sábado, 17 de março de 2007

SONS DA ARCÁDIA NO MUNDO DOS IOGURTES


Por vezes, no meio de tanta monotonia e vazio de interesse, sou surpreendido por artistas (em todas as áreas) que, sem dúvida, conseguem trazer algo de positivo ao mundo; que me fazem tentar descobrir mais e levantar uma onda de interesse e fascínio que, desde há muito, não sentia.
O último disco que eu recordo a surpresa, que me viciou (sim este é o termo clínico correcto) de tal forma foi, em 1997, OK COMPUTER dos britânicos Radiohead. Um disco que eu conheci, em primeira instância, numa apresentação dos mesmos, ao vivo no Paradise Garage em Lisboa, perante uma plateia composta por poucas dezenas de pessoas, numa solarenga tarde de Verão lisboeta. Um disco que, pouco tempo depois, seria laureado pela crítica especializada como uma das grandes obras primas desde Sg. Peppers dos Beatles (1967), levando a uma euforia desenfreada no meio musical pós-Cobain.

Sem querer entrar numa espécie de materialismo da História, em que se tenta apontar, nos últimos cinquenta anos, um período de incubação para o lançamento de grandes obras musicais de dez em dez anos ( 1957: Heart Break Hotel, de Elvis, 1967: Sg. Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, 1977: Nevermind the Bollocks, Sex Pistols, 1987: The Joshua Tree dos U2 e 1997, Ok Computer dos Radiohead), ou seja, discos que mudaram a maneira como a música deve ser vista (ou não), eis que, em 2007, chega um disco que confirma um percurso delineado e aberto em 2004 com o lançamento do primeiro trabalho.

Os spotlights voltam, 50 anos depois, a cruzar o oceano Atlântico, para o continente americano mas, desta vez, para o Canadá.
Em 2004, uma banda canadiana, encabeçada por homens e mulheres, politicamente incorrecta, despertaram o marasmo musical com um trabalho notável.
"Funeral", disco de estreia dos Arcade Fire, despertou o mundo com ambientes de dor, de esperança, com instrumentalismos preciosos e lirismo sentimental. Por outro lado, a força da interpretação, da voz dorida e da conjugação do pop mais cru com roupagens sinfónicas bastante efectivas.
Depois veio o apadrinhamento dos U2 (durante a sua tourné de 2005 os irlandeses mais famosos do mundo entraram em palco ao som de "Wake Up", uma das jóias de "Funeral") e do grandioso Bowie que, numa entrega de prémios, marcou presença ao lado dos canadianos para interpretar o mesmo tema.

Apesar de meio mundo estar de antenas viradas para os canadianos, estes não se deixaram seduzir pelas luzes do estrelato: souberam manter-se na penumbra a que a sua música alude e não foram infectados pelo famoso "so...what's next"; não suscitando expectativas falsas nem novelas para consumo imediato nos media especializados.
O tão sintomático síndrome do segundo álbum não pareceu afectar os Arcade Fire.
Estes "refugiaram-se" no seu espiritualismo, procurando a redenção numa antiga igreja no Canadá para criar esse tão esperado trabalho.
Para pôr um bocado de lógica no materalismo acima apontado, em 2007, dez anos após OK COMPUTER, os canadianos lançam NEON BIBLE, que veio a confirmar aquilo que, em 2004, se fazia prever.
Longe e afastados das manobras de marketing perfeito do mundo artístico, o novo álbum dos Arcade Fire, sem apontar lógicas científicas, transporta-nos para um mundo perfilhado já desde FUNERAL: composições grandiosas, rigor na escolha da roupagem instrumental, letras de sarcasmo cortante e a preservação de uma identidade fazem com que esta banda saia fora da esfera iogurteira a que a indústria musical chegou na última década, em que um artista tem um prazo de validade determinado, num verdadeiro jogo da Glória ou da Morte.
Neon Bible é perfeito em todos os seus timbres: confirma Funeral como um disco à frente do seu tempo; cria novos espaços e novos ambientes e aponta Win Butller como uma voz que dá sentido a toda a energia expelida pelo conjunto norte-americano. Peças como "Black Mirror", "Keep the car running" e o sarcástico "Intervention" concedem a este trabalho uma qualidade irrevogável!

Se é melhor ou pior que Funeral? Não sei nem me interessa! Arcade Fire é, sem dúvida, o balão de ar fresco que, neste momento, faz a banda sonora da minha vida e, para o qual, eu convido à descoberta atenta e paciente. É bom quando assim é...

4 comentários:

Marta disse...

Eheheheh... mais um rendido aos encantos dos Arcade...

Carlão disse...

È mais que um balão de ar fresco para mim mais este album de AF é a transformação da musica a todos os níveis.São sem duvida os melhores da actualidade e eu lá estarei dia 04/07....

Anónimo disse...

Eu também sou desse clube de fãs!beijnhos
vanessa

Devir disse...

dá para entrar? eu nunca ouvi. mesmo. não ouço rádio. não vejo televisão. e não gosto de jogos prédefinidos por terceiros. Por isso, e porque este senhor me diz aquilo que disse,,, cá vai disto. Vou gastar dinheiro porque ele á coisas que ficam e outras vão como os jornais. Mais cedo ou mais tarde para o lixo.

Se não for fixe!!! Dás-me a guita chaval!!!

Áberi...