À hora que escrevo este post faltam ainda cerca de 3 horas para que este dia 5 de Outubro termine.
Até à meia-noite aguardo com palpintante expectativa uma verdadeira comemoração do feito histórico que hoje se comemora de forma engalanada por todo este país: espero por um verdadeiro acto revolucionário que traga, no seu seio, uma nova esperança para Portugal.
Bem...
Acho que as minhas expectativas sairão goradas...
A ver...
O sistema republicano está falido desde a sua génese. Não desaprovo a filosofia republicana e os ideais que congrega.
Nada disso!
Por mais demagógica que pareça, a ideologia republicana sintetizou todas as correntes progressistas de transformação da sociedade que, desde meados do século XVIII, se insurgiam contra as arbitrariedades de um sistema político fundamentado numa nivelação da sociedade que, segundo a matriz católica, Deus concebera como equilibrada e justa.
Durante muito tempo as sociedades ocidentais se organizaram desta maneira: à maneira dos antigos reis visigóticos, o elo de uma tribo era garantido pela figura do patriarca filho-homem do defunto patriarca. A sociedade, concebida por Deus, era organizada entre aqueles que tratavam da salvação da alma, os que tratavam da defesa e do combate e os que a sustentavam. Era a chamada sociedade estratificada de Ordens Sociais!
Esta era a tríade que, no tempo dos iluministas, era criticada.
A República defende a causa pública. Procura nivelar as assimetrias sociais. Dar voz a quem não a tem. Construir uma maior justiça, deitando por terra os dogmas, superstições e moralidades que, desde a formação do mundo ocidental, dominavam naturalmente as sociedades. O rei era o paladino da autoridade de Deus na Terra que apenas devia ao papa as justificações.
As revoluções dos séculos XVIII e XIX materializaram aquilo que o Iluminismo teorizou: a Luz triunfante da Racionalidade sob a Treva moribunda do dogma!
Falou-se de uma nova forma de organizar a sociedade: estabeleceu-se a contratualidade do vínculo político que deverá, acima de tudo, trabalhar para o interesse da maioria.
Revisitaram-se os clássicos da Antiguidade Grega e Romana: a democracia e a representação senatorial como bandeira intransponível da vontade popular.
O povo aprendia o significado de iguladade, liberdade e fraternidade. Palavras tão fortes que sopraram pelo mundo inteiro, deitando por terra todas as "Bastilhas" que por aí circundavam.
Em Portugal, a ideia da Liberdade Política só no século XIX fora testada.
Os ecos dos vendavais que sopravam de França, aliados à própria conjuntura política portuguesa de inícios do século XIX, funcionaram de forma a instigar em Portugal (abandonado pelo Rei à sorte dos Exércitos Napoleónicos e aos compadrios ingleses) na esperança de mudar.
Nessa época ninguém em Portugal falava na República.
Pelas mentes brilhantes dessas épocas, vários pensadores, homens da Ciência e artistas sonhavam com a utopia da fraternidade universal. O século XIX trouxe a ideia de lutar por essa causa entregando, se necessário fosse, a própria vida.
Era a época da liberdade!
A palavra é de uma potência enorme:de que liberdade se falaria então?
Os republicanos, nascidos das convulsões intelectuais dos séculos XVIII e XIX, fizeram sua esta palavra.
Acredita-se que, durante a Revolução de 1820 (a primeira experiância liberal em Portugal que culminaria com a formulação da primeira constituição), muitos eram os deputados das Cortes Extraordinárias Constituintes do Reino que defendiam o fim da Monarquia. Este radicalismo vintista duraria muito pouco.
Com a contra-revolução de D.Miguel, a guerra civil e a outorga da Carta Constitucional de D.Pedro (que defenderia um consenso entre os liberais e os conservadores na vida política portuguesa, reabilitando a figura do Rei como moderador institucional, travando o radicalismo de 1820-22), a Monarquia Absoluta daria lugar à Monarquia Constitucional. O poder era repartido e separado. O rei deixava de ser o detentor arbitrário dos três poderes fundamentais (legislativo, executivo e judicial) e passava a estar comprometido com a Lei Fundamental (N.R Carta Constitucional).
Só com a crise económica e financeira de finais do século XIX e o agravamento das condições de vida das massas populares é que podemos falar de um Partido de ideias republicanas em Portugal.
