Mas neste Sicko, Michael Moore consegue o seu melhor trabalho. Não sei se a sua intenção será essa ...mas lá impacto teve e continuará a ter... Depois da indústria do armamento e dos interesses e compadrios petrolíferos, Moore levanta o véu acerca de uma América dominada por interesses milionários no mais sagrado bem que as pessoas (ainda) vão tendo: a Saúde. E é aqui que começa a minha reflexão: como é que será possível que o país, onde o Wellfare State (Estado Providência) foi ensaiado pela 1ª vez, na década de 30, por Franklin D. Roosevelt em resposta à Grande Depressão, esteja agora a tornar a saúde dos seus cidadãos como objecto de interesses milionários? Moore dá-nos alguns testemunhos concretos. Conhecemos, ao longo do documentário, as histórias macabras de algumas pessoas que, para tratarem uma hipotética doença, tinham de vender a casa, o carro, trabalhar um dia inteiro ou então esperar que a morte os ceifasse pois não tinham capacidade para garantir um seguro de saúde que lhes oferecesse alguma dignidade em situação de doença! O realizador fica escandalizado e põe-nos de boca aberta a partir do momento que visita outras realidades distintas: o Canadá (que ficava bem ali do outro lado do rio), a Inglaterra e a França! Nota realmente que o País das Oportunidades é sem dúvida para alguns oportunistas! E mais escandaloso é o facto de o Governo compactuar com esses interesses! Neste aspecto, Moore vai um pouco atrás. Tenta um flashback ideológico em que confronta a existência e manutenção de um Serviço Nacional de Saúde (SNS) com um Serviço Particular de Saúde. Ideologicamente, Moore ridiculariza aqueles que defendem que a intervenção do Estado na definição de um Serviço de Assistência Social (Saúde, Educação, apoio e planeamento familiares) é uma medida que visa asfixiar a liberdade dos médicos em desenvolverem a sua função. Pegando nas ideias da Senadora Clinton, que defendia a criação de um SNS, Moore conta como a ex-Primeira Dama americana foi amplamente crucificada pelos republicanos, que a apelidariam de “Promotora de medidas Socialistas” e “Revitalizadora do espectro comunista”.
Nacionalização do SNS Americano? JAMAIS!
E eis que chegamos onde estamos: uma América dominada pelos interesses das seguradoras, em que um bom profissional é aquele que evita, pelo seu relatório médico, que a seguradora tenha de gastar dinheiro com tratamentos ou operações aos seus segurados. E assim conseguirá ter mais lucros! Ele, a companhia para a qual trabalha e o Governo, que tem sempre uma palavra a dizer na permissão, ou não, de luz verde para tratamentos dos cidadãos. A saúde é um bem de luxo nos Estados Unidos. É esta a imagem com que ficamos após todo este rol de relatos que, aos meus olhos, se tornam absurdos de tão ridículos mas verdadeiros! Após tudo isto, Moore atravessa o oceano Atlântico. Vai a França. Visita a Inglaterra. Depara-se com o outro lado da verdade: vê que realmente os impostos são colectados para servir a comunidade. Mas acima de tudo, ideológica e culturalmente, existe uma cultura de cidadania que respeita esse mesmo conceito: “o meu contributo, através dos Impostos, serve para ajudar os outros assim como, quando eu precisar, sei que serei ajudado”. Esta é a base de cidadania destes países que Moore veio a visitar! Fica abismado ao saber que um médico no hospital nunca recusaria ajudar um paciente só por este não ter dinheiro! Revolta-lhe o facto pois, no seu país, quem não tiver dinheiro, será banido do hospital e abandonado ao Deus dará! Por último, Moore regressa aos EUA. Pega naqueles cujas histórias de vida inspiraram este documentário e, também com o intuito de os ajudar, tenta mostrar que, ali, logo a seguir à Florida no meio das Caraíbas, o tal país terceiro-mundista da ditadura e do fantasma/papão Fidel Castro é, afinal de contas, um exemplo de cidadania e solidariedade. Primeiro, seguindo o espírito irónico que caracteriza Moore, o realizador tenta que os seus doentes/testemunhos sejam atendidos na Base de Guantánamo (prisão de luxo, com todos s cuidados ao nível de assistência médica, que alberga os terroristas que encabeçaram o 11 de Setembro e membros da Al Qaeda). Obviamente goradas as intenções, Moore chega a Havana: mostra a humanidade que está na base do SNS local, revela de que forma os povos (inimigos há 50 anos) cubano e americano se desmarcam das divergências e espectros malignos de cariz ideológico. Descobrem que os mesmos medicamentos que utilizam em solo americano, são praticamente garantidos de forma gratuita pelo Estado Totalitário e Comunista de Repressão Cubano! Realmente, veiculando entre o sarcasmo, a ironia e a compaixão, o meu pensamento sobre este retrato da sociedade americana deixou-me boquiaberto: se é verdade tudo isto, realmente, tendo estado em Paris este ano e tendo falado com gente que lá vive, vim a confirmar, por este SICKO, que tudo aquilo que Moore descobre de diferente em relação ao seu país é verdade! Pergunto-me agora: e por cá? Estará o Estado Providência com os dias contados? Já para ter uma boca saudável, temos de ter condições económicas! Se não tivermos dinheiro ou um bom seguro, arriscamo-nos a morrer à espera de sermos atendidos! Mr. Moore, eu próprio, com 10 anos, era para ser operado ao nariz e à garganta. Estou ainda hoje na fila de espera para essa operação! Não fosse o meu pai ou a minha mãe a pagarem-me uma operação na Clínica S.João de Deus, talvez hoje não tivesse fôlego para escrever estas linhas! Tenho pena que, Mr. Moore, não tivesse aproveitado a sua estadia na Europa para vir até aqui a Portugal: ver quantos hospitais e SAP’s são encerrados e quantos bebés nascem a meio do caminho ou gente que morre por naquele dia o INEM estar atrasado ou enganar-se numa rua pois não sabia que esta estava em obras. Fica o convite...
2 comentários:
Grande raça Senhor D! :)
Já não vinha aqui, tenho q assumir, desde os tempos da IB em q a Lia smp nos lia (lol) algumas linhas tuas! É bom sentir esse teu "tom de voz" que smp consegues espressar mesmo quando nao estamos concretamente a escutar-te!
Não podia concordar mais contigo... um dia partilho-te uma histórias minhas... das que me safei porque tinha cunhas e das que levei na "pá" porque era "igual aos outros"!
Beijos
Preta, Adriana
Preta, és linda! Talvez não te veja muitas vezes...aliás nunca te vejo mesmo, mas parece que, naquele jantar, era como nada disso assim o fosse... Adoro o teu dom para a conversa...sem papas na língua e acho que cada vez mais és uma GRANDE MULHER!!!!!! Valeu a pena tanto tempo depois!!! Adorei este reencontro... continua assim!!! I BEG YOU!!!
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