segunda-feira, 9 de maio de 2011

portugal e o futuro no dia da europa

José Sócrates é hoje arrasado na edição do Financial Times.
Na origem deste caso está a forma cor-de-rosa com que o (ainda) Primeiro-Ministro anunciou o acordo recentemente feito com a tão falada troika.
Na opinião de Wolfgang Münchau, colunista do prestigiado jornal britânico, o pacote de assistência financeira ao nosso país revela tudo menos padrões primaveris: cortes cegos em pensões, congelamento de salários na função pública, agravamento desmedido da carga fiscal. 
As consequências serão terríveis pois não se vislumbra neste acordo um horizonte de crescimento económico para o país.

O FMI continua a revelar o mesmo menu: cortes, privatizar e retirar apoios sociais. A instituição, criada em 1944 de forma a evitar uma nova Grande Depressão, continua a agir de forma intocável e impune.
Este pacote de assistência financeira (que muitos continuam a apelidar de "ajuda") tem tudo menos espírito franciscano.
Acredito que, num país civilizado e organizado, estes programas financeiros poderiam resultar. Mas, em Portugal, colocarei as minhas dúvidas...

Importante terá sido o apelo de Cavaco Silva na comunicação feita recentemente ao país: a sociedade terá de mudar os seus hábitos. Se o Estado tem papel de relevo na situação a que chegámos, menos culpa não terá a sociedade civil: despesismo e satisfação em consumir aquilo que não é estritamente necessário. A sociedade da chiclete, consumista e gerada por padrões e níveis de consumo, atingiu a ruptura. 

Para isto, o Presidente da República fala no consumo de produtos portugueses, ao invés de consumir o que é feito lá fora.
A pergunta é esta: como poderemos nós concorrer contra economias que crescem baseadas na atroz exploração laboral (factor determinante para a entrada de produtos a preços que arrasam qualquer concorrência)?

Outra questão: ao abrigo das leis comunitárias, Portugal não poderá elaborar uma pauta aduaneira (de contornos quase mercantilistas) que defenda o que cá se faz. Se estamos na UE (e se a ideia da UE é cooperação e livre-concorrência), como será isto possível?

Por último, bem sei que a competitividade deverá nascer nas empresas. Mas quem será o louco que se aventura no mercado português, sob o risco de destroçar por completo o pouco que vai ainda tendo? E sabendo que os mecanismos de crédito estão travados...

Este é o problema.

Fomos mal orientados? Claro que sim!
Mas tivemos as hipóteses de melhorar a competitividade da economia? Claro que sim...
Mas as opções foram outras: novo riquismo, betão, expos e estádios de futebol fizeram desta ancestral nação um autêntico jardim zoológico de elefantes brancos.

Como estaremos em 2013?
Não acredito que estejamos melhor. É necessária uma revolução das mentalidades como pré-requisito para mudar todo o resto. E é aqui que nos compete agir.

Comemora-se hoje o Dia da Europa.
No dia 9 de Maio de 1950, Robert Schuman (um dos pais fundadores da ideia comunitária da Europa) dava a conhecer a sua ideia para o futuro de uma Europa acabada de sair de um terrível período de guerra.
Nesta declaração (Declaração Schuman,que ficou conhecida como a pedra basilar da futura CEE), o ministro francês fala de uma prosperidade económica como fundamental para a prosperidade política e social. Se a Europa quer viver em paz, terá de unir todos os países em torno dos seus interesses comuns. A competitividade deverá ser vista, não como uma ameaça, mas como uma oportunidade.
Desde há sessenta e um anos que a Europa tenta aprofundar esta ideia de cooperação e integração comunitárias.
Este é o dia em que se deve reflectir acerca do que foram estas seis décadas e qual o futuro da Europa. E logo numa altura em que a ideia da Europa Unida está perante tantos perigos: a instabilidade da moeda única (sob o hiperterrorismo especulativo do dólar americano), a tendência para a revogação de certos pilares e acordos (Espaço Schengen), fortalecimento da extrema-direita nacionalista e crítica à integração cultural e perda das soberanias.
E acima de tudo, a Europa está em perigo pois não age em comum. Os umbigos dos países centrais (e fundadores) falam cada vez mais alto.

Gostava de acreditar numa Europa. Mas infelizmente não vejo bom futuro. Se a História tem ciclos, caminhamos rapidamente para o fechar de um desses mesmos ciclos. Não quero acreditar numa nova guerra. Os tempos são outros.
Mas por vezes as guerras são, infelizmente, necessárias para purgar o que está mal.
A reflectir hoje e sempre...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

circular à esquerda em portugal

A esquerda portuguesa mostra uma vez mais a sua reponsabilidade perante o país e os eleitores que nela votam. Ou melhor: o PCP e o BE revelam, decisivamente, que não servem para mais nada senão "fazer barulho".

