A minha infância e pré-adolescência conviveu de forma permanente com o espectro fantasmagórico da Guerra Nuclear: os anos 80 ironizaram muito a sério a ameaça através de uma massificação de filmes e músicas apelando ao desarmamento mútuo, tanto da Rússia Soviética, como dos Estados Unidos. Quando o Muro de Berlim cedeu, o mundo respirou fundo. Acabava-se a ameaça comunista...dali a pouco tempo, levantava-se a ameaça terrorista.
Obviamente que os americanos sempre se auto-proclamaram como os bonzinhos da fita: guardiães dos valores da Paz e da Justiça, os EUA sempre adoraram super-heróis justiceiros. À falta de personagens históricas...
Para isso, o que dizer de um Rambo ou de um Chuck Norris ou de um 007 cujos vilões se enquadravam sempre nos mais recônditos e macabros quadros do, até então apelidado, bloco de leste?
A seguir à 2ª Guerra Mundial, lá fomos seduzidos pelo espírito americano do consumismo, dos valores efémeros da abundância. Lá no país deles, ameaçavam-se criancinhas com o comunista que estaria debaixo da cama para as devorar no caso de se recusarem a comer a sopa toda (a versão americana de "O Papão").
Mas o Papão é actualmente real. A Coreia do Norte nunca conseguiu digerir muito bem os resultados do armistício de Panjumon, que ditou o limbo em que resultou o primeiro conflito à séria após a IIGM. A Guerra na Coreia, em 1950, opôs, não directamente americanos e russos, mas sim ideologias pró-americanas e pró-moscovitas/maoistas. Sob perigo de se estender a Cortina de Ferro Vermelha a Oriente (em tão importante ponto geoestratégico como é a península da Coreia), americanos e ingleses lá decidem investir esforços para evitar o alastramento do Comunismo nessa latitude. Sem querer se intrometer directamente, Moscovo actua com mãos de veludo: na altura ainda com óptimas relações diplomáticas com a China maoista, os russos decidiram apoiar logisticamente os exércitos norte-coreanos e chineses. O impasse duraria três anos. Em 1953, lá se decidiu estabelecer, sob o paralelo 38, a fronteira entre uma Coreia progressita e capitalista, ocidentalizada, e uma outra Coreia, a norte, sovietizada. Mas a digestão nunca foi bem feita. Hoje em dia, Pyongyang evoluiu no sentido do totalitarismo. À boa maneira estalinista, Kim Jong-il, líder do governo norte-coreano, adora fazer desfilar armamento para se envaidecer perante o Ocidente logo ali do outro lado do Pacífico. O desejo de um territorialismo na península coreana faz o Sul abanar com receio. Os americanos, receosos de um possível envolvimento da China, hesitam numa intervenção. Pyongyang fez explodir mais duas bombas atómicas no sub-solo. Fetiche ou não do líder norte-coreano (diz-se que adora coboiádas à americana), o certo é que, por cada resolução que Nações Unidas emitem, Kim Jong-il mantém-se e, de quando em vez, lá faz ver ao Ocidente que ali continua de pedra e cal.
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