O Republicanismo em Portugal beneficiou, para além dos factores atrás mencionados, da desonra do papel que Portugal teria na diplomacia externa: a crise do Ultimatum Inglês foi aproveitada por estes para caluniar a figura da Monarquia. Afonso Costa (um dos cabecilhas do Directório Republicano que, em finais do século XIX, se fundou em Portugal) assume críticas constantes à Monarquia como principal responsável por toda a situação a que o país chegou.
A República foi proclamada há 100 anos.
100 anos depois, o que é que mudou?
Vale a pena comemorar a República?
Liberdade e República passaram a ser palavras gémeas. O positivismo e a frieza do racionalismo oitocentista impuseram-se ao dogmatismo, à tradição, ao conservadorismo. Os primeiros republicanos decretaram, ao separar o Estado da Igreja, a necessidade de renegar o "antigo". O "antigo" e a "tardição" foram vistas como entraves ao progresso social.
100 anos depois, o quadro conjuntural em Portugal oferece claras linhas comparativas e simétricas: crise financeira, economia falida, dependência de capitais externos, desilusão, desigualdade e crise social.
Já não temos os ingleses a dizerem "ou fazem assim, ou então..." mas temos os senhores das agências financeiras, do FMI e do bunker de Bruxelas a proclamarem, diariamente, "ultimatos" a Portugal. Não temos o Rei D.Carlos a comprar iates mas temos outros a comprarem submarinos e BMW's topo de gama, dando um real exemplo de como se deve ser austero.
O rotativismo político, que se observava em finais do século XIX/inícios do XX entre os progressistas e os regeneradores, foi substituído por uma outra espécie de rotatividade político-partidária (que, no fundo, é exactamente a mesma coisa): os socialistas e os sociais-democratas.
Logo após o triunfo republicano, a República caía por terra. A unidade ideológica do Partido Republicano dá lugar a divergências entre as mais elevadas patentes.
Perseguem-se padres e proibem-se os toques dos sinos nas igrejas. A lei da greve só vem agravar a frágil coesão nacional.
45 governos e oito presidentes da República.
A economia não cresce. Antes pelo contrário...
A participação portuguesa na 1ª Guerra Mundial só viria a acentuar as dificuldades. Atentados, guerras civis entre os monárquicos e republicanos, guerras civis entre os próprios republicanos...
A República merece ser comemorada?
Fala-se da República como alvorada dos ideais da liberdade, do progresso, da justiça social: em matéria de instrução pública, foi durante a Monarquia Constitucional que se lançaram os grandes passos com vista à edificação da Escola Pública: a aposta do Setembrismo de Passos Manuel numa instrução ao nível do ensino primário, politécnico e profissional de forma a preparar a população para os grandes desafios socioeconómicos.
Liberdade? Foi com o ministério de Sá da Bandeira que a escravatura foi abolida em definitivo. Em pleno reinado de D.Maria II!
Progresso social?
Foi a partir da Regeneração que se institui um programa que dava atenção à educação das crianças, defendendo o papel da mãe na sociedade. A "Cartilha Maternal", de João de Deus, é ainda hoje leitura obrigatória nas escolas de Educação!
A participação portuguesa na Grande Guerra vinha de encontro à postura colonialista republicana: defesa dos nossos interesses coloniais em África. Foi só o Estado Novo o período áureo do colonialismo?
Não pretendo fazer aqui uma elegia à Monarquia nem deitar abaixo a República.
Nestes 100 anos, várias foram as revoltas, as mudanças, as permanências...etc!
No essencial pouco mudou.
Hoje Portugal encara exactamente os mesmos problemas que há 100 anos enfrentava.
Apenas, hoje em dia esses problemas inflacionam-se diariamente.
Estes ditos republicanos esqueceram os seus ideais e bandeiras de guerra: Portugal está à beira do colapso e, de uma maneira tão tipicamente portuguesa, aguardamos por um "Messias" que, sozinho, marque os golos que nos faltam (e que são muitos...).
A Monarquia continua hoje a existir: olhe-se para a nossa vizinha. Olhemos para a Escandinávia, Holanda, etc...
Terá sido a mudança de regime aquilo que nos faltava? A Monarquia ligava-nos como país. Dava-nos uma certa coesão e identidade.
É melhor estar calado pois, nos tempos que correm, estas palavras continuam a ter uma carga pejorativa enorme: uma pessoa não deve ter memória pois isso é tradicionalismo e o tradicionalismo condiciona o progresso.
Bom isto já vai longo...
Parece que afinal de contas não houve qualquer revolução...o país dos brandos costumes está no mesmo marasmo de sempre...
