O programa "Os Grandes Portugueses" está a revelar-se um autêntico sucesso. Isto prova-se pela imensa participação pública e manobras de marketing (movidas pela televisão pública portuguesa) tendo em vista uma autêntica onda opinionista acerca do curso histórico português, capaz de superar a participação cívica activa em actos eleitorais.
Não quero aqui tecer comentários aos dez ilustres mais votados pela opinião pública. Apenas chamo a atenção para os limites impostos pela promoção do programa. Num país cada vez mais dilacerado pela incapacidade de perceber e entender questões de fundo, onde tudo é cada vez mais banalizado e servido numa travessa ornamentada mas sem o mínimo de sabor, os mentores do marketing para o programa limitaram a acção das figuras a um binómio: o Mal ou o Bem. Não defendo que a História é, como nas primeiras vagas autoritaristas e nacionalistas do século XX, a “estória dos feitos heróicos da Pátria”. Não defendo igualmente que a História, como ciência ou mero acto curioso, se transforme num Novo Santo Ofício, capaz de julgar, purgar ou absolver as Grandes Figuras, à luz da obra que fizeram ou testemunho que receberam ou passaram.
É cômputo geral dos historiadores da Nova História, que a evolução da Humanidade não depende apenas dessas grandes figuras que, muitas vezes, por acaso, tomam os destinos dos seus povos. O perigo de olhar para o passado com os óculos do presente( anacronismo) é, de igual forma, um acto errático. A História obedece à evolução de uma conjugação de conjunturas: o processo das próprias mentalidades e as suas diversidades que determinam a heterogénea percepção do que os rodeia; a evolução da estrutura económica; o movimento ou não da esfera social; a condicionante política; a veiculação cultural; a novidade do perfil da psicologia social.
Estes Grandes Portugueses não são estanques no tempo em que viveram. São produto/ resultado e condição do próprio processo histórico: entender Salazar, por exemplo, sem perceber a conjuntura política, económica, mental, cultural e social em que se insere a sua acção é , de toda a forma, o grande erro destes julgamentos televisivos (promovendo a construção de erros e falsas percepções). O próprio Marquês de Pombal que, para perceber a sua obra bastar-nos-á dar uma volta em redor da sua estátua na rotunda lisboeta com o seu próprio nome, é resultado da sua vivência e experiência estrangeira em contacto com o Iluminismo europeu mas inserido num século igualmente de apogeu da cultura centralista do poder.
A edificação de um Museu dedicado ao “ditador português” e ao período da História incontornável, que , sem dúvida, ainda marca bastante a actualidade nacional, é algo de meritório: o querer fechar os olhos e o querer esquecer é um acto de cobardia imenso. As pessoas devem, e têm obrigação de, perceber o Estado Novo e toda a História de Portugal não só pelos actos heróicos ou horrendos de cada uma das personagens, mas sim de uma forma construtiva, orgânica e estabelecida numa lógica de evolução das próprias sociedades.
4 comentários:
Devir disse...
Este texto tem um calibre didáctico, uma responsabilidade, uma lucidez proveniente da experiência de quem sabe do que fala porque é o que ama e faz que eu até o vou espetar no meu blog pessoAL.
Caro amigo Diuna:
Muito obrigado pelo teu pensamento e elaboração. Pelo teu trabalho!
Adorei o gatinho! É querido!
Até logo num palco perto de si!
Bem-vindo á esfera!
...ficou catita u kommentáRIO...
heheheh
...então? Gostaram???
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