quinta-feira, 14 de outubro de 2010

da ética no futebol

Não gosto de falar sobre futebol.
Gosto muito de futebol mas não perco muito tempo com ele.
Ao contrário do que se costuma afirmar, assumo-me como uma pessoa que considera o futebol como um fenómeno anti-social.
Apesar de parecer absurda esta minha ideia, acho que o ser-humano desperta todos os seus males e defeitos quando a conversa entra nos meandros do futebol.
Em vez de se fazer daquilo uma forma de exorcizar maus espíritos, o ser-humano transforma-se ele num hediondo espírito, roçando o ridículo e a falta de racionalidade.

Em alguns posts acerca do tema futebol, publicados anteriormente, referi o facto de, em Portugal, se dar demasiada importância ao mundo da bola.
Neste país, falar de futebol não significa falar do jogo em si mas discutir polémicas, ajuizar este, aquele e aqueloutro, como se cada um de nós fosse o pleno exemplo da virtus, da ética e da moral!

Considero que a rivalidade é positiva mas de uma forma saudável. O que em Portugal (e noutros países) não se assiste.
3 jornais desportivos diários
e mais não sei quantos outros, que têm igualmente um suplemento desportivo ,têm de ter mercado. Mais canais televisivos e radiofónicos que, para satisfazer as audiências, colocam o futebol em destaque absoluto!

Em Inglaterra, não encontramos imprensa escrita desportiva...

Tem de haver mercado para tanto futebol. Mas tem obviamente de haver notícias que justifiquem o poder que o futebol tem na nossa tão cultivada sociedade...
E por isso, as notícias têm de ser como as cerejas...


Serve este post para destacar a postura do treinador André Villas-Boas, do FC Porto.
Há umas semanas atrás, no rescaldo do encontro Guimarães-Porto, o jovem treinador dos dragões queixava-se de um lance polémico que poderia ter dado a vitória à sua equipa. Segundo Villas-Boas, o árbitro teria ajuizado mal a jogada.

Mais tarde, um painel de especialistas em arbitragem declarou, de forma unânime, o correcto juízo do árbitro Carlos Xistra.

Obviamente que o escândalo sucede quando Villas-Boas vem a público admitir o seu erro e dar razão ao árbitro. O país desportivo (às vezes custa-me encarar o futebol profissional como um desporto...) chocou-se com tão peregrina atitude de Villas-Boas!

O presidente do Benfica, Luis Filipe Vieira, no seu tom moralista e dono de uma inteligência de pneu, criticou Villas-Boas chamando-o de "idiota". Este senhor, que se assume como o paladino da verdade e moralidade desportiva, personaliza um discurso de baixo nível, passível de causar ainda piores consequências na rivalidade entre o Porto e o Benfica, que se repercutem muito para além do futebol.

Hoje, em conferência de imprensa, o treinador portista demonstrou uma clareza rara no futebol português: para além da nobre atitude de reconhecer o seu erro, Villas-Boas, quando confrontado com as calúnias de LFV e as ameaças feitas pelo presidente do Benfica de não comparecer no Dragão em caso de ataques à comitiva encarnada, respondeu de forma brilhante e inteligente: quem será mais idiota? Quem reconhece que errou ou quem está constantemente a ameaçar a não-participação numa determinada prova ou não-comparência num determinado jogo? Quem será menos inteligente? Quem reconhece, e não são poucos os que o fazem, ou quem apela à não comparência dos adeptos nos estádios?

Villas-Boas será campeão nacional este ano. E será de uma forma justa e merecida.
O FCP merece ganhar o campeonato pois tem demonstrado ser a melhor equipa.
Se os árbitros o beneficiam? E aos outros não fazem o mesmo? Quando muitos não acreditavam, vejam agora o rigor deste jovem. Por vezes, ser experiente não significa ter sucesso. Mas o que me traz aqui é a vontade de honrar a postura positiva de Villas-Boas. Demonstrou que, se quisermos, podemo-nos engrandecer de forma nobre sem perder a tal racionalidade e humanismo. Como ele disse, poucos teriam a ombridade de o fazer. Recordo Ársene Wenger (treinador do Arsenal) que, há uns anos atrás, pediu para que fosse repetido um jogo que havia ganho. Mas, após tanta suspeição e polémica em redor do desafio, pediu à Liga Inglesa para que o jogo fosse repetido para limpar todas as dúvidas.
E ganhou...

E Villas-Boas também já ganhou.

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