Deixo-vos aqui este SENHOR: merece ser escutado com bastante atenção!
Até à meia-noite aguardo com palpintante expectativa uma verdadeira comemoração do feito histórico que hoje se comemora de forma engalanada por todo este país: espero por um verdadeiro acto revolucionário que traga, no seu seio, uma nova esperança para Portugal.
Bem...
Acho que as minhas expectativas sairão goradas...
A ver...
O sistema republicano está falido desde a sua génese. Não desaprovo a filosofia republicana e os ideais que congrega.
Nada disso!
Por mais demagógica que pareça, a ideologia republicana sintetizou todas as correntes progressistas de transformação da sociedade que, desde meados do século XVIII, se insurgiam contra as arbitrariedades de um sistema político fundamentado numa nivelação da sociedade que, segundo a matriz católica, Deus concebera como equilibrada e justa.
Durante muito tempo as sociedades ocidentais se organizaram desta maneira: à maneira dos antigos reis visigóticos, o elo de uma tribo era garantido pela figura do patriarca filho-homem do defunto patriarca. A sociedade, concebida por Deus, era organizada entre aqueles que tratavam da salvação da alma, os que tratavam da defesa e do combate e os que a sustentavam. Era a chamada sociedade estratificada de Ordens Sociais!
Esta era a tríade que, no tempo dos iluministas, era criticada.
A República defende a causa pública. Procura nivelar as assimetrias sociais. Dar voz a quem não a tem. Construir uma maior justiça, deitando por terra os dogmas, superstições e moralidades que, desde a formação do mundo ocidental, dominavam naturalmente as sociedades. O rei era o paladino da autoridade de Deus na Terra que apenas devia ao papa as justificações.
As revoluções dos séculos XVIII e XIX materializaram aquilo que o Iluminismo teorizou: a Luz triunfante da Racionalidade sob a Treva moribunda do dogma!
Falou-se de uma nova forma de organizar a sociedade: estabeleceu-se a contratualidade do vínculo político que deverá, acima de tudo, trabalhar para o interesse da maioria.
Revisitaram-se os clássicos da Antiguidade Grega e Romana: a democracia e a representação senatorial como bandeira intransponível da vontade popular.
O povo aprendia o significado de iguladade, liberdade e fraternidade. Palavras tão fortes que sopraram pelo mundo inteiro, deitando por terra todas as "Bastilhas" que por aí circundavam.
Em Portugal, a ideia da Liberdade Política só no século XIX fora testada.
Os ecos dos vendavais que sopravam de França, aliados à própria conjuntura política portuguesa de inícios do século XIX, funcionaram de forma a instigar em Portugal (abandonado pelo Rei à sorte dos Exércitos Napoleónicos e aos compadrios ingleses) na esperança de mudar.
Nessa época ninguém em Portugal falava na República.
Pelas mentes brilhantes dessas épocas, vários pensadores, homens da Ciência e artistas sonhavam com a utopia da fraternidade universal. O século XIX trouxe a ideia de lutar por essa causa entregando, se necessário fosse, a própria vida.
Era a época da liberdade!
A palavra é de uma potência enorme:de que liberdade se falaria então?
Os republicanos, nascidos das convulsões intelectuais dos séculos XVIII e XIX, fizeram sua esta palavra.
Acredita-se que, durante a Revolução de 1820 (a primeira experiância liberal em Portugal que culminaria com a formulação da primeira constituição), muitos eram os deputados das Cortes Extraordinárias Constituintes do Reino que defendiam o fim da Monarquia. Este radicalismo vintista duraria muito pouco.
Com a contra-revolução de D.Miguel, a guerra civil e a outorga da Carta Constitucional de D.Pedro (que defenderia um consenso entre os liberais e os conservadores na vida política portuguesa, reabilitando a figura do Rei como moderador institucional, travando o radicalismo de 1820-22), a Monarquia Absoluta daria lugar à Monarquia Constitucional. O poder era repartido e separado. O rei deixava de ser o detentor arbitrário dos três poderes fundamentais (legislativo, executivo e judicial) e passava a estar comprometido com a Lei Fundamental (N.R Carta Constitucional).
Só com a crise económica e financeira de finais do século XIX e o agravamento das condições de vida das massas populares é que podemos falar de um Partido de ideias republicanas em Portugal.
