A esquerda portuguesa mostra uma vez mais a sua reponsabilidade perante o país e os eleitores que nela votam. Ou melhor: o PCP e o BE revelam, decisivamente, que não servem para mais nada senão "fazer barulho".
Com a presença do triunvirato BCE/FMI/UE em Portugal, todos os partidos do parlamento foram chamados a reunir com as referidas instituições de forma a negociarem os termos do empréstimo financeiro a Portugal e, mais importante ainda, conceptualizar o país que se quer edificar daqui para a frente.
Presos a resquícios ideológicos e bafientos de há 40 ou mais anos, PCP e Bloco de Esquerda confirmam aquilo que já se sabia: não são nem nunca serão alternativa credível e o seu contributo para a democracia, com propostas, esvazia-se na teimosia bolchevista dos politburos dos dois partidos.
Admiro Jerónimo de Sousa.
Digo isto abertamente e com sinceridade. Reconheço-o como fiel ao seu partido e ideais. Nota-se que é uma boa pessoa e que sente real vontade em lutar pela classe operária e trabalhadora representada na semiótica partidária comunista.
Quanto a Francisco Louçã, também o admiro. Reconheço-o como um excelente profissional na área das ciências económicas e, por ironia ou não, poderá ser um dos últimos economistas de esquerda à face da terra.
Mas o que me enerva é a intransigência ideológica que estes dois partidos continuam a revelar.
Após o 25 de Novembro de 1975 (data que marca a estabilização democrática e plural após a Revolução de Abril), pensou-se em extinguir o PCP, ilegalizando-o. Porém, considerou-se que o PCP, pela intrepidez com que combateu o regime salazarista, merecia de facto continuar a ser respeitado e a ter presença nas decisões políticas, de forma democrática, plural e assente numa base de apoio dada pelo sufrágio popular.
Para além de todo o simbolismo e capital inolvidável que faz do PCP um símbolo da luta contra a ditadura (e apesar de, após o 25 de Abril, o país ter estado perto de uma nova ditadura mas, desta vez, à esquerda), os seus líderes esqueceram as suas responsabilidades para com o país. Se continuam a ser apelidados como cassetes, é porque o seu discurso preserva a linha clássica da oratória política do tempo do Supremo Congresso dos Sovietes de Moscovo.
Por outro lado, Francisco Louçã envereda no trotskismo da revolução permanente: a utopia da criação de uma sociedade socialista e libertária não faz sentido nos tempos que correm.
Hoje o país está afastado da política.
Não existem líderes e é grave o facto de o PS continuar a teimar em apostar e a prestar um género de culto da personalidade a José Sócrates. Será que o partido com mais eleitores no país não teria outras alternativas?
E o discurso da esquerda mantém-se, tal qual como há 37 anos: PCP e Bloco acusam o PS de estar do lado da direita reacionária que acabou de aterrar na Portela para lançar os tentáculos capitalistas sob o país.
E é sob a égide ideológica que cristaliza esta esquerda portuguesa que o país se vê atarrancado.
PCP e Bloco tinham obrigação em apresentar as propostas em sede de negociação.
Não chega dizer que não concordam com a presença da troika. Esperava-se outra atitude alternativa.
Pelo menos aqueles que neles votam assim o esperavam.
Mas não.
Os tempos do PREC parecem não ter ainda terminado e a esperança no fim do capitalismo permanece viva nestes sonhadores de vermelho.
E por isso, é urgente que o PCP e o Bloco se sentem à mesa...com o PS.
É necessário, sabendo que nunca serão governo, que apresentem aos socialistas os chamados mínimos que permitirão uma estabilidade governativa à esquerda.
As próximas eleições de 5 de Junho apresentam vários cenários. Uns mais, outros menos realizáveis. Ou teremos uma maioria absoluta monopartidária, situação que se julga impensável. Ou teremos uma vitória do PSD que irá pedir ao CDS ajuda para compor o ramalhete.
Mas, caso de uma nova vitória minoritária do PS, a estabilidade não será possível. A não ser se for através de um entendimento entre Passos e Sócrates, cenário improvável dada a enormidade do umbigo de cada um deles.
E é aqui que a tal magistratura activa do Professor Cavaco Silva poderia entrar, chamando a S.Bento um governo por si composto de ampla maioria inter-partidária. Mas Cavaco não é parvo pois sabe que o entendimento seria impossível. Um novo Bloco Central seria nesta altura explosivo.
Enquanto que à direita o entendimento será possível, à esquerda o PCP não perdoará a histórica cisão de Mário Soares em 1975, quando este decide afastar-se do PCP devido à linha programática de um extremismo que conduziria Portugal para a satelização a Moscovo. Para o PCP, o PS será sempre um lobo em pele de cordeiro, um partido que caiu nos deleites do capitalismo.
E é nesta roupa suja cuja nódoa tende a não sair que o país vai evoluindo. Ou não.
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