Muito se tem dito acerca das recentes presidenciais americanas. De todos os quadrantes sociais, nos mais variados palanques culturais, do mais ao menos esclarecido cidadão, ao mais rico até ao mais incógnito dos mortais, todos se pronunciaram em relação a esta corrida à Casa Branca.
Afinal de contas, e para bem ou mal dos nossos pecados, as eleições americanas são as mais importantes! E afirmo mesmo que são mais importantes que qualquer uma das eleições em Portugal, sejam elas legislativas, autárquicas ou presidenciais (nem falo das europeias pois confesso que estas pouco dizem à média da população portuguesa, revelando o preocupante distanciamento face às presentes instituições que nos administram).
Desde sondagens, à actualização de blogs e espaços informativos diversos onde os discursos e programas de cada um dos candidatos eram, quase ao minuto, ajustados conforme as tendências, estas eleições americanas trouxeram acima de tudo (e não sendo novidade) alguns aspectos característicos da sociedade americana:
- A preocupação pela forma e não pelo conteúdo: à boa maneira dos clássicos oradores das assembleias atenienses e senadores romanos, os debates entre candidatos teriam de garantir um elevado grau de eloquência, de forma a convencer o eleitorado. Sem nunca revelar com frontalidade as distinções ideológicas, os então candidatos preferiram salpicar o bolo com açúcar e chocolate de forma a adoçar os sentidos. Mas raramente explicaram de onde é que aquele açúcar vem, ou que consequências terá na saúde de quem o consumir.
- O show off americano: é escandaloso a despesa verificada durante as campanhas. De facto, a cultura de Hollywood chega à política. É a guerra do Marketing, da Publicidade e quem ganha é quem souber garantir os melhores profissionais no sector!
- No fim da campanha, e face ao desespero das últimas sondagens, as manobras de bastidores e as tentativas de golpes palacianos entre os candidatos, numa lógica de "mandar abaixo" e nunca de confrontar, de forma construtiva, as ideias fundamentais.
- O apreço americano pelos super-heróis: o percurso de McCain como militar que sofreu no Vietname; que é visto como um herói pelas não sei quantas quedas de avião, enquanto militar e, ao mesmo tempo, McCain como protagonista de séries teen americanas em que desempenha o papel do rebelde aluno que nunca gostou de estudar, preferindo andar a fazer-se às garotas! Se repararmos, já Bush se havia vangloriado por confessar que o último livro que havia lido tinha sido ainda na escola, e por obrigação!!!
Obama venceu. E ainda bem!
Algo mudou nos Estados Unidos. Não falo nas crises climáticas, nem na crise económica nem nas frentes militares do Afeganistão ou Iraque...
Falo sim de uma nova visão da sociedade. Esta é a América de hoje! E a verdadeira América não é branca nem negra! É a súmula de todos os que nos últimos 300 e tal anos ajudaram a erguer aquele país! Qual é o verdadeiro americano? Esse só poderia ser o pele-vermelha que, muito antes de o homem branco ou negro lá andar, já caçava bisontes e andava a dançar com o martelo em redor das fogueiras e com pinturas e penas na cabeça!
Será esta eleição o princípio de uma nova América? Uns Estados Unidos, que guerrearam entre si devido a visões acerca do papel do negro e do branco na sociedade, serão uns Estados Unidos unânimes no reconhecimento deste novo presidente?
Muitos já antevêem um destino similar a Lincoln ou Kennedy...
O que interessa aqui, agora e neste momento, é começar a vislumbrar as mexidas no xadrez dos interesses que são tão obscuros na esfera política americana: ver se, realmente, algo irá mudar. Tenho as minhas dúvidas...
Acima de tudo, as eleições americanas foram uma lição para nós, portugueses, de como é que podemos mudar as coisas. Os americanos deram ao mundo uma lição democrática, mesmo que o desfecho fosse outro.
P.S: por pouco cheguei a temer, no caso de uma vitória de McCain, a eleição de Sarah Palin para vice-presidente. Era um retorno de 1000 anos no tempo...
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