Acabadinho de ler (após tão longo interregno justificado pelo início de mais um ano lectivo) o blog de Pacheco Pereira, reparo que o ilustre social-democrata anda chateado, à séria, com o nosso Primeiro Ministro.
Primeiro, Pacheco Pereira acusa, mais uma vez, Sócrates de ser, ideologicamente, um verdadeiro camaleão por conveniência.
Numa semana marcada pela reentré política (após tão enfadonha pré-época balnear em que o Mercado de transferências pouco ou nada suscitou), Sócrates inaugura a sua campanha rumo a novo mandato acusando a esquerda tradicional e a mais progressista (vulgo, PCP e BE, respectivamente) de estar desenquadrada, em pleno século XXI.
Pacheco Pereira vai mais longe ainda quando cria um monstro (qual Frankenstein da Mary Shelley!) composto por um 50/50 entre Louçã e o dirigente socialista! Ou seja, José Sócrates sem identidade? Ou então Sócrates de identidade duvidosa? Já dizia o filósofo que, curiosamente, tinha o mesmo nome do nosso querido PM, “nem ateniense, nem espartano mas sim um cidadão do mundo”… Ou seja, nem esquerda nem direita…nem muito ao centro pois poderei marrar contra uma árvore…
Questionamo-nos muito hoje acerca da viabilidade em persistir esse dogma da divisão ideologica: terá nexo? O mundo mudou mas ela não voltou pois, na minha opinião…. não é que o barbudo do Marx tinha mesmo razão??
A esquerda ideologica, aquela que se põe sempre ao lado dos coitadinhos e oprimidos da sociedade, nasce como consequência óbvia das mudanças na sociedade recém industrializada.
A partir do momento em que, na prática, a sociedade reparou que o seu papel já estava condicionado a partir do momento em que uma máquina faz o trabalho que, anteriormente, dez homens faziam, com isto nascem os movimentos de apoio ao operário da indústria: reclamando direito à dignidade social, protecção e apoio, apontando o dedo aos abusos dos barões detentores do capital; a burguesia. Por outro lado, outros, baseando-se no mérito legítimo e individualista liberal, consideraram que o homem, pelo seu empenho, tem direito a decidir por si sem ter que obedecer a um Estado centralista que deveria manter-se no laisser faire… temendo apenas a Deus!
Está aqui a origem da esquerda e da direita.
Será que ainda hoje tudo o que são políticas sociais progressistas poderão agruprar-se na esquerda? E tudo o que defende a libertação total do indivíduo através do seu mérito individual, de ideias apontadas como conservadoras e dentro da moral e bom costume, está a par com a direita?
Por falar em Marx: o Capitalismo tem destas coisas.
Para haver ricos, Aristóteles (se fosse vivo…) respondia logo que teriam de existir os pobres. Logo (segundo a Lógica Aristotélica e Vulcana de um Mr.Spok) a igualdade social não tem lógica.
Em 1929 foi que foi: crise total do sistema capitalista!
Voltou-se a pedir a intervenção do Estado! Em finais do século XX, o Estado já não tem capacidade para assegurar o seu papel social e regulador…há que dar de volta os mecanismos económicos de auto-regulação… os gestores e administradores privados cada vez ganham mais…os servos cada vez menos… o lucro, esse, é todo ele privado… em tempo de crise, essa, já é pública… Ou seja, a crise financeira provocada pela insolvência dos mecanismos de crédito bancário, em que poucos geraram tanto para si, rebentou pelas costuras. O crédito mal parado atingiu níveis nunca vistos. O capitalismo neo-liberal (o tal que nos anos 80 reclamava a retirada imediata do Estado como regulador da Economia) é o culpado por isto: se pensarmos que o apelo ao consumo, ao despesismo e ao endividamento exponencial geraram toda esta situação apenas na ânsia de gerar cada vez mais; a partir do momento em que a banca já não tem capacidade de usar dinheiro próprio tendo ela mesma de recorrer a capitais estrangeiros…isto está mesmo mal!
Em Portugal, criou-se a ideia de que o Crédito era um terceiro milagre de Fátima: que todo o português tem de ser um senhor terra-tenente, comprando a sua casa e o seu carro…tendo acesso a todo o consumismo…mas esqueceram-se que não dá para tudo! O problema em Portugal é que, para além do Euro ter inflacionado os preços, os salários nunca acompanharam a oferta e o acesso à cada vez maior abundância de bens: o problema é que queremos tudo e esquecemo-nos que isto não estica…
E até os bancos estão a sofrer com esta falta de liquidez no crédito! Já se empresta dinheiro que o banco terá de pagar a outrém e, por isso, o dinheiro fica mais caro…Se fica mais caro, os juros sobem e a Taxa Euribor ressente-se…o oprimido tadinho da esquerda progressista é que sofre… e lá aparece o Senhor Trichet na TV a lamentar tudo isto...
A Administração Bush quis financiar uma crise de privados através da injecção de capitais públicos: acham justo? Se os lucros são para poucos, os prejuízos já são para todos…
Mudando de assunto.
O governo PS quer rever o sistema eleitoral para os emigrantes. Pacheco Pereira considera isto como um acto de cobardia da esfera governativa pois a principal alteração tem a ver com a forma como os emigrantes votam: se antigamente o voto por correspondência tinha valor, tendo em conta as, por vezes, dificuldades ou impossibilidades das pessoas portuguesas no estrangeiro dirigirem-se a uma assembleia de voto (geralmente no Consulado ou Embaixada), Sócrates considera então que o emigrante terá de se dirigir pessoalmente para o exercício do seu dever/direito cívico...
Se tivermos em conta que, por tradição, a maioria dos votos dos emigrantes são votos que favorecem o PSD...
Na minha análise, tendo em conta muitas vezes se afirmar que o verdadeiro português, que sente o país é aquele que está lá fora, acham que (se for mesmo português à séria) o emigrante vai sair de casa ou privar-se de ir para um centro comercial (num país em que já tem dinheiro) ao fim de semana para ir, por exemplo, de Nantes a Paris para votar?
Só para terminar a politiquice: a discussão acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo (gays, lésbicas, bichonas, transformistas e todo e qualquer tipo de híbrido). Não está na agenda do PS. O BE suscita a discussão. O PCP apoia-se para fazer barulho! O CDS benze-se com água benta e o PSD considera isso um atentado à moral e aos bons valores da família (instituição fundamental que deve ser preservada). Onde é que está aqui a esquerda ou a direita de Sócrates?
Sinceramente, não me faz qualquer tipo de espécie estes casamentos: que sejam felizes, que cumpram os seus deveres e tenham direito à igualdade perante a Lei! Agora não venham é exigir ao Estado subsídios para operações cirúrgicas para alterar o sexo!
Em relação à adopção de crianças: para além dos caos (mais um!) que em Portugal se tem de viver para dar uma família a uma criança, considero que ainda a sociedade portuguesa não está, mentalmente, preparada para isto: imaginem um miúdo na escola e a professora de Inglês ao perguntar-lhe o nome da mãe, o menino responde "My mother's name is António"!!!!!
Por último, uma homenagem. Richard Wright, teclista dos lendários Pink Floyd, faleceu. Se alguma vez teria pensado que ainda iria vê-los em palco (com o Roger Waters, claro), tenho a certeza que, agora, é que essas esperanças se foram...
Ahhhh.... este post não foi escrito num Magalhães!
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