sábado, 17 de março de 2007

BIG BROTHER DA HISTÓRIA DE PORTUGAL

O programa "Os Grandes Portugueses" está a revelar-se um autêntico sucesso. Isto prova-se pela imensa participação pública e manobras de marketing (movidas pela televisão pública portuguesa) tendo em vista uma autêntica onda opinionista acerca do curso histórico português, capaz de superar a participação cívica activa em actos eleitorais.

Não quero aqui tecer comentários aos dez ilustres mais votados pela opinião pública. Apenas chamo a atenção para os limites impostos pela promoção do programa. Num país cada vez mais dilacerado pela incapacidade de perceber e entender questões de fundo, onde tudo é cada vez mais banalizado e servido numa travessa ornamentada mas sem o mínimo de sabor, os mentores do marketing para o programa limitaram a acção das figuras a um binómio: o Mal ou o Bem. Não defendo que a História é, como nas primeiras vagas autoritaristas e nacionalistas do século XX, a “estória dos feitos heróicos da Pátria”. Não defendo igualmente que a História, como ciência ou mero acto curioso, se transforme num Novo Santo Ofício, capaz de julgar, purgar ou absolver as Grandes Figuras, à luz da obra que fizeram ou testemunho que receberam ou passaram.

É cômputo geral dos historiadores da Nova História, que a evolução da Humanidade não depende apenas dessas grandes figuras que, muitas vezes, por acaso, tomam os destinos dos seus povos. O perigo de olhar para o passado com os óculos do presente( anacronismo) é, de igual forma, um acto errático. A História obedece à evolução de uma conjugação de conjunturas: o processo das próprias mentalidades e as suas diversidades que determinam a heterogénea percepção do que os rodeia; a evolução da estrutura económica; o movimento ou não da esfera social; a condicionante política; a veiculação cultural; a novidade do perfil da psicologia social.
Estes Grandes Portugueses não são estanques no tempo em que viveram. São produto/ resultado e condição do próprio processo histórico: entender Salazar, por exemplo, sem perceber a conjuntura política, económica, mental, cultural e social em que se insere a sua acção é , de toda a forma, o grande erro destes julgamentos televisivos (promovendo a construção de erros e falsas percepções). O próprio Marquês de Pombal que, para perceber a sua obra bastar-nos-á dar uma volta em redor da sua estátua na rotunda lisboeta com o seu próprio nome, é resultado da sua vivência e experiência estrangeira em contacto com o Iluminismo europeu mas inserido num século igualmente de apogeu da cultura centralista do poder.
A edificação de um Museu dedicado ao “ditador português” e ao período da História incontornável, que , sem dúvida, ainda marca bastante a actualidade nacional, é algo de meritório: o querer fechar os olhos e o querer esquecer é um acto de cobardia imenso. As pessoas devem, e têm obrigação de, perceber o Estado Novo e toda a História de Portugal não só pelos actos heróicos ou horrendos de cada uma das personagens, mas sim de uma forma construtiva, orgânica e estabelecida numa lógica de evolução das próprias sociedades.

4 comentários:

Devir disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Devir disse...

Devir disse...

Este texto tem um calibre didáctico, uma responsabilidade, uma lucidez proveniente da experiência de quem sabe do que fala porque é o que ama e faz que eu até o vou espetar no meu blog pessoAL.

Caro amigo Diuna:
Muito obrigado pelo teu pensamento e elaboração. Pelo teu trabalho!
Adorei o gatinho! É querido!
Até logo num palco perto de si!

Bem-vindo á esfera!

Devir disse...

...ficou catita u kommentáRIO...

heheheh

Devir disse...

...então? Gostaram???