O Republicanismo em Portugal beneficiou, para além dos factores atrás mencionados, da desonra do papel que Portugal teria na diplomacia externa: a crise do Ultimatum Inglês foi aproveitada por estes para caluniar a figura da Monarquia. Afonso Costa (um dos cabecilhas do Directório Republicano que, em finais do século XIX, se fundou em Portugal) assume críticas constantes à Monarquia como principal responsável por toda a situação a que o país chegou.
A República foi proclamada há 100 anos.
100 anos depois, o que é que mudou?
Vale a pena comemorar a República?
Liberdade e República passaram a ser palavras gémeas. O positivismo e a frieza do racionalismo oitocentista impuseram-se ao dogmatismo, à tradição, ao conservadorismo. Os primeiros republicanos decretaram, ao separar o Estado da Igreja, a necessidade de renegar o "antigo". O "antigo" e a "tardição" foram vistas como entraves ao progresso social.
100 anos depois, o quadro conjuntural em Portugal oferece claras linhas comparativas e simétricas: crise financeira, economia falida, dependência de capitais externos, desilusão, desigualdade e crise social.
Já não temos os ingleses a dizerem "ou fazem assim, ou então..." mas temos os senhores das agências financeiras, do FMI e do bunker de Bruxelas a proclamarem, diariamente, "ultimatos" a Portugal. Não temos o Rei D.Carlos a comprar iates mas temos outros a comprarem submarinos e BMW's topo de gama, dando um real exemplo de como se deve ser austero.
O rotativismo político, que se observava em finais do século XIX/inícios do XX entre os progressistas e os regeneradores, foi substituído por uma outra espécie de rotatividade político-partidária (que, no fundo, é exactamente a mesma coisa): os socialistas e os sociais-democratas.
Logo após o triunfo republicano, a República caía por terra. A unidade ideológica do Partido Republicano dá lugar a divergências entre as mais elevadas patentes.
Perseguem-se padres e proibem-se os toques dos sinos nas igrejas. A lei da greve só vem agravar a frágil coesão nacional.
45 governos e oito presidentes da República.
A economia não cresce. Antes pelo contrário...
A participação portuguesa na 1ª Guerra Mundial só viria a acentuar as dificuldades. Atentados, guerras civis entre os monárquicos e republicanos, guerras civis entre os próprios republicanos...
A República merece ser comemorada?
Fala-se da República como alvorada dos ideais da liberdade, do progresso, da justiça social: em matéria de instrução pública, foi durante a Monarquia Constitucional que se lançaram os grandes passos com vista à edificação da Escola Pública: a aposta do Setembrismo de Passos Manuel numa instrução ao nível do ensino primário, politécnico e profissional de forma a preparar a população para os grandes desafios socioeconómicos.
Liberdade? Foi com o ministério de Sá da Bandeira que a escravatura foi abolida em definitivo. Em pleno reinado de D.Maria II!
Progresso social?
Foi a partir da Regeneração que se institui um programa que dava atenção à educação das crianças, defendendo o papel da mãe na sociedade. A "Cartilha Maternal", de João de Deus, é ainda hoje leitura obrigatória nas escolas de Educação!
A participação portuguesa na Grande Guerra vinha de encontro à postura colonialista republicana: defesa dos nossos interesses coloniais em África. Foi só o Estado Novo o período áureo do colonialismo?
Não pretendo fazer aqui uma elegia à Monarquia nem deitar abaixo a República.
Nestes 100 anos, várias foram as revoltas, as mudanças, as permanências...etc!
No essencial pouco mudou.
Hoje Portugal encara exactamente os mesmos problemas que há 100 anos enfrentava.
Apenas, hoje em dia esses problemas inflacionam-se diariamente.
Estes ditos republicanos esqueceram os seus ideais e bandeiras de guerra: Portugal está à beira do colapso e, de uma maneira tão tipicamente portuguesa, aguardamos por um "Messias" que, sozinho, marque os golos que nos faltam (e que são muitos...).
A Monarquia continua hoje a existir: olhe-se para a nossa vizinha. Olhemos para a Escandinávia, Holanda, etc...
Terá sido a mudança de regime aquilo que nos faltava? A Monarquia ligava-nos como país. Dava-nos uma certa coesão e identidade.
É melhor estar calado pois, nos tempos que correm, estas palavras continuam a ter uma carga pejorativa enorme: uma pessoa não deve ter memória pois isso é tradicionalismo e o tradicionalismo condiciona o progresso.
Bom isto já vai longo...
Parece que afinal de contas não houve qualquer revolução...o país dos brandos costumes está no mesmo marasmo de sempre...
Deixo-vos aqui este SENHOR: merece ser escutado com bastante atenção!
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