Com a presença do triunvirato BCE/FMI/UE em Portugal, todos os partidos do parlamento foram chamados a reunir com as referidas instituições de forma a negociarem os termos do empréstimo financeiro a Portugal e, mais importante ainda, conceptualizar o país que se quer edificar daqui para a frente.
Presos a resquícios ideológicos e bafientos de há 40 ou mais anos, PCP e Bloco de Esquerda confirmam aquilo que já se sabia: não são nem nunca serão alternativa credível e o seu contributo para a democracia, com propostas, esvazia-se na teimosia bolchevista dos politburos dos dois partidos.

Admiro Jerónimo de Sousa.
Digo isto abertamente e com sinceridade. Reconheço-o como fiel ao seu partido e ideais. Nota-se que é uma boa pessoa e que sente real vontade em lutar pela classe operária e trabalhadora representada na semiótica partidária comunista.

Quanto a Francisco Louçã, também o admiro. Reconheço-o como um excelente profissional na área das ciências económicas e, por ironia ou não, poderá ser um dos últimos economistas de esquerda à face da terra.
Mas o que me enerva é a intransigência ideológica que estes dois partidos continuam a revelar.

Após o 25 de Novembro de 1975 (data que marca a estabilização democrática e plural após a Revolução de Abril), pensou-se em extinguir o PCP, ilegalizando-o. Porém, considerou-se que o PCP, pela intrepidez com que combateu o regime salazarista, merecia de facto continuar a ser respeitado e a ter presença nas decisões políticas, de forma democrática, plural e assente numa base de apoio dada pelo sufrágio popular.

Para além de todo o simbolismo e capital inolvidável que faz do PCP um símbolo da luta contra a ditadura (e apesar de, após o 25 de Abril, o país ter estado perto de uma nova ditadura mas, desta vez, à esquerda), os seus líderes esqueceram as suas responsabilidades para com o país. Se continuam a ser apelidados como cassetes, é porque o seu discurso preserva a linha clássica da oratória política do tempo do Supremo Congresso dos Sovietes de Moscovo.

Por outro lado, Francisco Louçã envereda no trotskismo da revolução permanente: a utopia da criação de uma sociedade socialista e libertária não faz sentido nos tempos que correm.

Hoje o país está afastado da política.
Não existem líderes e é grave o facto de o PS continuar a teimar em apostar e a prestar um género de culto da personalidade a José Sócrates. Será que o partido com mais eleitores no país não teria outras alternativas?
E o discurso da esquerda mantém-se, tal qual como há 37 anos: PCP e Bloco acusam o PS de estar do lado da direita reacionária que acabou de aterrar na Portela para lançar os tentáculos capitalistas sob o país.
E é sob a égide ideológica que cristaliza esta esquerda portuguesa que o país se vê atarrancado.
PCP e Bloco tinham obrigação em apresentar as propostas em sede de negociação.
Não chega dizer que não concordam com a presença da troika. Esperava-se outra atitude alternativa.
Pelo menos aqueles que neles votam assim o esperavam.
Mas não.
Os tempos do PREC parecem não ter ainda terminado e a esperança no fim do capitalismo permanece viva nestes sonhadores de vermelho.

E por isso, é urgente que o PCP e o Bloco se sentem à mesa...com o PS.
É necessário, sabendo que nunca serão governo, que apresentem aos socialistas os chamados mínimos que permitirão uma estabilidade governativa à esquerda.
As próximas eleições de 5 de Junho apresentam vários cenários. Uns mais, outros menos realizáveis. Ou teremos uma maioria absoluta monopartidária, situação que se julga impensável. Ou teremos uma vitória do PSD que irá pedir ao CDS ajuda para compor o ramalhete.
Mas, caso de uma nova vitória minoritária do PS, a estabilidade não será possível. A não ser se for através de um entendimento entre Passos e Sócrates, cenário improvável dada a enormidade do umbigo de cada um deles.

E é aqui que a tal magistratura activa do Professor Cavaco Silva poderia entrar, chamando a S.Bento um governo por si composto de ampla maioria inter-partidária. Mas Cavaco não é parvo pois sabe que o entendimento seria impossível. Um novo Bloco Central seria nesta altura explosivo.

Enquanto que à direita o entendimento será possível, à esquerda o PCP não perdoará a histórica cisão de Mário Soares em 1975, quando este decide afastar-se do PCP devido à linha programática de um extremismo que conduziria Portugal para a satelização a Moscovo. Para o PCP, o PS será sempre um lobo em pele de cordeiro, um partido que caiu nos deleites do capitalismo.
E é nesta roupa suja cuja nódoa tende a não sair que o país vai evoluindo. Ou não.