segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

RELATÓRIO SEDES: ESTAREMOS PERTO DE UMA CRISE SOCIAL?

O relatório da SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social), publicado no final da semana passada, vem alertar para um relativo estado calamitoso da nossa sociedade e economia, chegando mesmo a antever a possibilidade de o cenário evoluir para uma profunda crise social.
O que é uma Crise Social?
Realmente, o termo é muito amplo e gera-se pela multiplicidade de factores que se relacionam como causa e/ou efeito.
O relatório já foi desvalorizado pelas autoridades responsáveis: as dificuldades em Portugal são visíveis mas defende-se a tese de uma grande evolução, embora não sustentada. Ou seja, que permita um relativo e seguro take off com vista ao grande passo em frente rumo ao tal futuro que poderia ser risonho.
Uma Crise Social gera-se a partir do momento em que os factores políticos, económicos, sociais e culturais geram na Sociedade uma profunda tensão e desacreditação total: descrédito em relação às instituições que asseguram o pleno funcionamento de um estado de direito, descrédito em relação à sustentabilidade económica do comum dos mortais e aos planos de prevenção e recuperação propostos na conduta governamental; descrédito em relação aos valores da democracia e da preservação dos direitos levando a uma alienação dos deveres civis originando uma demissão e declínio profundo de uma sociedade civil que tarda a impor-se. Valores culturais impostos por uma acessibilidade restrita (embora contrária aos meios actualmente disponíveis) promovem a cultura da superficialidade e da ilusão: neste campo, os media são responsáveis, não pelo poder da informação, mas sim pelo poder que têm em informar o que lhes convém e de contra-informar.
Acima de tudo, e fazendo jus ao nome do meu blog, penso que estamos perto de uma profunda Crise de valores culturais: em Portugal, o cultivo da mediania e o repúdio da excelência, consagrado e apoiado por uma brandura legislativa mas agressiva em termos da limitação e imposição de condicionantes da mais variada ordem fazem gerar um clima de frustração preocupante.

Muitas vezes esquecemo-nos do nosso papel no Estado, da nossa obrigação e dever (sim, eu sei que são dois termos que se conotam com algo que já não é bem visto no mundo ocidental) em preservar o bom funcionamento e liquidez da nossa civilização (evoluída ou em vias de) através de uma verdadeira acção contributiva de cidadania.
O relatório, que pode ser lido aqui, aponta para vários factores que poderão levar a uma Crise Social.
Não se fazem previsões nem se apontam datas.
Mas será que essa crise social já não terá começado?
Os especialistas não acreditam numa revolução bolchevique ou numa marcha sobre Roma com vista a destronar o Estado e todo o seu complicadíssimo universo.
Penso que estas Revoluções ou Golpes não se devem confundir, de um modo simplista, com o cenário que se tenta vislumbrar a jusante.

Entre outros factores apontados no relatório, destaco alguns aspectos que já eu falei e comentei aqui no blog:

A crise da Democracia Representativa (fim do sentido dos partidos políticos e a questionação se será este o melhor sistema político). Desde as últimas eleições presidenciais, ganhas por Cavaco Silva, assistiu-se a um fenómeno novo na História Político-Social do Portugal contemporâneo: o aparecimento e afirmação de candidaturas não alinhadas com partidos políticos e com os seus meios de apoio logístico. Manuel Alegre representa essa dissidência mas também poderemos interrogar se a sua iminente ameaça a uma segunda volta nas presidenciais de 2006 representaria mesmo um descrédito nos partidos que apoiavam os restantes candidatos. Reparemos nas autárquicas (apesar de, a meu ver, serem as eleições que melhores informações nos dão acerca da vontade soberana da sociedade) em que listas independentes (e por vezes a braços com a Justiça) levam de vencidas as máquinas partidárias legitimadas a partir de 1976.

O sentimento de insegurança e a emergente criminalidade que assola o território. A descrença total nas instituições jurisprudentes poderão fazer aumentar o sentimento e vontade de justiça popular.
É frustrante ver que os processos judiciais entram em confusões labirínticas e espirais legais, fazendo a Sociedade acreditar que o crime é que compensa e a lei protege o bandido.

Por outro lado, a comunicação social e o modo como olha para o dever e direito de informar e ser informado: a imposição de uma realidade cor-de-rosa, descabida e a escolha de manchetes baseada num mar de folclores, castelos encantados ou escândalos sexuais de importantes figuras da nossa querida sociedade de Corte.
Uma comunicação social que se exige isenta mas que, aos olhos da sociedade e de forma legalmente natural, afunila para uma macrocefalia dos grupos que a coordenam. Vejo também aqui o aproveitamento destes para utilizar e explorar a necessidade evasiva da população face ao mundo real.

O dogma da Globalização e das mudanças sociais e económicas já há muito tempo se encontra diagnosticado. Convém reflectir e, acima de tudo, aceitar que a adaptação a esta realidade está ali ao virar da esquina. O relatório termina com um apelo à integração efectiva da voz da sociedade na estruturação do futuro a médio e longo prazo, criando advertências para problemas reais que não transparecem nas revistas de cores simpáticas e garridas.
A reflectir...

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