Todos os anos é a mesma lenga-lenga!
Já cansa o dia 1 de Setembro que, anualmente, se caracteriza pelo dia em que tantos são os professores que vão para o desemprego: acaba-se o ano lectivo a 31 de Agosto e abre-se o novo ano a 1 de Setembro. Muitos são aqueles que vêem os seus contratos a chegar ao fim e a ter de enfrentar a amargura de não saber se há ou não colocação para si... em outra escola.. tão longe ou mais perto ou algures por aí. O 1 de Setembro é também um dos dias mais movimentados nas repartições do Instituto do Emprego e Formação Profissional. O subsídio de desemprego é o mecanismo de emergência que, face às adversidades, mais gente acciona.
É triste.
É atroz e é um sentimento para o qual toda a minha humanidade está em conformidade e respeito.
Sou professor. Nunca me veria, há dez anos atrás a sê-lo. Nunca me imaginaria um dia a liderar turmas e a fazer parte do desenvolvimento cognitivo e pessoal de tantos miúdos. Se me perguntarem como é que essa viragem aconteceu, já nem me lembro bem mas terei sido, algumas vezes, aliciado para seguir esta carreira... lá segui...
Mas nessa altura, temos sempre a noção que tudo na vida é fácil e tudo acaba por se resolver. Temos o luxo de viver em casa dos pais e de sermos paitrocinados. Não existem contas para pagar, prestações, filhos para educar e dar de comer. Apenas a nossa vida gira em torno de certas mordomias que nos fazem acreditar que toda a vida será um mar de rosas.
Já antes de acabar o curso, sabia que ter colocação no sistema de ensino era uma miragem. E fui em frente.
Realmente achei que era uma carreira aliciante. Não em termos de remuneração mas meritória em termos de satisfação pessoal. Estagiei. Enfrentei turmas e quase, por diversas vezes, estive à beira de me viciar em Xanax (passo a publicidade) ou desistir, face a tantos tormentos que vivi nessa altura. Por sorte acabei por ter sempre o apoio de orientadores, colegas e, acima de tudo, gente porreira que me soube acalmar e tornar a fazer-me olhar para o ensino com optimismo. Dei aulas no ensino público durante dois anos. Sempre com horários incompletos que lá davam para o tabaquinho e para ir ao cinema com a namorada.
Durante cerca de três anos não fui colocado. Concorri mas nunca obtive sucesso.
Pensei em desistir para sempre... esquecer-me do que era ser professor e ignorar este martírio anual.
Mas nunca fui subsidiado. Nunca ninguém me viu numa fila do Centro de Emprego para obter o subsídio. Desconto desde 1997. Trabalho a recibos verdes e pensei sempre em não estar à espera que do céu viesse trabalho. A minha postura foi sempre proactiva: se não dá num sítio, terá de dar noutro. Nunca tive a ânsia de largar a casa dos pais nem a loucura de me aventurar sozinho sem qualquer segurança. Trabalhei em tudo: desde limpar o chão a 3€/hora, a vender t-shirts em festivais de Verão, call-centers a levar broncas de clientes e chefes, a colocar dados em ficheiros a contrato a termo, trabalhos temporários; a carregar guitarras e amplificadores e a aturar bebedeiras de malucos em bares até às tantas!!
Ou seja...
Desenrasquei-me! Nunca ganhei subsídios nem nunca andei a protestar que a culpa de tudo isto é do governo e etc!
Faz-me confusão porque é que não se termina de vez com estes contratos ridículos, colocando de uma vez por todas os professores que fazem falta nas escolas, através de concursos públicos (tal e qual outros empregos) em que aquele que reunir melhor perfil preencherá o lugar. Porque é que todos os anos temos de assistir a esta selecção natural das espécies...a esta lotaria cruel e injusta? Estas manifestações porquê? Para os senhores dos sindicatos terem visibilidade? Apresentarem serviço? Mas será que os professores não têm um bocadinho de bom senso para reparar que não há, infelizmente, lugar para todos.
Meus amigos, ao contar-vos a história da minha vida apenas vos quis mostrar como é que nós podemos sempre dar a volta.
Acredito na bondade e acredito que um dia acharemos o nosso rumo certo. Mas penso que há muita gente neste país que sofre de um vazio em termos de readaptação, reformulação e proactividade. Ficam sempre à espera que o ovo esteja no cu da galinha! Meus amigos, do céu só cai água, meteoritos e merda de pássaro!
Renovem-se! Não caiam no erro de entrar em utopias! Infelizmente a vida é assim cruel mas a vida não acaba no dia 31 de Agosto!
Voltando ao meu exemplo: entrei para os Salesianos quando soube de uma vaga aberta na escola. Não tive cunhas. Fui à entrevista como outros foram. Tive 3 horas de interrogatório com o director e cheguei a pensar que em nada tinha resultado! Mas, felizmente, enganei-me!
Mas mesmo se não desse em nada, nunca iria fazer o escarcéu típico do 1º de Setembro! Por muito que me custasse, procuraria sempre outra coisa...readaptar-me e transformar-me! Esta é a lei da vida, tal como dizia o Lavoisier!
2 comentários:
"(...) call-centers a levar broncas de clientes e chefes(...)"
se o arrependimento matasse :(
nem imaginas o quanto te admiro!
bjs
OHHHHH TONIXA!!!! Epá por favor pára com essa auto-flagelação!!! Pensa que me ajudaste na altura em que eu não andava com grandes perspectivas... precisava de trabalho e deste-me a mão... se correu bem, se correu mal... é assim mesmo faz parte!!! :) o que interessa é que superámos isso e hoje, apesar de não nos vermos tantas vezes, continuamos a rir-mo-nos um com o outro!!!!! beijinho
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