segunda-feira, 21 de abril de 2008

a dama de ferro está de volta...

A Dama de Ferro está de volta.
O dia 24 de Maio ainda vem longe mas já se acendem lanternas na escuridão que domina o vazio da ala política mais à direita do PS.
Manuela Ferreira Leite, ex-ministra da Educação (no último período cavaquista) e ex-ministra da Finanças (no último governo PSD/CDS-PP, saindo de cena aquando da fuga mundi de Durão), assumiu ainda esta tarde a sua candidatura à liderança do maior partido da (suposta) oposição.
Há cerca de 14 anos, desde que Fernando Nogueira herdou o pesado fardo de tentar fazer esquecer Cavaco silva, sendo derrotado nas legislativas de 95 pelo tom rosa/dialogante de Guterres, que o Partido Social Democrata tem mostrado amplas fraquezas: tanto ao nível ideológico (recordemos que terá já nascido em 74 com dúvidas ideológicas quanto à sua posição política, numa era de profunda radicalização de esquerda e em que tudo quanto se movimentava, mesmo de forma ténue, à direita era prontamente conotado de reacção); como ao nível da praxis política. Em 14 anos, vários foram os líderes e timoneiros, e vários foram os coros (típicos da Tragédia Grega que traçam e marcam o destino) que se levantavam…
O PPD/PSD nasce de uma nova forma de praticar a Social Democracia, vincando nos seus estatutos a linha bem portuguesa da tradição cristã (embora demarcado da família ideológica Democrata Cristã) e do valor nacional.
Primando por uma nacional social democracia, o PSD diferencia-se do PS pela sua componente portuguesa e veiculada à tradição e cultura nacionais, sendo o PS manifestamente um partido conotado com a acção socialista internacional. Nascida da divergência filosófica e ideológica em relação ao Marxismo, a Social Democracia movimenta-se nas tendências reformadoras moderadas e anti-revolucionárias na construção da sociedade mais justa e democrática; primando como valores fundamentais a livre iniciativa e o fortúnio do mérito e da inovação, mantendo o Estado apenas como árbitro no sector económico, não interferindo no jogo de forma directa.
O PSD considera que a base de riqueza de um país deve estar no benefício trazido pela iniciativa privada e não na iniciativa/controlo estatal.
O PS assumiu-se, pelo menos aquando da sua fundação em 73 por Mário Soares, como um partido anti-revolucionário e favorável a uma transição igualmente moderada mas, na base da diferença, estará a sua visão reformadora do que seria um Estado Socialista: o Estado como mantenedor de importantes sectores económicos, estando para a iniciativa privada guardada a fatia restante: o Estado como apoiante e interveniente na iniciativa privada, gerando consórcios e cartéis subsidiários para o desenvolvimento sócio-económico, evitando selvajarias.
O PSD nasce da própria discordância no seio do Partido de Marcello Caetano, a Acção Nacional Popular (ANP), por Francisco Sá Carneiro e Miller Guerra quando estes viram que a fachada da Primavera Marcelista não passava disso mesmo: a inexistência de garantias para uma verdadeira prática democrática.
O Partido nasce em 1974, num período de enorme crispação ideológica. Por vezes, a segunda metade de 74 e o ano de 1975 iriam ser os anos em que o PPD (sigla inicial) seria conotado, pela esquerda mais radical, como a legitimação do legado reaccionário em forma de partido político. Daí o nome PPD (Partido Popular Democrático) ter uma noance menos chocante para o fervor da época revolucionária portuguesa.
O CDS nasce na mesma altura e assume a sua maior vontade de concentrar equilíbrios ao centro, não se esquecendo, igualmente, da linha tradicionalista moderada portuguesa de inspiração católica progressista.

Nos dias de hoje fala-se e debate-se muito acerca da recessão ideológica que confunde os dois maiores partidos portugueses: a questão do Bloco central, tentando, longe das profundas diferenças de outrora, arranjar consensos mais amplos. Tanto à esquerda como à direita.
Qual o perigo disto?
Fernando Rosas, em entrevista à SIC Notícias, falou de um país demasiado pequeno para duas ideologias que convergem na mesma praxis. Que espaço tem este PSD numa altura em que a “travessia no deserto” que faz é condicionada por um outro partido que, lentamente, e aos olhos da opinião pública e do eleitorado, se chega cada vez mais para o território que habitualmente lhe pertencia?
Durante três anos, o PS (Partido Socrático) tem levado a cabo uma política económica profundamente conotada com o que de mais puro se faria num possível governo laranja. A demissão do Estado de anteriores obrigações constitucionais (Serviço Nacional de Saúde, Função Pública) e a entrega de importantes fatias a privados para a gestão de empresas (o caso da EDP e a concorrência que se pretende no sector energético) fazem do PS um Partido que foge da tradição e da base.
Veja-se a OPA da Sonae sob a Portugal Telecom; em que a venda da golden share que o Estado (pela Constituição legitimado) detinha apenas foi travado pela Alta Autoridade para o sector das telecomunicações. Isto agravado pelo facto da ordem supranacional vinda de Bruxelas ter multado o Estado português pela retenção dessa mesma golden share.
Ou seja, o PS anda à nora!!!
Ou liberta ou contrai…
Nos últimos tempos, ouvimos falar do fim da gestão privada no Amadora-Sintra. Medida de cariz socialista puro! Mas já ficámos a saber que o novo Hospital de Todos os Santos terá capitais privados e públicos. Se falássemos em Socialismo moderado, veríamos o PS a primar pela sobrevivência do verdadeiro Estado Providência (uma das grandes obras do Socialismo Moderado no século XX, na matriz das Frentes Populares e Trabalhistas anglo-francófonas) em que a manutenção dos serviços públicos como é o caso da Saúde deveria ser uma das suas principais bandeiras.
Assim sendo, temos um PS a virar mais à direita, mantendo também um ombro encostado na esquerda, tirando de um lado e pondo no outro. Este é o verdadeiro jogo da política.
Será possível uma oposição a si mesmo?
Ou seja, o PSD tem condições de lutar contra aquilo que sempre defendeu?
Realmente, a diferença deve vir ao de cima. As eleições não podem ser adiadas devido a reformulações no partido.
O partido deve reformular a sua relação com o possível eleitorado que terá perdido e que poderia, eventualmente ganhar, mostrando ideias e alternativas e não demagogia barata como, por exemplo, no espaço de seis meses a televisão pública deixar de ter publicidade…
Largos e vastos são os apoios a Ferreira Leite.
Desde Marcelo Rebelo de Sousa ao super-munícipe Rui Rio. A corte e a nobreza de sangue laranja está com a Dama de Ferro lusitana.
Para além de tudo, é uma mulher e penso que as mulheres, se tivessem tido mais oportunidades ao longo da História, talvez o mundo fosse melhor hoje em dia.
Ferreira Leite, de certeza, ganhará o congresso de dia 24 de Maio. Mas não ganhou o eleitorado. Isso é que define a razão e o sentido das coisas. Que ideias? Que alternativas? Que oposição poderá fazer a diferença? Acredito num retorno às origens…à magna carta social democrata e acredito que a ex-super ministra reúne, finalmente, o consenso que se pede.
Boa sorte!

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