domingo, 10 de junho de 2007

FEIRA DA AGRICULTURA EM SANTARÉM

Ontem, sábado dia 9 de Junho, fui tocar a Santarém na Feira da Agricultura.
É, sem dúvida, um autêntico happening nacional pois todo o sector primário e secundário aproveita o certame para mostrar os resultados de uma produção anual (agro-indústria, pecuária, etc.). Outras marcas, como as de tractores e alfaias mecanizadas, estão presentes. É sem dúvida um grande acontecimento ligado à agricultura (sim, aquilo que todos os dias ouvimos e lemos que está pelas ruas da amargura).
Mas como não podia deixar de ser, festa portuguesa que se preze, tem de ter as míticas barraquinhas da gastronomia: o português comum, perante a ansiedade de um dia acordar sem nada para comer, aproveita estas alturas para se encher das mais variadas e saborosas iguarias regionais.

Tendas cheias, grelhadores cá fora, muito vinho e autênticas filas de espera para arranjar um lugar em que as famílias portuguesas (desde o bebé que chora sem parar e que obriga a mãe, à frente de toda a gente, a mudar a fralda ou os meninos, já em idade pré-escolar, que andam a brincar e, por vezes, "fogem" daquele cenário levando os pais a tomarem medidas coercivas como é aquele tabefe que deixa a criança a chorar desalmadamente, a fazer birra pois não quer comer a refeição pois, se calhar, gostaria mais de se empanturrar com o algodão doce ou farturas ou gelados que, como é óbvio, se vendem nas barraquinhas destinadas ao efeito), os avós que, contrariando as ordens médicas que obrigam a uma alimentação cuidada, estoiram ali a reforma e o que resta, para os medicamentos do mês, numa glamorosa refeição bem lusitana...
MEIA-NOITE...
Sou surpreendido pelo rebentamento do primeiro foguete...AH!!! Afinal era fogo de artifício...
A meu ver, aquilo é um autêntico fogo de atrofício...
Gostava de saber qual é a piada de ficar meia-hora a olhar para o céu a ver foguetes e confettis coloridos a explodir?
O português, por tradição, adora o fogo de atrofício, ou seja, ficar pasmado a atrofiar com o barulho ensurdecedor dos foguetes...
Quantos milhares pagam balúrdios para ir passar o réveillon à Madeira pois "diz que é o melhor fogo de artifício do mundo" ?
O Verão que leva o português, à noite, a saír à rua de carro e meter-se em filas de trânsito intermináveis (fazendo lembrar as nossas cidades em hora de ponta) só para ir à Baía de Cascais olhar para o céu a atrofiar com o fogo de atrofício e, depois, ir comer o gelado e voltar para casa...
Aquelas manhãs de Domingo em que estou tranquilamente a dormir e acordo, em alerta, com os foguetes que devem querer comemorar algum santo padroeiro do calendário litúrgico...
E depois queixam-se de levar com as canas...e aparecem as notícias das barracas, que armazenam os foguetes e a pólvora, que explodem com o calor do Verão provocando inúmeros incêndios e a culpa disto tudo é do governo pois não nos dá subsídios.

Voltando a Santarém.
Continuando na senda dos grandes espectáculos, sobem ao palco as tão tradicionais e portuguesas sevilhanas. Em cerca de 1 hora e meia, as senhoras e os senhores brindaram os presentes com danças andaluzas e sensualidade latina ao som ,não de um grupo de músicos flamengos mas sim...de um cd em que, cada música acabava em fade out (!!!!!!!!!!!!) não tendo, os bailarinos, solução coreográfica para rematar tão peculiar pormenor...
Gosto de ver os portugueses a vibrarem com o espectáculo das sevilhanas. Se fosse um rancho folclórico, se calhar ninguém iria ficar, tão morosamente, a assistir.

Na minha memória, fiz um flash-back e recordei a moda da dança do ventre que assolou, há uns anos, a mulher portuguesa na sua incessante busca pela sensualidade de contornos orientais...
Mas atenção este espectáculo decorreu junto às tendinhas dos shot's e bebidas em que, cada uma, punha a música mais alto que a outra quase num desafio pela questão da masculinidade medida pelo valor do décibel... (que vislumbrei na quantidade de autorrádios com carro incorporado presentes no recinto pois "pá, o tunning é um desporto também" (!!!!)

Ao longe, no tauródromo, milhares e milhares de pessoas tomavam os seus lugares para assistirem à largada dos vitelos assustados com o fogo de atrofício. Considero mais um desafio à masculinidade portuguesa ser um rabojador e fazer uma cernelha... Pobre animal!!!!
As primeiras ambulâncias chegam...disseram-me que um herói da arena foi trespassado pelo chifre em pontas de um touro...outros foram arremessados...alguns com pernas e braços partidos...
E diz o povo " e agora não há urgências...e a culpa é do governo...e estão a ir contra as tradições...e tal, e coiso e tal..."

3 comentários:

Su disse...

Queixa-te agora...vais-me dizer que não é bom este contacto directo com a agricultura e com o latinismo-macho-labrego-pseudobeto-forcado deste nosso "Ribatexas"!!! Até chuva tiveram a abençoar a actuação!!!;)

Anónimo disse...

Cara doce e amiga Susana/ leitores deste pasquim meramente de desabafo: ADORO O RIBATEJO, Santarém está no meu coração...agora há que salvaguardar as tradições (sem dúvida) mas de forma ponderada; racional e não meramente de "fachada"...

Su disse...

Olha lá, então e tu achas que eu não concordo contigo e com toda a descrição que fizeste? Até te digo mais, para mim há "Tradições" que nem de forma ponderada deviam ser mantidas... e ainda tenho o azar de viver numa cidade que sustenta, alimenta e orgulha-se de manter "essas tradições"! Estava a ser puramente irónica no comment anterior. Bjs
P.S. - Gostei do termo "pasquim"!!!