideologia e sem camisola, que representa a praxis que deve nortear o sentido de Estado.
O XXXI Congresso laranja pautou-se pela simplicidade, pelo regresso à pureza original, o refresco das vitaminas da laranja. Sem espectáculos nem pompa e circunstância, Ferreira Leite está ali “Por Portugal”, torneando a imagem do político moderno e contemporâneo, alvo de acções de marketing e propaganda faustosa. Ferreira Leite não sabe sorrir para as câmaras. Não se pauta por eloquências nem por críticas e querelas partidárias vazias.
A “Madame Défice” está aí: as eleições legislativas são em Outubro do ano que se segue.

Mas antes, há que enterrar de vez o machado da guerra dentro do partido. Santana Lopes foi a estrela, que Ferreira Leite não foi (nem sabe ser), no Congresso: apela à ética e lança a discussão etimológica sobre o que essa palavra representa para muitos ali presentes como delegados. Estranha todos aqueles que apoiaram Menezes de estarem agora a disponibilizar-se para eventuais cargos! Sob a manta do “Obviamente colaborante”, muitos se protegem.
Senhora de reconhecido génio nas áreas económico-financeiras (pelo menos a nível académico), Ferreira Leite tem já pouco tempo! Isto se pretende chegar ao eleitorado. Há que demonstrar ao país o porquê do PSD, quais as diferenças entre este e o outro partido cada vez mais agregador de um lugar na esfera ideológica que, antigamente, lhe pertencia.
Novas ideias que façam o eleitorado socialista de 2005, desgostoso na altura com o PSD, retornar, em 2009, mais à direita, não deixando a verdadeira esquerda beneficiar com esse enfraquecimento ao centro/direita.
Isto promete!

Sem comentários: