segunda-feira, 21 de setembro de 2015

memória: quem a tem?

Em 1956, a Hungria vivia um dos seus períodos históricos mais conturbados.
Na sequência do processo de desestalinização, promovido pelo então novo líder soviético Nikita Kruschtchev, que subira ao poder após a morte de José Estaline, o ano de 1956 ficaria marcado por tumultos em Budapeste levados a cabo no sentido de democratizar o regime político e de liberalizar as práticas religiosas e culturais num país ocupado, desde finais da 2ª Guerra Mundial, pela União Soviética (URSS) e satelitizado no contexto da divisão ideológica do mundo da Guerra Fria. A Hungria era um dos países "reféns" da famosa "cortina de ferro" pela toda-a-poderosa Rússia comunista.
Milhares de húngaros (e não só...) tentaram abandonar o leste (alguns conseguiriam), usando Berlim como porta de entrada numa vida mais esperançosa e digna. Receando a má imagem que as vagas migratórias de populações do leste para o ocidente teria nas idiossincrasias do regime de Moscovo, a linha dura/ortodoxa do Partido Comunista da URSS pressiona o líder Kruschtchev para que o Exército Vermelho entrasse em Budapeste, pondo fim aos "perigosos" desvios ideológicos para com a nomenclatura soviética.
Em 1961, e na senda de diversas crises diplomáticas entre Washington e Moscovo relativas ao estatuto de Berlim, Kruschtchev ordena o encerramento da última ponte de diálogo entre os dois blocos antagónicos: o Muro de Berlim estancou as vagas migratórias de gente desesperada e impaciente por fugir da opressão soviética. Durante 28 anos,  a fronteira de arame, betão, minas e torres de vigia simbolizou a opressão e a divisão de uma Europa dividida pela esquizofrenia de uma Guerra Improvável, Paz Impossível.
Muitos conseguiram atravessa-lo. Outros tantos tentaram. Mas muitos também acabariam por ali ficar. Muitos eram húngaros e sabem bem o que representa o flagelo da falta de liberdades fundamentais. Ou deveriam saber.


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Cidades-fantasma na China

Incrível o documentário que acabei de assistir no programa 60 minutos da SIC Notícias!
Não nos apercebemos mas, não tarda, voltaremos a assistir a uma nova bolha de especulação imobiliária, desta feita, na República Popular da China.
Nos últimos anos o mercado imobiliário foi visto pelos analistas financeiros como o principal motor propulsor da economia do gigante asiático.
Construiu-se e voltou-se a construir, com base numa especulativa ideia de que o mercado da aquisição de propriedades era o melhor investimento. Resultado? Bom, imaginem cidades à escala chinesa (com capacidade para um milhão de habitantes) inabitadas, em zonas remotas e vazias a lembrar as cidades-fantasma do Velho Oeste dos tempos da garimpagem.
O que é mais curioso é o facto dessas habitações (cerca de um milhão de habitações e serviços) estarem todas vendidas! A bolha especulativa, alimentada pela crença no dinamismo do mercado imobiliário chinês, está neste momento a pairar como uma negra nuvem que, mais tarde ou mais cedo, fará as primeiras vítimas. 
É incrível o que se construiu! Mercado de luxo em que, de forma a atrair compradores, se afixaram falsos placards anunciando lojas de marcas como a Starbucks, Apple, Dolce & Gabana, entre outras, como forma de atrair compradores.
Estas cidades, como é o caso de Kangbashi na Mongólia, foram a resposta que o Estado chinês deu, em 2008, ao alastramento da crise financeira mundial. Assim, e dentro da lógica do capitalismo de  Estado (doutrina política económica levada a cabo pelas autoridades chinesas desde os tempos do pós-maoismo), tentou-se combater a crise económica através do incentivo ao mercado de habitação - convém recordar que a bolha especulativa se iniciou com as previsões da Moody's (sim, esses...) ao afirmarem que, até 2020, metade da população chinesa habitaria em cidades modernas, construídas do zero...sob direção central por parte do Estado chinês.
Estas cidades fantasmas não foram feitas para todos, tão pouco para uma classe média pois essa é praticamente inexistente. 
Numa China politicamente defensora de um socialismo de mercado (ou de um capitalismo de estado), as classes mais altas são as únicas que podem adquirir estas fantasmagóricas e vazias casas que compõem estes desertos de betão. Para os restantes (e que são a maioria), resta-lhes continuar a profanar o que resta das suas antigas casas, demolidas para que se pudesse construir estes elefantes brancos com olhos em bico, para habitar numa rude e desumana barraca.


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