José Sócrates é hoje arrasado na edição do Financial Times.
Na origem deste caso está a forma cor-de-rosa com que o (ainda) Primeiro-Ministro anunciou o acordo recentemente feito com a tão falada troika.
Na opinião de Wolfgang Münchau, colunista do prestigiado jornal britânico, o pacote de assistência financeira ao nosso país revela tudo menos padrões primaveris: cortes cegos em pensões, congelamento de salários na função pública, agravamento desmedido da carga fiscal.
As consequências serão terríveis pois não se vislumbra neste acordo um horizonte de crescimento económico para o país.
O FMI continua a revelar o mesmo menu: cortes, privatizar e retirar apoios sociais. A instituição, criada em 1944 de forma a evitar uma nova Grande Depressão, continua a agir de forma intocável e impune.
Este pacote de assistência financeira (que muitos continuam a apelidar de "ajuda") tem tudo menos espírito franciscano.
Acredito que, num país civilizado e organizado, estes programas financeiros poderiam resultar. Mas, em Portugal, colocarei as minhas dúvidas...
Importante terá sido o apelo de Cavaco Silva na comunicação feita recentemente ao país: a sociedade terá de mudar os seus hábitos. Se o Estado tem papel de relevo na situação a que chegámos, menos culpa não terá a sociedade civil: despesismo e satisfação em consumir aquilo que não é estritamente necessário. A sociedade da chiclete, consumista e gerada por padrões e níveis de consumo, atingiu a ruptura.
Para isto, o Presidente da República fala no consumo de produtos portugueses, ao invés de consumir o que é feito lá fora.
A pergunta é esta: como poderemos nós concorrer contra economias que crescem baseadas na atroz exploração laboral (factor determinante para a entrada de produtos a preços que arrasam qualquer concorrência)?
Outra questão: ao abrigo das leis comunitárias, Portugal não poderá elaborar uma pauta aduaneira (de contornos quase mercantilistas) que defenda o que cá se faz. Se estamos na UE (e se a ideia da UE é cooperação e livre-concorrência), como será isto possível?
Por último, bem sei que a competitividade deverá nascer nas empresas. Mas quem será o louco que se aventura no mercado português, sob o risco de destroçar por completo o pouco que vai ainda tendo? E sabendo que os mecanismos de crédito estão travados...
Este é o problema.
Fomos mal orientados? Claro que sim!
Mas tivemos as hipóteses de melhorar a competitividade da economia? Claro que sim...
Mas as opções foram outras: novo riquismo, betão, expos e estádios de futebol fizeram desta ancestral nação um autêntico jardim zoológico de elefantes brancos.
Como estaremos em 2013?
Não acredito que estejamos melhor. É necessária uma revolução das mentalidades como pré-requisito para mudar todo o resto. E é aqui que nos compete agir.
Comemora-se hoje o Dia da Europa.
No dia 9 de Maio de 1950, Robert Schuman (um dos pais fundadores da ideia comunitária da Europa) dava a conhecer a sua ideia para o futuro de uma Europa acabada de sair de um terrível período de guerra.
Nesta declaração (Declaração Schuman,que ficou conhecida como a pedra basilar da futura CEE), o ministro francês fala de uma prosperidade económica como fundamental para a prosperidade política e social. Se a Europa quer viver em paz, terá de unir todos os países em torno dos seus interesses comuns. A competitividade deverá ser vista, não como uma ameaça, mas como uma oportunidade.
Desde há sessenta e um anos que a Europa tenta aprofundar esta ideia de cooperação e integração comunitárias.
Este é o dia em que se deve reflectir acerca do que foram estas seis décadas e qual o futuro da Europa. E logo numa altura em que a ideia da Europa Unida está perante tantos perigos: a instabilidade da moeda única (sob o hiperterrorismo especulativo do dólar americano), a tendência para a revogação de certos pilares e acordos (Espaço Schengen), fortalecimento da extrema-direita nacionalista e crítica à integração cultural e perda das soberanias.
E acima de tudo, a Europa está em perigo pois não age em comum. Os umbigos dos países centrais (e fundadores) falam cada vez mais alto.
Gostava de acreditar numa Europa. Mas infelizmente não vejo bom futuro. Se a História tem ciclos, caminhamos rapidamente para o fechar de um desses mesmos ciclos. Não quero acreditar numa nova guerra. Os tempos são outros.
Mas por vezes as guerras são, infelizmente, necessárias para purgar o que está mal.
A reflectir hoje e sempre...