Srs. Espanhóis,
Venho por este meio prestar sinceras desculpas pelos séculos de rebeldia e inconformismo que este meu povinho sempre mostrou face à vossa vontade de agregar este pequeno rectângulo da orla atlântica no vosso território.
Perdoem-me, em nome de muitos que começam a ter igual sentimento, os Afonsos Henriques, as Padeiras, os Braganças e todos aqueles que, por lapso ou mera falta de visão, se mostraram sempre contrários a que a nós nos chamassem espanhóis também.
Hoje, a esta distância, vejo que sempre que estes movimentos de autonomia territorial eclodiam, em que víamos sempre nisso uma profunda ameaça à nossa cultura, língua, história e portugalidade, reparo que vós, espanhóis, mantêm, ainda hoje, dentro da vossa integridade territorial, diferentes culturas, línguas, histórias e “tantas espanhas”.
Mas a diferença, queridos espanhóis, é que esses sentimentos nunca nos encheram a barriga. Recordo Júlio César, na sua “Crónica da Conquista das Gálias”, quando disse que “na Lusitânia, existe um povo, que de tão bárbaro que é, não se quer civilizar”…
E isto, queridos espanhóis, nunca ninguém terá dito tão valorosa e magnânima verdade em relação a esta pequenina tribo.
Quase nove séculos depois, em que estabilizámos, em Alcanizes, as mais antigas fronteiras, reivindicámos soberanias, independências e afins, continuamos na cepa torta, como o célebre imperador romano profetizava…
Uma tribo em que ninguém se entende…uma tribo com chefes gordos, traidores e que vivem à sombra de pequenas quezílias e historietas de vergonhosos golpes palacianos….
Uma tribo que nem o mar, que nos abriu novas portas, soube usar …
Uma tribo em que nem um terramoto que, quase miraculosamente, deitou tudo abaixo em sinal de urgente reconversão soube, de igual forma, aproveitar…
E nisso fizemos palácios com o ouro brasileiro, fomos luxuriosos pois os demais países também o eram e assim o queríamos ser…mas não olhámos para a realidade…os nossos governantes fugiram para o Brasil…mantivemo-nos na indecisão quanto ao futuro da nossa tribo por meras noveletas de portuguesice pura…depois não quisemos reis nem rainhas mas sim chefes que eram eleitos…e ninguém se continuava a entender…até que um senhor professor de Coimbra, lá chegou e nos travou aqui durante 40 anos…até que um cravo de um tanque de guerra foi disparado…e lá nos continuámos a debater e a debater…e vocês, queridos espanhóis, enquanto os cães, ao vosso lado, ladravam, a vossa caravana passava…
E eu sei, queridos espanhóis, que também vocês sofreram uma guerra civil entre irmãos, também viram na Europa o futuro…sei que um catalão não é um castelhano e que um basco é um basco e um galego não é um andaluz.
Eu sei.
E porque não um português ser como eles são, queridos hermanos?
Invejo-vos na vossa essência pragmática…no êxito anual de verem a vossa terra e tribo em constante progresso enquanto nós, aqueles que sempre vos recusaram por mero nacional-parolismo, definham neste sentimento nacionalista que, a meu ver queridos espanhóis, não faz qualquer sentido.
Será que é perconceito por nos chamarem espanhóis?
Cá por mim, façamos então a tão propalada união ibérica…juntemos a nossa variedade…fiquem com a nossa soberania e mandem daqui embora todos estes inúteis que, todos os dias, a todas as horas e por esta e todas as razões, nos vão ao bolso retirar tudo o que podem e dizem ter direito…venham para cá e garantam uma boa gestão de todos os recursos que aqui existem ou poderiam existir (sim, sim...o Cristiano Ronaldo também seria de todos nós)…como eu vos invejo…decidam de uma vez por todas onde é que este maldito aeroporto irá ficar e onde é que o TGV chegará pois assim será mais fácil ir daqui embora…daqui desta terra de OTArios!!!!!!!!!!
Por isso, queridos espanhóis, peço que nos perdoem, pelo menos da parte que me toca…
3 comentários:
Sem dúvida, o melhor texto deste blog. Não desfazendo da qualidade da escrita de todos os outros...mas este post está simplesmente: BRILHANTE! Em tudo. Assino e "re-assino" por baixo de tudo o que escreveste...e a completar este fabuloso pensamento, a imagem está genial. A sério, Parabéns por este feliz apontamento sobre esta nossa condição existencial - ser português, nascer e viver em Portugal! Bjs
P.s. - É que até o campeonato de futebol era mais interessante, mais alargado...;)
sim , deve ser a única coisa de jeito q este país tem ...a seleção nacional...
estou contigo... união ibérica já!
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