sábado, 3 de janeiro de 2009

a crise isto...a crise aquilo...a crise acoloutro...


Já não suporto ouvir falar da Crise! 
Este espectro viscoso tornou-se no léxico popular uma espécie de Adamastor Camoniano que ataca, de quando em vez, este país lançando sobre todos nós os seus tentáculos e ferrões venenosos derretendo o recheio das carteiras, contas bancárias e demais bens do comum cidadão. Por outro lado, face à cobertura dos vários meios de comunicação, o fantasma da crise parece-nos sempre uma ficção manhosa e típica dos filmes de terror/ficção científica de classe B!
Mas no fundo, bem lá no fundinho, esta bola de neve que cresce, e atravessou (mais uma vez) o oceano Atlântico, foi alimentada mais uma vez pela ambição grotesca e insensatez humana. Já há cerca de 80 anos o mesmo havia sucedido: agora novamente aí está ela! 
Mas, na verdade, Portugal parece-me um pouco marginal a todos estes bombardeamentos e sirenes de alerta para os tempos difíceis que "eles" lá dizem que vamos ter de papar... Será o trauma de uma crise secular, com início em 1143? Ou anterior...ou seja, quando Júlio César por aqui entrou no século I a.C e concluiu que "na Lusitânia existe um povo, que por ser tão bárbaro, não é civilizado nem quer aceitar a civilização".
Portugal habituou-se, ao longo destas quase nove centúrias, a viver sempre em crise: ou era pelas guerras com Castela, ou era pelos gastos com a expansão; ou era pelo terramoto, ou era pela falta de ouro que já não vinha do Brasil; ou era pelo vinho, ou era pelos têxteis; ou era pelos miguelistas,ou era pelos liberais; ou era pela República, ou era pelo Rei que não queria ser Rei ou então era por causa do Salazar ou era por causa dos comunas!
Na verdade esta ancestral depressão lá nos facultou uma série de anti-corpos para nos auxiliar a enfrentar tudo isto. Mais dia, menos dia, lá aparecerá nas notícias um jovem cientista português (que teve que ir estudar lá para fora pois aqui nem água bebia) que descobriu que os portugueses exibem um código genético especial para enfrentar sintomas de crise financeira e económica!
Basta recordar as semanas do Natal: movimentos frenéticos da população em busca de prendas, prendinhas e gestos de mimo que, variando conforme o preço, poderão indiciar o quanto se gosta de alguém. Juntemos a isto o curioso facto de que, em 2008, se terem batido todos os recordes no que respeita aos levantamentos de Multibanco e demais operações com cartões de crédito! No caso português, a tempestade vem sempre depois da bonanza pois já se esperava o que seria evidente: o aumento do crédito mal parado; os pedidos de ajuda à DECO de famílias sobre-endividadas e demais "Madalenas Arrependidas" do nosso querido país!
A culpa disto?
Reparte-se por muita gente.
Mas acima de tudo, penso que o português comum ajudou a criar este espectro da crise: acima de tudo vivemos numa profunda crise de valores e responsabilidade. O português não sabe o que é pensar...o português habituou-se ao improviso de exercer a sua cidadania...a assumir à risca o "orgulhosamente sós" a partir do egoísmo e da ganância de ter de meter o bico em tudo e tudo comprar lá para casa só porque o vizinho do lado também tem.   
Crise? Só se for crise de valores e de cidadania!
Resolução?
Está em cada um de nós...

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