segunda-feira, 30 de junho de 2008

eterna pequenez


Assisti ontem, pela televisão, ao jogo da final do Euro 2008 entre espanhóis e alemães.
Entendo perfeitamente que os portugueses sintam enorme frustração de não estarem na final, como há quatro anos. Desde que o Scolari veio tomar conta da nossa selecção, a ambição portuguesa, em relação ao seu papel no futebol europeu e mesmo mundial, atingiu patamares e níveis de exigência nunca anteriormente exigidos. Parece que, de repente, toda a gente tirou o curso de treinador de bancada e passou a perceber de futebol.
O futebol é um jogo democrático: toda a gente o pode jogar, qualquer objecto (desde que minimamente manuseável e flexível) pode ser utilizado como uma bola, que não o tem de ser na realidade, para ser chutado, não obriga à compra de material caríssimo e apenas acessível a alguns e em qualquer metro quadrado se fazem duas “balizas” e se constituem duas “equipas” para jogar…

Desde que Portugal foi eliminado que eu apoio a Espanha: não pela proximidade geográfica e histórica, não por serem nuestros hermanos, não por desejar uma união ibérica, mas sim por simpatizar com aquela equipa. Vibrei no jogo com a Itália, fiquei feliz pela vitória contra outra selecção que eu apreciava e delirei com o banho de bola com que brindaram os alemães ontem à noite em Viena. Confesso que me emocionei ao ver o grande Iker Casillas a romper o protocolo com os reis de Espanha e a levantar a tão amada Taça!
Mereceram e, por isso, estão de parabéns!

Mas o que me traz aqui ao teclado do computador é a percepção portuguesa em redor do jogo.
Senhores da TVI que comentaram o jogo!!! Por favor!!!! Fartos de vitórias morais estamos nós!!!
Criticar a Alemanha e a Grécia (em relação a 2004) pelo futebol, adjectivado por vós, como cinzento e casmurro??? Parece que não se lembram do típico futebol português ao nível dos campeonatos nacionais e mesmo a participação das equipas em provas europeias!!!
O anti-jogo de muitos, o constante “atirar-se para a piscina” para ludibriar o árbitro de outros, agressões a árbitros por alguns e os estágios que mais pareciam bacanais!!!
A Alemanha fez o jogo que podia e sabia contra Portugal: nunca se assumiu como detentora do “melhor jogador do mundo capaz de resolver tudo e ganhar a todos”, teve sempre uma atitude profissional e ilustradora da típica forma de ser dos alemães: pragmatismo, organização e rigor. A Alemanha respeitou Portugal. Mas Portugal pensou que eram favas contadas!
Quanto à Grécia: não foi, em 2004, o futebol espectáculo mais apetecível! Como dizem os jogadores, o que interessa é o resultado, desde que obtido de forma lícita! Defendeu bem e soube contra-atacar de forma mortífera quando podia, sabendo das dificuldades!
Será que não se lembram da miséria de jogo que Portugal realizou na final do Estádio da Luz? Portugal falha nos momentos cruciais e por isso merece ficar no “quase”!
Se é para falar de futebol espectáculo, o que dizer da Holanda este ano?

O futebol é um jogo de arte e rigor! Por mais Nossas Senhoras dos Escaravelhos e bilhetinhos a la Escola Primária, enquanto não ganharmos mais cabecinha fria e rigor nestas alturas decisivas, seremos sempre o espelho da frustração!!
Por isso, irrito-me quando se tenta passar aquela escova resignada sobre as nossas frustrações para tentar lavar culpas e saborearmos vitórias morais.
Desde o simples facto de uma vitória da Alemanha na final proporcionar a Portugal a desculpa de ter sido eliminado pelo campeão ou, no caso de uma vitória espanhola (como veio a suceder), o triunfo do “perfume mediterrânico do futebol latino”!!!
Depois todo este neo-patriotismo parolo que assola, desde há cinco anos, o país: será que ser português honrado é uma obrigação apenas de dois em dois anos? E será que nos devíamos lembrar da necessidade de maior patriotismo quando fugimos às nossas obrigações para com a comunidade? Quando nos esquecemos de votar pois o dia está demasiado quente ou frio? Somos igualmente bons portugueses quando exercemos do nosso pleno direito à intrujice e ao cada um por si, sem olhar para o lado? Será que a exigência quanto à selecção não se devia reflectir numa atitude mais exigente para cada um dos portugueses, e não a eterna e típica cultura da mediania ?
Somos um país pequeno e essa dimensão não se mede pela densidade demográfica ou pela área territorial: mede-se pelo facto de constantemente chorarmos a reivindicar que temos o melhor jogador do mundo, ou o melhor treinador do mundo ou constantemente preenchermos o livro dos recordes do Guiness com aquilo que consideramos um sucesso único!!! E estarmos constantemente a estabelecer possíveis conexões a triunfos de terceiros, à espera que sejamos reconhecidos como superiores à nossa eterna pequenez!!!!
Como diria o Palma, “Ai, Portugal, Portugal! Do que é que tu estás à espera?”

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